Desabar

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Desabar: Prostrar-se cansado ou deprimido; deixar-se cair, abatido; cair com violência; despencar.

Depois de conseguir tirar Carol da banheira, a ajudei tomar um banho quente e Miguel a ajudou com o pijama. Nosso pequeno preparou um leite quente para a mãe, mas ela recusou, então apenas nos sentamos na cama. Enquanto eu limpava o ferimento na mão dela e enrolava um faixa, Miguel penteava seus cabelos sem dizer nada. O clima naquele quarto estava pesado, mas ninguém ousava tentar mudá-lo.

— Quer deixar o cabelo preso hoje, mamãe? — ele perguntou ao alcançar um elástico em cima da cômoda.

— Sim, campeão. — respondeu baixinho e ele assentiu.

— A faixa está muito apertada, amor?

— Não. Está tudo bem, eu só quero dormir. — respondeu e eu fiz um sinal com a cabeça para o Miguel, que pegou um comprimido e um copo com água para a mãe e a entregou.

— Isso vai te ajudar. — ele falou e beijou a bochecha da mãe. Carol forçou um sorriso e deitou na cama, Miguel a cobriu. Aproveitei para caminhar até a janela e abri-la um pouco, seria bom se ventilasse.

— Filho, pode me ajudar a arrumar essa bagunça? — pedi baixinho e ele assentiu. Começamos a organizar o quarto, enquanto eu pegava a garrafa de vinho vazia, ele recolhia as fotos do chão.

— Ouch! — reclamou, soltando as fotos e segurando o indicador com força.

— O que foi?

— Nada. Eu só... me cortei com o vidro do jarro quebrado. — respondeu com a voz embargada. Miguel não choraria por causa de um pequeno corte no dedo.

— Tem certeza? — ele abaixou a cabeça e soluçou, negando com a cabeça. Suspirei e deixei a garrafa sobre a cômoda, o guiando para fora do quarto e fechando a porta atrás de mim. — O que foi, filho? Por que está chorando?

— É que...

— É por causa do dedo? Deixa a mamãe ver! Se machucou? — segurei o dedo dele e vi uma gotinha de sangue. — Está doendo? Precisa de um curativo?

— Não! — falou um pouco alto. — Isso não foi nada. Não estou chorando por isso.

— Por que está chorando?

— A mamãe Carol... ela... ela tentou se matar, não foi?

— O que?

— Eu vi, mamãe. Eu vi o que ela fez no banheiro, o espelho, o frasco de remédio. Ela está mal por causa da abelhinha, não é?

— Sim, filho.

— Mas e o Dreicon?

— O que tem ele?

— Ele não está ajudando ela?

— Claro que está. Deixa eu te explicar! — olhei para os lados, buscando as palavras certas para usar com ele. — Ele está ajudando bastante e não receitou os remédios para o mal dela, acontece que existe uma coisa chamada recaída. As pessoas podem ficar bem, mas elas caem. É como uma montanha-russa, entende?

— Mas ela vai melhorar, não vai?

— Com certeza! Essas recaídas vão passar, a gente vai notar a melhora aos poucos, mas até lá vamos ter paciência e dar muito amor a ela, ok? — falei sem ter muita certeza.

— Ok. — fungou. — Mas e você?

— O que tem eu?

— Como fica com tudo isso? — a pergunta dele foi como uma facada no meu coração, mas eu não podia cair, não agora, não na frente dele.

— Chateada, mas a gente tem que permanecer de pé. — forcei um sorriso. — Está tudo bem, bebê.

— Você... — olhou dentro dos meus olhos. — Sente falta dela? — assenti.

— Sinto. Demais! E você?

— Tento não pensar muito. — abaixou a cabeça. — Mas queria abraçá-la outra vez. — ficamos em silêncio. — Mãe, posso ir dormir?

— Claro, amor. Boa noite! — beijei sua cabeça.

— Boa noite. Te amo.

Assim que ele entrou no quarto, voltei para o meu. Carol já havia pegado no sono e eu agradeci a Deus mentalmente por isso. Terminei de organizar o quarto sem fazer muito barulho e ao terminar resolvi sair. Precisava tomar um ar. Fui para o jardim e me sentei perto da piscina, fazia frio, mas isso não me impediu de tirar a roupa e entrar na água gelada. Apesar da boa tarde que tive com o Miguel, a noite começou tensa, eu só precisava relaxar.

— Puta merda! — xinguei ao sentir realmente a água nas costas, escorei na borda da piscina e fechei os olhos sentindo todo o peso daquela noite terrível em mim. A cena de Carol na banheira, do quarto revirado, do espelho quebrado, do sangue na pia, a pergunta do meu filho sobre a mãe tentar o suicídio, todas essas coisas me fizeram sentir vontade de vomitar. Minha cabeça doía e tudo girava, de repente a pergunta do meu filho sobre como eu me sentia doeu mais do que o esperado. Eu odiava tudo aquilo, eu odiava ter que mentir, eu odiava sorrir e dizer que nada como um dia após o outro, eu odiava não ter a minha filhinha e odiava imensamente essa porra de falta, de saudades que eu sentia.

Talvez eu não fosse tão forte como demonstrava ser.

E de repente, mais uma vez, todas as perguntas sem respostas, a angústia, a dor e o medo se transformaram em um choro desesperador, incontrolável e alto. Eu não conseguia parar, apenas gritar e socar a água, como se ela fosse o maldito que fez a merda com a minha filha, como se ela fosse trazê-la de volta.

~••~

Oi, galerinha do bem, olha eu de novo!
O capítulo ficou bem pequeno, mas só escrevi para mostrar um pouquinho o lado da Day. Eu sei que está muito dramático, mas eu não sei escrever outra coisa que não seja drama, a fanfic foi inteiramente pensada assim e eu sempre oscilo entre o drama e os momentos alegres, como uma vida real, busco não fugir muito da VIDA, porque senão não seria eu escrevendo kkkk. Devo avisar para vocês ficarem preparados, porque vão ter muitos momentos tensos, onde sentirão raiva, dor, felicidade, tudo ao mesmo tempo, mas vai valer a pena. Assim espero!
Só para quebrar esse clima, a fanfic está longe do fim, ou seja, muitos momentos Dayrol virão ainda.

Até o próximo!

Beijox.

Um Bebê Entre Nós - Segunda Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora