Capitulo Um: Rosa negra

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A respiração de Celeste, e o farfalhar das folhas, eram as únicas coisas que quebravam o silêncio ensurdecedor que aquele bosque transmitia. O gelo cobria todos os caminhos entre as árvores e todo o chão visível. Tudo que iluminava o lugar era a luz da lua, que deixara tudo mais azulado.

― Olá? ―A voz de Celeste ecoou, em um chamado, sem respostas.

No centro da floresta havia um lugar descampado, sem árvores, ou qualquer planta rasteira. A neve tinha um tom avermelhado, de um vermelho-vivo, e no centro deste vazio uma rosa negra, mais negra que o escuro. Os passos da garota agora se tornavam calmo. Hesitante ela seguia ao encontro da flor. Ao segura-la nas mãos, a escuridão saíra de suas pétalas e tomava conta de tudo. Apagando até mesmo a luz do luar. Tudo que ela conseguia sentir era um cheiro de morte que impregnava tudo. Desesperada, ela gritava. Desesperada, despertou com sua mãe chamando-a pelo nome.

― O que se passa? ― Perguntara Miriam, sua mãe, com um semblante preocupado e assustado pelos gritos.

― Só um sonho ruim. Tudo bem. ­― Respondia com rapidez, uma resposta decorada, que fora dita todos os dias nas últimas duas semanas.

Sua mãe a olhou desconfiada.

― Não se preocupa, está bem? Pesadelos. Todo mundo tem.

― Não é como sonhos ruins que estou preocupada. Está estranha há duas semanas. Quero a garota que maratona séries comigo, não a que passa horas dentro do quarto e grita durante a noite. ­Você sabe que pode falar comigo, não é? ― Pergunta Miriam, tentando encontrar o olhar de sua filha, que parecia pensativo. O mesmo das duas semanas que se passou.

― Sei. Tudo bem. "Vikings" amanhã, depois da escola? ―Dizia a filha, animada.

―Claro! Vai chamar a Divina para ver conosco? ― Havia malícia na voz de sua mãe.

―Ela é minha amiga! ―Respondeu Celeste, com o mesmo tom de resposta decorada.

― Eu não disse que não era. ― Miriam sorrir, antes de ser atacada por uma almoçada arremessada. ― Chego do trabalho às 4pm.

― Está bem. Boa noite mãe!

­― Boa noite, filha. Mamãe te ama. ― Soou irônico. Não por ela não a amava, mas porque havia dito para invocar a forma antiquada que não a pertencia.

― Eu estou em outro pesadelo, não é? ― Celeste questiona, sabendo que sua mãe não demonstra afeto com essas palavras.

Ela ouviu o sorriso de sua mãe e logo o barulho da porta fechando-se. Seu semblante tornou-se sério. O sonho a preocupava. Tomou, por segundos, o celular em mãos, havia algumas mensagens de boa noite, que ela responderia amanhã. Pôs o celular de volta ao criado-mudo, virou-se e encarou a janela de seu quarto. Nem mesmo percebeu quando adormeceu. Contudo sabe que o sonho se repetiu: mais intenso, mais longo, mais escuro. Desta vez, pela primeira vez neste tempo, ela conseguiu ver além da escuridão trazida pela rosa. A chama de uma vela destacava-se no vazio. Ela seguiu a luz. Sem encostar-se a árvore alguma, pois Celeste não mais estava no meio da floresta. A luz daquela vela se expandiu. Tudo ganhou tom de fogo-alaranjado. Ouviam-se gritos, criaturas deformadas, dragões voando no céu e jaulas cheias de animais asquerosos no chão.
Tudo apagou. Ouviu-se choro. Sentiu-se sangue. Ao virar, o brilho dos faróis e sirenes incomodaram seus olhos, fazendo-a colocar as mãos na frente do rosto. Suas mãos estavam encharcadas de sangue, assim como seus braços.

―Celeste? ― Incrédulos os policiais chamaram seu nome.

Confusa, levou os olhos para o lado direito vendo o corpo de Divina, morto. Ela gritou, fechou os olhos. E os abriu novamente. Estava na escola, ao lado de Divina, na aula de matemática.

― Tudo bem? ―Perguntou sua amiga.

― É aula de matemática. Não está tudo bem. ― Sorriu.

Com um olhar assustado, desviou sua atenção para a janela. Onde o galho de uma grande árvore, quase encostava o vidro. Nele, um corvo fazia seu ninho, com galhos alaranjados e secos.

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