Capítulo 9

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Ayslin

05 de março de 2017

Domingo

Domingo é o dia mais cheio no restaurante. E toda semana é assim. Não parei um minuto sequer e de certa forma, foi bom pois distraí um pouco os pensamentos, tirando o foco do que eu pretendo fazer naquela noite. Hoje é o dia em que lavamos todo o salão depois das quatro da tarde. Noto a mudança do tempo e as árvores começam a se mexer com o vento. Lembro-me de que minha sombrinha ainda está no tanque, desde aquele dia da chuva forte, e que provavelmente hoje eu irei me molhar.

Assim que terminamos a faxina no restaurante, nos despedimos do Senhor Alcides, Pablo e Bruno na porta, eu e Bia seguimos para casa com passos apertados, sabendo que a qualquer momento a chuva poderá nos pegar no meio do caminho.

— Isso é uma alucinação? — Bia pergunta, assim que viramos a esquina. — O Senhor Alcides está de bom humor?

Eu rio.

— Deve ter achado dinheiro na rua. — Digo. Bia aperta o passo ao meu lado, já que o vento agora está ainda mais forte.

— Ou alguém deu dinheiro a mais para ele quando pagou a conta. — Ela zomba.

— E nem para dividir com a gente? — Brinquei. — Velho mão-de-vaca. Pensa que vai levar para o caixão quando morrer.

— A mulher dele vai torrar tudo com roupas bregas e batons rosa-choque da MAC.

E começamos a rir como duas malucas no meio daquele vendaval de verão.

— Vai ser uma chuva e tanto. — Ela agora grita, enquanto apressa mais o passo. — E vamos nos ferrar.

E rimos mais um pouco.

— E aí? — Bia fica um pouco mais séria agora. Meu sorriso também morre aos poucos enquanto seu cabelo loiro balança com o vento, bagunçando cada vez mais. O meu não deve estar tão diferente assim, mas nada daquilo me incomoda. — Já descobriu alguma coisa? Sobre o garoto misterioso e a brincadeira sem graça na internet?

— Não exatamente. — Uma das coisas que prometi para mim mesma é não deixar a minha amiga preocupada com esse assunto. Pelo menos até eu conseguir alguma reposta concreta. Bia só acredita no que é real e, se eu não puder provar, é melhor não dizer nada.

— Então, o que vai fazer? — Ela olha para mim, paramos alguns segundos antes de atravessarmos a rua depois que o carro passa. — Tem que fazer alguma coisa, Ayslin. Pensei que já tivesse alguma resposta para me dar.

— É muito rápido meu tempo com ele, Bia. Um minuto voa, sabia? — ajeito a mochila nas costas. — Mas de hoje não passa. Vou descobrir se esse garoto está brincando comigo ou não.

Ela ergue as sobrancelhas.

Começo a falar sem pensar sobre o que quero dizer antes de fazê-lo, mas depois percebo que é verdade.

— Eu vou exigir provas de que tudo o que ele me disse é verdade. E se eu perceber algum deslize, esse garoto não perde por esperar.

Bia sorri levemente assim que paramos na esquina do meu prédio, com um dos cantos da boca subindo.

— Bem, se precisar de mim para acabar com esse garoto, me ligue. — Ela me abraça rapidamente. — Tenho certeza que vai dar tudo certo. Ai, meu Deus, vou me molhar toda. — Ela grita.

Os primeiros pingos de chuva caem sobre nós e Bia sai correndo, antes mesmo que eu possa oferecer a minha casa para ela esperar, até a chuva passar.

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