Capítulo 3 Entre a Resignação e a Resiliência

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Depois do feito trágico de manhã, Harry não me deixou em paz. Mostrei-lhe seus compromissos do dia e sua agenda semanal. Ele me fez mudar boa parte dela reagendando compromissos e me fazendo escutar reclamações de alguns clientes que remarquei.

Liguei para Brittany e ele me advertiu para fazer isso em horário fora do trabalho. Tinha razão da irmã dele ser a jacaré fêmea, pois ele era o jacaré macho. Brittany disse que os resultados dos exames ainda não saíram, mas o médico pediu repouso, então eu teria que enfrentar o Sr. Jacaré estranho por mais tempo e, sozinha.

Na hora do almoço dei graças a Deus que eu teria um pouco de paz, mas estava enganada.

— Helen, pode vir à minha sala? – perguntou-me quando eu já havia desligado o monitor. Revirei os olhos e suspirei.

— Pois não, Sr. Harry?

— Vou ligar no refeitório da empresa e pedir para trazerem seu almoço. Estou precisando de você aqui. Fiquei dois meses afastado e mesmo Brittany organizando, ainda há muitas pendências. – Não consegui disfarçar meu descontentamento, mas me lembrei da gafe que cometi hoje e tive que acatar.

— Eu terei que ir buscar, pois trago marmita. Tenho que esquentá-la. – Ele me olhou intrigado e coçou o queixo me observando.

— Hum... Tudo bem, fico aguardando você trazê-la, enquanto isso pede para um funcionário lhe acompanhar e trazer uma refeição para mim, por favor.

Saí de sua sala parecendo um cavalo raivoso. Meus pés batiam freneticamente no piso. Justo hoje, estava com salto um pouco mais alto. O banheiro era no caminho. Lavei minhas mãos e rosto, soltando um rosnado de frustração.

Segui para o refeitório, esquentei minha marmita e um funcionário jovem me acompanhou com o almoço de Harry.

— Obrigada – Agradecemos ao jovem, em uníssono.

Harry tinha uma mesa pequena um pouco afastada da principal. Ele arrastou essa mesa até seu divã. O problema era que o divã não era muito grande, então comecei a arrastar a cadeira.

— O que está fazendo?

— Pegando uma cadeira.

— Há um divã aqui com espaço suficiente para nós dois.

— Prefiro manter-me afastada e o mais profissional possível. – Isso não saiu como o planejado.

— Você acha que eu estou... – Ele não completou a frase, mas era óbvia: "dando em cima de você" soou em minha mente. Para mim era claro que ele estava tentando uma aproximação. Além de não estar afim de me envolver, não seria com um homem de família rica novamente. A vida me cobrou caro demais. Ainda assim, posso ter entendido errado e meu rosto corou.

Sentei no extremo oposto dele no bendito divã. Olhei para a refeição dele e era bife com aspargos ao molho. Nem sei qual era o tipo de bife e o molho, mas minha boca salivou. Abri minha marmita com arroz, beterraba e uma única linguiça e pareceu muito sem graça. Ainda assim, eu precisava ser grata, pois tinha comida, então comecei a devorar imaginando o bife dele.

Enquanto eu enchia meu garfo, o Jacaré Estranho comia calmamente. Eu parecia uma esfomeada e ele em toda sua classe. Por um momento me envergonhei, mas depois me lembrei que ele praticamente me obrigou a ficar aqui, então teria que me ver assim mesmo. Quando acabei, passei a mão pela minha barriga, agora um pouco protuberante.

— Vou ao toalhete me recompor e volto para continuarmos nosso trabalho – disse já me levantando. Além disso, como eu estava naqueles dias, precisava trocar, em fim.

Entre Disfarces e Segredos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora