O Manipulador de Consequências Vol.1: Rodrigues

Capítulo 1: Que realidade é essa? A Lei do Desvio Nulo.

São Paulo, dia 26 de Maio de 2006

Ele não sabia como fez isso. Definitivamente não sabia. Tinha tudo calculado meticulosamente em sua cabeça, com todas as peças dessa engrenagem complicada que era a direção de não uma nem duas, mas sim várias empresas em seu devido local, sem contar todo o jogo que fazia com o seu dinheiro na bolsa de valores para que seu valor sempre aumentasse.

No entanto, nunca que esse homem iria prever a falência em cadeia de todas elas que estava a ponto de acontecer, tudo isso devido a somente míseros fatos que se alastravam por meses, ou pelo menos era isso que ele achava que havia acontecido. O único problema aqui é que ele não conseguiu ver tais fatos, estava completamente cego por assim dizer; de toda forma, isso se tornou um infeliz evento que acabaria por prejudicar milhares de pessoas.

-Desgraça; ONDE está essa perda? Esse desvio? Onde? – se perguntou ele por diversos momentos seguidos na cadeira de seu escritório fracamente iluminado de sua mansão, sem contudo encontrar algo sequer próximo do que estava procurando. Poderiam ser várias ações seguidas que ele na verdade havia cometido, e não só uma, aliás, e isso só ajudava a aumentar seu medo.

Só que tudo o que lhe interessava naquele momento era saber o porquê exatamente isso estava acontecendo, o que ele fez para que começasse a ver as sete filiais de sua cadeia de lojas e shoppings centers decaindo em tão pouco tempo. Compras excessivas e sem controle adequado de produtos que não venderam o esperado? Aplicações erradas de sua fortuna na bolsa, que perderam o valor rapidamente? Ações de seus próprios empreendimentos caindo do dia para a noite? Quantas coisas ele havia ignorado em todo esse tempo? Isso só poderia ser causado por uma mania de querer tomar somente para si tantas responsabilidades, não aceitando ajuda na maioria dos casos e fazendo um ar de que estava tudo bem.

Apesar de achar que poderia contar com seu dinheiro no banco para fazer alguma nova aplicação ou compra de ações no mercado, percebeu que ainda assim isso contaria como um risco adicional e levaria um tempo para ele ver algum efeito disso tudo, e logo se desanimou com tal ideia... Estava se arrependendo também de suas curtas, porém entusiasmantes distrações com bebidas, jogos e mulheres que, por mais que ele negasse, usava para agradar seu lado que desejava um pouco de descanso.

Mas não era exatamente o fato de estar perdendo sua própria fortuna que o assustava realmente; eram os seus diversos colaboradores que iriam ficar sem trabalho, sem rumo e também sem esperanças sua maior preocupação. Pelo menos a maioria deles iria ficar nessa situação, pensou logo o empresário.

Ele bem que fora avisado, não só através das palavras das pessoas mas também ao ver diversos amigos do mesmo ramo quase chegando ao colapso por ficarem com tantas coisas nas suas mãos. Mas simplesmente achava que podia se sair melhor do que eles. Queria fazer de tudo para que nada saísse da linha, como se fosse um pai extremamente zeloso com seus filhos, e ele infelizmente colocou em sua cabeça que ninguém mais poderia dirigir aquelas empresas dessa maneira.

Somente algumas coisas que percebia que não conseguiria fazer de maneira nenhuma ele colocou nas mãos de cinco amigos próximos contra sua vontade. Aliás, andava desconfiado de que foi algum deles que lhe colocou nessa enrascada, mas não tinha certeza sequer se isso ocorreu ou não.

Somente seu amigo Fábio é quem lhe avisava constantemente sobre isso, embora alguns outros também fizessem isso algumas raras vezes e de maneira muito tímida. Parecia muito preocupado com o fato de ele não dormir direito fazia mais de três meses antes dos seus atuais problemas, e por vê-lo doente por causa disso:

-Estou te dizendo, Pablo, você precisa aprender a delegar mais poderes do que está fazendo agora. É impossível para um ser humano fazer tantas coisas em tão pouco tempo! – disse ele em uma festa para a qual ele e o empresário foram convidados.