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Ayslin
03 de março de 2017
Sexta-feira
Claro que a Bia trouxe um pedaço de lasanha para mim. Que por sinal é bem generoso.
— Até parece que minha mãe esqueceria de você. — Bia me entrega a vasilha, com um sorriso estampado no rosto.
— Oba! Minha janta está garantida.
Coloco a vasilha na mochila, antes de voltar para o trabalho.
Chego bem a tempo de conseguir lavar os pratos, antes que Pablo encha a pia mais uma vez de copos, talheres e taças de sorvete. Gosto de espaço, e infelizmente é o que menos tenho naquela pia.
Faço o possível para soar como se não me importasse, e o esforço é exaustivo. Queria que o tempo passasse o mais rápido possível para ver Victor logo, e tirar todas as minhas dúvidas de uma vez por todas. Estou com raiva por estar presa naquele restaurante, sendo que eu poderia estar em casa descobrindo uma maneira de adiantar as coisas para conversar mais cedo com Victor. Então, naquele segundo, fantasio sobre o cigarro de um cliente que fuma na calçada, com o fogo se propagando nas cortinas, obrigando todos a deixarem o recinto. E imediatamente, sinto-me culpada. Afinal, eu não preciso me transformar em uma maníaca, ou maluca, para que as coisas aconteçam da maneira certa.
Suspiro.
Bia está limpando uma mesa, e me encara, como se pudesse enxergar meus pensamentos. Em seguida, vejo que olha para o Senhor Alcides. Ele me fita com seus grandes olhos azuis, prestes a me triturar a qualquer momento. A boca de Pablo começa a abrir e fechar como a de um peixe. O barulho do restaurante diminui, como se alguém tivesse diminuído o volume de alguma trilha sonora.
Particularmente, eu não sei o que me segura aqui. E nem os motivos do Senhor Alcides me manter empregada nesse lugar. Tudo bem que eu sou uma funcionária que não falta, não chego atrasada, muito menos reclamo do meu salário. Mas, eu admito que meu humor, ou meu mau humor, incomoda qualquer um que convive comigo. Mesmo que eu não reclame com palavras. Toda a minha insatisfação fica arquivada em meus pensamentos, em meu coração, em meus sentimentos. Mas tenho certeza que todos percebem o desapontamento na minha cara.
Meu dia segue tranquilo, com o Senhor Alcides olhando pouco para mim, já que eu consigo manter meu trabalho estável, com minha feição tranquila. Pelo menos eu tento manter.
— Conseguiu descobrir algo? — Bia pergunta em um sussurro, praticamente dando piscadas tolas para mim. — Você parece mais calma hoje.
Começo a tentar me manter tranquila, como sempre, mas alguma coisa na expressão de Bia acende a memória. Lembro-me de que logo vou para casa. Tenho cinco perguntas para fazer ao Victor, em apenas sessenta segundos e que aquilo me deixa nervosa.
— Só pareço. — Coloco um prato no escorredor de louças. Ela continua com aquela expressão, vejo com o canto do olho, e após um segundo viro e digo. — Estou prestes a descobrir tudo.
— O quê? — Agora ela parece completamente espantada. Definitivamente, uma melhora.
Tenho de sussurrar, pois o Senhor Alcides está olhando para nós. Mesmo enquanto passa o cartão de crédito de um cliente.
— Eu já sei que tenho sessenta segundos para falar com o garoto e que ele aparece todas as noites às oito horas em ponto.
— E o que vai fazer? — Ela franze o rosto de modo que seus olhos quase desaparecem.
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Conectado com você
Teen FictionSinopse : Conectado com você O que você faria se tivesse a chance de rever a sua família, mesmo que eles tivessem mortos há cinco anos? A jovem Ayslin, aos 23 anos, costuma dividir seu tempo entre o trabalho entediante em um restaurante e o curso de...