Sentimentos são como bolas de neve

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Pov Dominique

Há uns dez anos, quando eu sonhava em me formar com louvor em Laines*, e tinha todo o apoio da minha família para seguir carreira como dançarina, descobri que havia uma parte não explorada da minha sexualidade que achava os lábios de Georgia Acker muito mais beijáveis do que os de qualquer garoto que eu tinha conhecido até então.

E quando eu digo lábios, me refiro a todos os lábios mesmo.

Georgia Erin Acker e seus cabelos negros que faziam jus aos mais metrossexuais vocalistas de boybands dos anos dois mil, foi minha primeira paixonite lésbica, que durou dois semestres de aulas de dança contemporânea, mais os noventa e quatro minutos que duraram Imagine Me & You**.

Não. Eu não assisti o filme naquele dia, mas se o tivesse feito, talvez tivesse sido poupada das consequências que aquele primeiro fora, de uma garota, trouxe para a minha vida adulta.

Eu lembrava das palavras dela de cor:

"Dominique, você sabe o que é chupar uma garota como ninguém e blá, blá, blá..."

Que foi finalizado com um:

"Eu amo minha namorada."

Que foram seguidos de lágrimas por todo lado.

Não, as lágrimas não eram da Georgia.

Eram minhas.

Porque eu me sentia usada e subjugada.

Porque eu tinha sido seduzida e chutada na mesma proporção em um espaço de tempo que compreendia menos de cem minutos e aquilo doeu.

Doeu no meu âmago.

Doeu no meu ego.

Com dezoito anos eu estava bem propensa a fazer algumas coisas idiotas, e quando eu digo algumas, quero dizer muitas.

Depois do fora de Georgia, eu coloquei meia dúzia de roupas em uma mochila, e comprei uma passagem sem volta para o Canadá.

Já tinha em mente que ia abandonar Laines, sem titubear, mas minha mãe, mesmo sem saber de Georgia ou das minhas aventuras sexuais, me impediu.

Ainda bem!

"Isso é o que você sempre quis".

Ela argumentou, infindáveis vezes, até que me convenceu.

Sim, cursar dança era o que eu desejava desde sempre.

Depois de muito escutar, absorver e abstrair, concluí que não seria Georgia, nem qualquer outra garota estúpida que me faria desistir.

Acabou que eu perdi o dinheiro da passagem, e passei a odiar Georgia Acker com a mesma proporção que a amava, porque eu achava que aquilo era amor.

Não. Eu nunca imaginei que Georgia tivesse uma namorada, e nem sei se tinha mesmo, porque aquela história nunca se confirmou.

Pelo que conheci dela, depois, não me surpreenderia em descobrir que a namorada imaginária era mais uma de suas mentiras.

Mas como minha eu de dezoito anos bem sabia, aquele pequeno detalhe da namorada, não teria mudado em nada a atração louca que eu tinha por Georgia, ou o desfecho daquela trágica história.

Mas no fim das contas, as decepções devem nos ensinar alguma coisa, não é? E eu não precisei conhecer outra Georgia Erin Acker para aprender muitas coisas.

I Love HerOnde histórias criam vida. Descubra agora