Capítulo 4 Entre o Dilema e o Novo

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As funções iam se acumulando e eu não sabia se chorava por tanta coisa ou se agradecia por ter um emprego. A primeira semana de dezembro passara e algumas datas estavam se aproximando, me angustiando. Dia dez era meu aniversário e estava próximo, mas também estava próximo o pior dia da minha vida. Eu teria que encarar a realidade e ir visitar Patrick, mas eu não queria.

Brittany só trabalhava na parte da manhã e o Sr. Jacaré aproveitava para me incomodar. Eu estava notando suas intenções. Ele esperava o horário do almoço e começava a me pedir muitas coisas, a maioria envolvia fazer alguma atividade em sua sala. Não serei hipócrita em dizer que não gostava de toda essa atenção, mas era melhor manter os pés no chão. Também comecei a jogar com ele. Meu horário de almoço era ao meio dia, mas quando faltava cinco minutos eu já saía da mesa e ia para o refeitório, assim, ele não tinha como me chamar.

O estranho é que há três dias ele simplesmente não saía da sala dele. Sempre ao telefone ou marcando reunião com o conselho. De manhã, Brittany levava a agenda a ele e, naquele momento, ele já ordenava os afazeres. Confesso que senti falta da atenção dele e isso mexeu comigo. Quando estava almoçando, hoje, ouvi um burburinho no refeitório. Como tinha amizade com a maioria, resolvi sanar minha curiosidade.

— Senhor Wilson, sabe me dizer por que estão comentando sobre mudanças na empresa? – perguntei na cara e coragem ao chefe de cozinha da empresa.

— Parece que irão contratar mais funcionários aqui para a cozinha. A cozinha é bem grande, então acho que não vai nos atrapalhar.

— Como sabe disso?

— Sou gastrônomo e um amigo cozinheiro, que trabalhei com ele antes, me disse que havia mandado currículo para cá.

— Ah sim – refleti. – Mas isso é tão estranho. Boa parte dos funcionários preferem a cesta básica, por que aumentariam o número de funcionários para cozinhar?

— Talvez vão ampliar o refeitório para outro departamento ou os novos cozinheiros serão para a chefia, já que a maioria pede almoço fora.

Fazia sentido. Voltei para o trabalho e quase no fim do dia a jacaré-fêmea, ou melhor, senhorita Evelyn saiu a passos largos da sala de reuniões. Era comum Harry pedir um lanche ou apenas um café à tarde. Não havia levado antes, pois ele estava em reunião, mas como essa estava quase acabando eu estava justamente levando a bandeja, quando Evelyn e eu nos esbarramos. A bandeja virou toda em cima de mim e eu gritei com a dor do café quente.

— Olha por onde anda, sua incompetente! Por sorte não molhou minha roupa. Você tem ideia de quantos meses teria que trabalhar para pagar um par de saltos que estou usando? – Evelyn gritava e eu me encolhia de vergonha e dor. Haviam outros diretores e eles apenas desviavam enquanto saíam da sala de reuniões.

— Desculpe. – Foi a única coisa que consegui pronunciar com a voz embargada e os olhos marejados de dor e vergonha.

— Espero que não tenha manchado o piso, caso contrário será descontado do seu salário. – Ela voltou sua atenção para a sala de reuniões. – Está vendo Harry? É por funcionários assim que você quer mudar? Muitos causam prejuízos.

— A reunião foi conclusiva e aprovaram minhas medidas. Sabe que tudo foi calculado. Eu sei o que faço. – Com isso a Jacaré-fêmea saiu bufando e eu sem entender nada e com dor. Uma mão se estendeu no meu rosto. Era Harry me oferecendo sua mão para ajudar-me a levantar.

— Não precisa, Sr. vou acabar lhe sujando. – Tentei me levantar e escorreguei, mas Harry me amparou. Meu salto havia quebrado.

Nossos corpos ficaram colados e não era possível escutar um mísero som. Parecia aquelas cenas de filmes antigos, onde um casal se entreolha apaixonadamente. O problema é que não éramos um casal e essa relação deveria se manter no profissional. Harry foi aproximando seu rosto do meu e eu senti um leve tremor nas pernas. Fechei os olhos e respirei fundo, então senti um puxão.

Entre Disfarces e Segredos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora