Querer e poder

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Katherine.

Enquanto dirigia para casa, eu analisava as palavras usadas por Dominique.

Quando você quiser, e puder.

Dom bêbada e sua forma curta, e dramática de dizer algumas coisas, era algo que ninguém em sã consciência deveria se acostumar.

Não combinava com ela.

Não com a minha doce Dom.

Minha. Repeti e não pude evitar o sorriso largo que surgiu em meus lábios.

Sim, eu não teria problemas em chamá-la de minha.

Minha Dom.

Parecia que aquele momento, de definirmos nossos sentimentos, tinha demorado demais, até mesmo na minha cabeça.

Mas a certeza de que tudo estava acontecendo no momento que tinha que acontecer, era algo que me tranquilizava.

Nem antes. Nem depois.

No momento certo.

Não nego que sempre houve um desejo em mim de ter conhecido Dominique antes.

Não algo prático, e óbvio como ter conhecido-a antes de Ray, porque possivelmente, eu não teria iniciativa ou coragem o bastante para arriscar.

Nem o desconhecido, nem estabilidade que Ray trazia consigo.

O antes, que eu desejava, seria em algum momento aleatório dos meus longos anos de ensino médio, já que tinha sido lá que eu havia feito a maioria das descobertas que levava para a vida, onde a maior parte dos meus atos impulsivos tinham sido facilmente justificáveis como coisa de adolescente, e onde minha sexualidade aflorara.

Mesmo que a sexualidade sempre tivesse sido um tabu na minha família, principalmente para minha mãe, nunca liguei isso ao fato dos Barrell serem católicos ao extremo. E quando digo extremo, estou sendo bem gentil.

Na verdade, o mini discurso de ódio da minha mãe, fazia por si só o papel de me reprimir.

Não seja como a filha dos Cooper.

Não ande com a filha dos Cooper.

Ouvir cada uma daquelas frases, pelo menos uma vez por dia era bem cansativo. Seguido de colocações não muito agradáveis de como Alicia Cooper se vestia, e que se eu ficasse muito perto dela ela iria me corromper.

De que forma?

Na época, eu sequer entendia. 

Principalmente porque eu não via as coisas que minha mãe via, e também porque Alicia era a única garota da minha turma que gostava das mesmas coisas que eu.

Basquete. Carros antigos. Avril Lavigne.

Eu gostava dela, mais do que minha mãe deveria saber, mas ainda acho que ela sabia.

Mãe sempre sabe.  

Talvez por aquela razão, meu desligamento do time de basquete e no lugar dos treinos, vieram as aulas de teatro. 

Era mais útil, minha mãe dizia.  

A transferência de Alicia semanas depois, parecia tanto coisa da minha mãe e das amigas dela, que não foi difícil entender o que o corromper em seu todo abrangia. E mesmo que na época eu não soubesse e tampouco conseguisse definir o que era, eu tinha sim olhado com outros olhos para a filha dos Cooper, mas infelizmente demorou alguns anos, incontáveis sessões de terapia e Dominique, para que eu entendesse o quanto aquilo fazia parte de quem eu era.

I Love HerOnde histórias criam vida. Descubra agora