•8•

43 1 0
                                    


- Você só pode estar brincando - Gregg falou eufórico enquanto mordiscava sua batatinha

- Eu estou com cara de quem está brincando? - dirigi meu olhar pra ele após estacionar a velha caminhonete que meu pai me dera de aniversário na frente da sorveteria da cidade.

- Não é isso Lu, essa história é muito louca para ser verdade

- E você acha que eu não sei? - Pronunciei exaltada me encostando novamente no banco olhando para o teto da lata velha - Pode ter certeza que, de todos aqui, eu sou a mais confusa nessa situação

- Ei, eu te entendo - levantei o olhar em sua direção lhe apresentando um sorriso amarelo quando vejo sua mão, que antes segurava o pacote de chips, no meu ombro numa tentativa de consolo

- Como você me entende se nem eu mesma me entendo?

- Poder de melhor amigo - Ele levantou uma das mãos na altura cabeça como se estivesse acenando. Ri de seu gesto

- Isso é praticamente impossível - Cesso a risada lhe dando um olhar sério enquanto o mesmo retornava a sua posição inicial pescando uma batata no fundo de seu pacote

- Só é impossível se você acreditar que é

- O que? - Franzo a testa

- Alice no País das Maravilhas, qual é Luiza você sempre fala isso

Não respondo. Apenas o encaro digerindo suas palavras enquanto o mesmo amassava o pacote de suas batatas e o colocava no porta luvas.

Ele estava certo. Apesar desta história ser totalmente, absolutamente e definitivamente estranha, não podia negar a quantidade de coisas exóticas que vinha acontecendo nessa última semana, o sonho, o anel, a criatura, minha mãe, a escritura, e, principalmente Adam.

- Ok, você está certo - Fecho a cara ligando o rádio do carro na estação local.

- Eu sempre estou - Gregg deu seu típico sorriso vitorioso quando eu revirei os olhos

Encarei o anel antigo que estava em meu anelar, esse simples anel poderia, se aquela história toda for real, fazer um enorme estrago com um simples raio de luz de uma lua nova. Sem contar a história de que Adam é meu primo.

Rompi meus pensamentos prestando atenção no rádio ligado, Gregg havia dormido enquanto estava dentre devaneios. No rádio tocava uma música calma e serena de época, seu toque relaxante estava fazendo uma pontinha de sono faiscar em mim, agora entendo o porquê de Gregg ter dormido.

Olhei pelo espelho retrovisor e me assustei com o que vi, atrás da caminhonete, aonde tinha um carro estacionado, estava uma daquelas criaturas. Ela estava deitada de barriga para baixo e encarava o nosso carro, mais precisamente, me encarava.

Em um movimento brusco saí daquela vaga cantando pneu podendo ver a criatura sobrevoar a cidade nos seguindo, pude ver Gregg acordar num pulo quando passei rapidamente por um carro sport fazendo o motorista buzinar e colocar a cabeça para fora nos xingando.

- Mas o que é isso? Está tendo aulas com o Vin Diesel? - Gregg segurou o sinto de segurança com mais força quando virei em uma esquina que dava em beco.

Um beco sem saída.

Parei o carro quase batendo-o em uns latões de lixo que tinha no final daquele beco encostados em uma parede. Desço do carro acompanhada de Gregg, porém, o mesmo segue para um canto daquele beco e ouço seus barulhos como se tivesse vomitando.

- O que foi aquilo? Por que fez isso de repente? - Vejo-o de canto de olho levantar a cabeça e limpar sua boca com as costas de sua mão, mas eu não estava prestando atenção nele, e sim no que estava por vir.

- Ah, vai dar a louca e me ignorar? Depois de tudo isso? - Ele caminha até mim, parando em minha frente

- Gregg, eu quero que você entre naquele carro e esteja pronto para quando eu der o sinal a gente sair correndo daqui, entendeu? - Finalmente o olhei vendo que ele estava mais branco que o normal e furioso

- Por que eu faria isso? - Seu semblante indignado me fez o encarar profundamente, mas logo ouvi o agoniante grito daquela criatura me fazendo percorrer um arrepio pela espinha

- ANDA GREGORY, EU NÃO ESTOU BRINCANDO - Gritei o assustando e vendo-o voltar ao seu original semblante, porém mais assustado, e correr em direção do carro entrando ao lado do motorista

Encarei a abertura daquele pequeno espaço do beco assim que aquela coisa apareceu, mas dessa vez acompanhado.
Uma mulher. Morena, alta, magra e de vestido vermelho. Uma verdadeira deusa grega.

- Você é a Luiza? Você é o assunto lá de cima sabia? - A mulher se pronunciou com um sorriso debochado no rosto

- La de cima? - Franzi as sombrancelhas em dúvida

- Do Olimpo, vai dizer que não conhece? - Ela começou a andar em minha volta com sua mão em seu queixo, me analisando.

Mantive meu olhar de dúvida, mas dessa vez olhei no fundo de seus, eles emanavam seu visível deboche e diversão.

- Oh me desculpe, que modos são esses? Prazer, Perséfone - Ela me deu sua mão para um aperto, mas não o fiz

- O que você quer comigo?

- Eu? Com você? Não quero nada - Falou enquanto caminhava em direção àquela criatura, montado em cima da mesma - O que eu quero é com seu primo - Ela sorriu abertamente enquanto aquela criatura saia voando pelo céu enuviado.

Corri até o carro entrando no lado do passageiro e vendo Gregg totalmente perdido.

- O que aconteceu? - Gregg piscou os olhos como se tivesse acabado de sair de um transe

- Como "o que aconteceu?" - Perguntei tensa - Aquela criatura acabou de sair daqui com uma mulher nas costas - Falei apontando para trás, vendo um liquido vermelho aonde a suposta criatura estava.

- Sério? O que aconteceu? - Gregg deu um leve bocejo

- Não temos tempo para isso, eles foram para a casa do Adam. Vamos - Falei batendo em seu ombro para que ele ficasse acordado

- Mas eu nem sei onde fica - Gregg ligou o carro dando ré para sair do beco

- Eu te guio, anda - E partimos

[QT]

Estávamos virando a esquina da casa de Adam quando comecei a sentir um cheiro podre. O famoso cheiro daquela coisa.

Ao chegarmos mais perto da casa, vi a criatura sobrevoando a mesma enquanto Gregg estacionava a caminhonete em sua frente. Antes mesmo de Gregg terminar de estacionar, saí do carro e corri em direção a entrada, conseguia vê-los da janela da estufa, Adam estava em pé apoiado na mesa de chás e Perséfone sentada em uma cadeira em sua frente. Adam estava pacífico como sempre fora e podia perceber que Perséfone continha um ar debochado, como o de quando nos encontramos minutos atrás.
Gregg logo chegou junto a mim e começou a encarar na mesma direção em que eu estava encarando. Ele parecia confuso.

- Por que Adam está falando com a cadeira? - Ele perguntou com sua testa franzida.

Nem dei muita atenção a sua pergunta, porque o que estava acontecendo dentro daquele pequeno pedaço florido era mais interessante. Adam e Perséfone estavam se beijando.

Nefasa Onde histórias criam vida. Descubra agora