Capítulo 7 Entre o Receio e o Jogo

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Dentro do elevador eu já estava com minha unha sendo prisioneira de meus dentes. Harry me olhava com vontade de tirá-la, mas acho que a conversa com a irmã o deixou mais contido. No fundo eu agradecia, pois não queria que os técnicos que olhavam as câmeras de segurança, tivessem um show particular.

Cada vez que eu pensava sobre minha decisão, ela parecia estúpida. Ir para a casa do chefe no primeiro encontro? Onde isso daria certo? Tinha quase um ano que eu não transava com ninguém. Engoli em seco esse pensamento. Quem disse, afinal, que transaríamos?

— Pare com isso. Não estou te sequestrando.

— E pare de ser mandão. Meu expediente acabou querido.

— Uau. Me chamando de querido antes do primeiro encontro? – Harry sorriu travesso e meu rosto corou.

Chegamos à garagem e eu já fui em direção ao carro dele. Isso era meio bizarro de se pensar, pois eu já estava me habituando. Por sorte, até o momento nossa relação era profissional e subiu apenas um nível: primeiro encontro. Hoje ou amanhã eu acharia resposta para muitas de minhas perguntas: 1: Harry quer apenas brincar comigo, como vários homens que quando 'conseguem o que querem' pulam fora? 2: eu conseguirei deitar com outro homem? 3: aliás, um 2,5, pois nem sei se deitaremos hoje. – Suspirei.

— Um centavo por seus pensamentos – disse Harry saindo da garagem.

— Graças ao bom Deus, não preciso tanto assim de dinheiro no momento. Então fica para a próxima – disse risonha, já relaxando um pouco.

A viagem estava tranquila e aos poucos fui reconhecendo o caminho de casa. Agradeci mentalmente por morarmos a poucos quarteirões, pois qualquer coisa que desse errado eu poderia correr. Sou pessimista e vivida demais para achar que algo daria certo. Espero me surpreender.

Seu condomínio era um pouco mais luxuoso quando comparado ao que eu morava. Ele acionou um botão e a garagem se abriu. Descemos do carro e parecia um evento de veículos. Uma moto me chamou atenção. Parecia uma daquelas que vemos em filmes de motoqueiros com couro.

— Gosta de motos?

— Na verdade só me lembro de andar em uma na infância.

— Um dia te levo nela.

— É sua?

— Sim.

— Você não tem cara de quem anda com motos, ainda mais uma assim.

— E desde quando motoqueiro tem cara? – Rimos de minha estupidez. Infelizmente, no fundo, a sociedade nos molda de forma tão errônea que tudo que é fora do padrão parece errado. Ele já cometera um erro assim comigo e eu, agora, fizera o mesmo.

Pegamos o elevador e Harry digitou sua senha. Enquanto isso um novo questionamento me surgiu: Por que ele está fazendo planos comigo?

Meus pensamentos foram cortados quando chegamos ao seu apartamento. Obviamente seria a suíte. Era grande, talvez um terço a mais que a minha, mas não poderia dizer com exatidão, pois só chegara na sala. O piso era de mármore branco e as paredes apresentavam quadros. Alguns com formas geométricas, outras com paisagem e uma ao centro, em cima da lareira com a foto de uma família, pintado à mão. Essa imagem em particular me intrigou. Os dois jovens eram parecidos com Harry e Evelyn, e os dois mais velhos, supus serem seus pais. Ainda assim parecia haver uma sombra ao lado de Harry. Senti um arrepio.

— Minha família. Robert, meu pai; Amy minha mãe; eu e Evelyn você já conhece – respondeu à minha pergunta não proferida, apontando para o quadro.

Entre Disfarces e Segredos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora