Capítulo 6 Entre Conselhos e Aceitação

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— Agora pode dizer – inquiriu meu irmão, ao entrarmos em casa. Durante o trajeto do elevador ele não disse nada. Achei que teria esquecido. Ledo engano.

Segui para a cozinha. Por sorte e com muito esforço as contas já estavam pagas e a fartura voltou aos armários. Como era meu aniversário no outro dia, resolvi comprar costelinha de porco e molho barbecue. Meu irmão estava um pouco acima do peso, mas eu iria proporcionar essa quebra em sua dieta.

— Não vai me comprar com essa gostosura. O que é isso? Esse molho é excelente. – Ri alegremente do meu irmão. Isaac não tinha jeito, sempre se encantava com comida, ainda mais acompanhada com molhos.

— Olha a gula. Isso é um dos sete pecados – zombei.

— Eu sei. Perdão meu Pai – completou fazendo o sinal da cruz. – Mas não fuja de minhas perguntas: o que seu chefe estava fazendo lhe trazendo em casa? E pelo visto parecia íntimo.

— É uma longa história.

— Não tenho pressa. – Suspirei e lhe contei tudo, desde o dia em que conheci Harry, até hoje. Enquanto isso a comida já estava quente. Deixando a modéstia de lado, eu era boa na cozinha, quando não estava com preguiça.

— E você acha que essa relação continuará em âmbito profissional? – perguntou dando mais uma mordida na costelinha, pegando-a com a mão.

— Pretendo.

— Mas por quê? Já conversamos sobre isso, Helena.

— Não quero tocar nesse assunto. – Olhei para os lados, evitando seus olhos conselheiros.

— Já vai fazer um ano que Patrick não está mais com você, minha irmã. Sei que cada um tem seu tempo para processar, mas você não está precisando de tempo para aceitação e sim porquê se sente traindo-o e isso não está certo.

— Eu sei. – Respirei fundo. – Mas como trarei alguém aqui para dentro, quando tudo que toco é de Patrick. Ele ainda está aqui. – Apontei para meu coração.

— E ele nunca sairá daí. Mas às vezes outro precisa entrar. Quando alguém se vai não deixamos de amá-lo, mas essa pessoa não pertence mais aqui. Vocês não foram casados perante Deus, mesmo com minhas insistências – disse ajeitando os óculos e me olhando por cima dele. – Mas mesmo se fossem, a bíblia é clara.

— Eu sei, mas é tão difícil. – Apoiei a cabeça em minhas mãos e olhei para baixo. – Além disso, Harry é de família rica e não quero que o mesmo fato se repita. Sofri demais e até hoje estou me recuperando do que me fizeram.

— Sim. Eu me lembro, te ajudei como pude e fico feliz em vê-la melhor. Parte dessa melhora, se deve a Harry. Eu percebi que ele está interessado em você, mas e você, tem algum interesse por ele?

— Confesso que não me passou despercebido. Ele é bonito, generoso, teimoso – disse risonha. – Mas também é meu patrão e milionário, duas coisas importantes e impeditivas.

— Não são e você sabe disso. Faça um teste. Sabemos que muitos homens não estão dispostos a dividir a vida a dois, como Deus manda. Hoje em dia é tão difícil reconhecer quem é bom de coração e tem boas intensões... Então se você se interessou nele e ele em você, se dê uma chance. Dê uma chance a vocês dois. Caso você perceba que ele não tem boas intenções, você o deixa. Ore a Deus e peça que o Espírito Santo ilumine sua mente e você consiga tomar uma boa decisão.

O restante da noite passou tranquila. Comemos mais algumas bobagens, enquanto víamos filmes de comédia. No fim da noite, depois de termos tomado banho, Isaac me entregou o presente de Carlos. Era um pingente e dentro dele tinha a foto de nós três, ainda crianças. Na verdade, eu era criança, eles já eram praticamente adolescentes. Minha mãe parece ter cronometrado, pois tínhamos cinco anos de diferença. Eu com vinte e cinco, amanhã, Carlos com trinta e Isaac com trinta e cinco.

Entre Disfarces e Segredos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora