Capitulo 4

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Já se passava um mês desde o aniversário de Valentina e mais uma vez sua dama de companhia lhe trazia uma mensagem, dessa vez do Príncipe Guilhermo Martin. No último mês, tanto Guilhermo quanto Felipo haviam mandado seguidas mensagens, mas o tom delas certamente eram diferentes. Felipo escrevia mensagens divertidas, cheias de rimas engraçadas que sempre provocavam risos em Valentina, já Guilhermo...

- Alteza... - sua Dama de Companhia, que jazia parada a porta enquanto Valentia caminhava pelo quarto lendo a mensagem, interrompeu-lhe os pensamentos. - O mensageiro está aguardando uma resposta e me disse que o Príncipe exigiu que não voltasse sem uma mensagem de vossa alteza.

Valentina caminhou até a penteadeira, pegou a pena e um papel e postou-se a escrever uma resposta.

- Só isso, Alteza? - A dama perguntou diante da rapidez com que Valentina acabara sua mensagem. - Uma resposta tão curta para uma mensagem tão longa?

- Eu estou respondendo apenas por compaixão ao pobre mensageiro, para que ele não retorne sem ter cumprido a ordem que lhe foi dada. - Respondeu Valentina em tom tranquilo e suave. - Não hei de querer que o pobre homem seja castigado por tão pouco.

A dama de companhia lhe sorriu quando Valentina lhe entregou a mensagem, ameaçou dizer mais alguma coisa, porém limitou-se a fazer uma mesura e se retirar.

Valentina esperou a dama de companhia sair e caminhou até a sacada, precisava de ar, precisava colocar o coração no lugar. Aquele último mês cheio de mensagens charmosas e sedutoras de Guilhermo havia mexido com ela e ela não estava disposta a permitir que tal fato continuasse.

Valentina aproximou a mão do rosto e sentiu o aroma em seus dedos. As mensagens de Guilhermo sempre traziam esse aroma, uma mistura inusitada de canela e almiscar, completamente masculino, o mesmo aroma que sentira em Guilhermo quando dançaram em seu aniversário. Um aroma que penetrava em suas narinas e lhe tomava o corpo, que acelerava seu coração e lhe fazia bambas as pernas.

- Não! - A voz de Valentina ecoou pelo espaço a sua frente. - Não... - repetiu agora no seu tom habitual. - Eu tenho um caminho e nada irá me desviar dele. Nada nem ninguém. - Terminou a frase com uma respiração forte e profunda, como quem se coloca em prumo.

Valentina retornou ao quarto decidida a tirar Guilhermo de seus pensamentos, mas as palavras da mensagem que ele enviara teimavam em retornar a sua mente.

"Valentina, insisto por que tenho certeza que sentiste o mesmo que eu no seu baile. Se assim não fosse não estarias fugindo de mim, afinal somos primos, crescemos juntos, não seria inconveniente sermos vistos em um passeio pelos jardins do castelo. Me deixe encontrá-la. Vamos conversar como sempre fazíamos. Deixe-nos ter uma daqueles inacabáveis discussões filosóficas que sempre adoramos. Me deixe estar perto de você. Me deixe conhecer essa nova Valentina, a futura Rainha de Artena. Me deixe conhecer a mulher que você se tornou. E se deixe me conhecer.

Meus sonhos são todos seus.

Meu coração se arrebata ao simples ouvir do seu nome.

Não me afaste.

Sei que não me enganei.

Seu primo, amigo e admirador,

Guilhermo Martin"

Ela não queria magoá-lo, mas não podia ser diferente, não podia deixá-lo se aproximar, se longe ele já estava lhe causando transtornos.... não, ela não o deixaria se aproximar. Um sorriso triste surgiu em seus lábios quando pensou na resposta que enviara, fria, direta, sem emoção.

"Sinto muito, acho que estamos em momentos diferentes.

Valentina."

E o que ela realmente queria dizer era sim, o que ela realmente queria era encontrar com ele e entender a confusão interna que ele gerava nela. Extrapolou sua frustração num jarro de bronze que encontrava-se na cômoda ao lado de sua cama, com um movimento de cabeça o fez explodir contra a parede de pedra de seu quarto.

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora