Fomos a uma cafeteria, mas Brittany resmungou, pois não é adequado grávidas tomarem café, então a acompanhei no chá. Havia tanto tempo que eu não saía por um breve momento, sem me preocupar, que já estava esperando algo de ruim acontecer. Graças ao bom Deus, nada ocorreu. A conversa foi tranquila, pois eu precisava ir embora e arrumar minhas coisas, enquanto Brittany precisava voltar para seu marido.
Peguei o metrô e nem vi o tempo passar. Me lembrei do meu pouco tempo de glória com Patrick. Talvez, se ele não tivesse me deixado, estaríamos viajando agora, ou praticando algum esporte. Sacudi a cabeça e tentei aprisioná-lo na caixinha das lembranças. Cheguei ao condomínio e cumprimentei o porteiro que me olhou desconfiado. Abri minha caixa de correspondência e, obviamente, tinham mais cobranças.
Meu apartamento foi me dado por Patrick. Ele era todo planejado, em uma área nobre de Londres. Mas quando fiquei sozinha, não tinha a quem recorrer, então comecei vendendo os móveis e comprando outros mais simples. Não quero me desfazer dele. Ainda amo muito o Patrick e, mal ou bem, parte de nossa história está aqui. Até hoje, suas roupas permanecem no closet. Ele não mora mais aqui, mas não quero me desfazer daquilo que remete ao meu passado. Se não fosse esse emprego, provavelmente eu teria que alugar esse apartamento e ir morar em um bairro mais simplório. O que ia me ferir, não era o bairro e sim, a distância do meu lar.
Sento-me diante da mesa de madeira simples, com quatro cadeiras e espalho as contas. O condomínio, consegui pagar as taxas com o resto do dinheiro dos móveis, ainda tenho metade da cesta básica que meu irmão me trouxe. Telefone e TV à cabo eu já cortei, estou apenas com celular simples pré-pago. Continuei olhando as contas e, pelo que percebi, só tinha esse mês para regularizar água, gás e luz, pelo menos, para não cortarem no próximo. Esse mês eu também estaria reduzindo as carnes, comendo apenas verduras, ovos, salsichas e linguiças, pois são as mais baratas.
Quando acabei a organização das contas, aproveitei para organizar as roupas. Eu havia emagrecido, mas ainda possuía roupas boas o bastante para trabalhar. Desci na academia do condomínio. Essa taxa, em específico, eu não pagava. A família de Patrick é dona de uma rede de lojas esportivas, então, quando ele veio morar aqui, doou parte da academia. Obviamente tinham dívida moral com ele, mas isso não necessariamente me incluía. Talvez por eu ainda morar aqui, não tenham falado nada. Na verdade Patrick tinha deixado uma esteira e uma bicicleta em nosso apartamento, mas também tive que vendê-los. Enquanto não me expulsassem daqui, continuaria frequentando, bem como a piscina.
Quando voltei para meu apartamento já era início da noite. Conferi o que ainda restava no armário e geladeira, e seria o bastante para a semana. Continuei minha leitura do livro de fantasia sobrenatural O Grande Acordo e perdi-me na história, mas meu estômago protestou e fui jantar. Tomei banho e fui dormir cedo, como sempre fazia.
"— Não acredito no que estou vendo! – murmuro para ninguém em específico.
— Você disse alguma coisa amor? – Patrick perguntou da cozinha. Aposto que estava comendo seu pão com pasta de amendoim. Só de mencionar isso, meu estômago revirou.
— Nada não amor – respondi apressadamente. Como eu ia contar isso a Patrick? Não éramos casados e sua família me detestava. Joguei a caixinha e a fita na lixeira.
— Nossa, você demorou. Não esquece que amanhã iremos viajar. Descobri uma fazenda afastada e nela disseram que há uma mina abandonada. E o que há por lá? Adivinhe? – Me perguntou todo animado.
— Uma caverna? – respondi sem ânimo.
— Exatamente. Minha linda está ficando cada vez mais esportista – completou me dando um beijo no rosto. Sorri fracamente disfarçando.
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Entre Disfarces e Segredos (Degustação)
Romance(Completo na Amazon) Helena é uma mulher forte e destemida. Desde cedo ela teve que lutar por sua sobrevivência e ideais. Sempre enfrentando tudo sozinha, pois o destino não parece estar muito a seu favor. Hoje, conhecida por Hele...