Você Venceu

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Aviso: Contém descritivas cenas fortes, com tortura física e psicológica. Não leiam se não estiverem prontos.

Dor no peito, aumento das batidas do coração, falta de ar, suor escorrendo pela testa, tremores nas mãos, sensação de fraqueza, boca seca, mãos e pés frios, náusea.
Esses são os principais sintomas de uma crise de ansiedade. Isso era exatamente o que eu estava sentindo, misturado ao medo.

De repente a casa parecia completamente silenciosa. Era como se eu estivesse sozinha em outro universo, sem conseguir gritar, me mexer ou esboçar qualquer reação. E eu não queria estar ali.

— Te observar de longe foi bom, mas nada como cara a cara. — sorriu.

— Como você...?

— Como eu o que? Como estou vivo? — se aproximou de mim e estalou a língua no céu da boca. — Deveria checar melhor as pessoas antes de sair espalhando por aí que estão mortas.

— Mas a polícia...

— Dinheiro compra silêncio, Caroline. — segurou no meu queixo. — A propósito, você está muito linda.

— Quero ir embora. Me deixa ir embora. — falei, sem esconder o medo que eu sentia daquele homem.

— Embora? Mas está tão cedo!

— O que você quer comigo?

— Com você? Bom, deixa eu começar minha lista. — puxou uma cadeira e se sentou na minha frente. — Tirar tudo de você, seus filhos, sua esposa, seu dinheiro, ou você acha que não sei? Estive observando cada passo seu, acompanhando de camarote sua linda e ótima vida. Depois, irei te matar com minhas próprias mãos e como um bom assassino, não me esquecerei de checar antes de jogar seu corpo na cova. — fechei os olhos.

— Leonardo, eu não queria te fazer mal. Eu só... só estava cansada, com raiva, não foi minha intenção.

— Não foi sua intenção? Você tentou me matar, mas tudo que conseguiu foi me deixar aleijado. Por sua causa eu vou mancar o resto da minha vida. Mas sabe o que me conforta?

— Leo...

— Saber o quanto você sofreu sem a Milena e saber o quanto vai sofrer antes de morrer, porque vou te contar como fiz tudo. Todos os momentos que passei com ela, detalhe por detalhe.

— Não, eu não quero saber.

— Primeiro eu observei vocês, por dias, meses. Tracei cada detalhe desse sequestro, juntei o máximo de pessoas que consegui, esquematizei tudo, desde o shopping até esse exato momento. — alcançou uma garrafa de cerveja na mesa de centro e virou na boca, lembranças me invadiram. — Você... — apontou para o homem. — Já pode ir, assumimos daqui. — o homem levantou, deu uma leve piscada para mim e saiu da casa. — Voltando ao que estava dizendo. Não foi tão difícil conseguir a confiança da sua filha, aliás, parabéns! Ela é super doce, carinhosa e educada. No dia do shopping, a chamei para tomar um sorvete e ela disse sim quando falei que era seu amigo, mas a apaguei ali mesmo.

— Você já me fez sofrer, você venceu. Não precisa me torturar me contando essa coisas.

— Eu decido quando parar, não você. — respirou fundo. — Retomando. Nosso primeiro dia aqui foi tranquilo, dei banho nela, nós brincamos, eu a troquei antes de dormir.

— Seu desgraçado! — eu não queria imaginar qual rumo aquela conversa tomaria.

— Esses meses foram consideravelmente tranquilos, até a pirralha começar a chamar por você. E se não fosse a Daniela, eu teria acabado com a Milena certa. — olhei para Dani rapidamente. — Ela leva jeito com crianças.

— Quem era a criança?

— Qual criança?

— A que vocês jogaram no rio, quem era ela?

— Uma filha da puta sem sorte. — riu de forma fria. — Uma criança que por sorte ou azar foi escolhida a dedo por parecer muito com a Milena. Foi algo premeditado, desfigurar o rosto dela foi apenas um bônus.

— É muita maldade, eu não quero passar por isso! — tampei os ouvidos com as mãos, mas Leonardo as puxou com força.

— Você vai me ouvir, você vai saber como fiz. — percebi sua pupila dilatar. Ele sentia prazer ao dizer tudo aquilo. — A menina não sentiu dor. Dei um frasco de calmante e ela dormiu. Depois tirei sua roupa, a coloquei no chão e pisei em seu crânio. Apertei sua garganta, até escutar um último suspiro cansado. Usei uma barra de ferro para desfigura-la e por fim coloquei o vestido da Milena. O processo de fazer vocês encontrarem o corpo foi fácil, bastou colocá-la no carro e jogá-la no lago, crianças sempre brincam ali.

— Você é um monstro! — cuspi as palavras, me permitindo chorar, era assustador saber o que ele havia feito. — Aquela criança tinha uma família, pais, pessoas que a amavam. Como você teve coragem? É muita crueldade! Você nos fez pensar todo esse tempo que era a nossa filha e estamos felizes que não seja, mas acha que diminui o sofrimento saber que outra mãe perdeu a filha? Acha que diminui o sofrimento saber que uma criancinha passou por tudo isso? Que você a impediu de crescer com suas próprias mãos? Acha que diminui o sofrimento saber que essa mãe pode estar esperando até hoje a filha voltar para casa, esperando novas pistas e tendo esperanças de que o amor da vida dela esteja bem?

— Eu sei que não diminui e é exatamente a graça de tudo. Porque sei que terá esse peso na consciência para sempre.

— Eu? Está enganado! Não sujei minhas mãos com sangue inocente, com sangue de uma... de uma criança!

— Eu sujei. Mas te conheço extremamente bem para saber que se culpará pelo resto da vida, que acordará enquanto viver com a imagem dessa criança sendo amassada pelos meus pés.

— Você vai pagar muito caro por isso. Vai pagar na cadeia e depois no inferno.

— Se me pegaram. — falou, dando outro gole na cerveja e de repente algo passou pela minha mente.

— Como conseguiu meu número? Joshua passou?

— Não! Eu tenho um irmão, lembra? E por acaso ele foi o seu psiquiatra.

— O Dreicon... contei tudo para ele, eu não acredito que...

— Você acreditou mesmo que alguém do meu sangue fosse ficar contra mim? Querida, Carol, você deu um tiro no próprio pé ao pedir ajuda ao Drei, ao contar todo o planinho fodido que tinha com Selma e Dayane. Quando o meu irmão me contou, eu soube que pedir um milhão seria uma ótima ideia. Eu já sabia que você não tinha e eu também sabia que aceitaria trocar de lugar com a sua filha. — fungou. — Eu queria você e consegui.

— Não acredito que confiei nessas pessoas, não acredito que dormi com meus inimigos, que os deixei entrar na minha casa. — eu já não conseguia mais chorar, já não conseguia mais ter forças e muito menos noção do que estava acontecendo ali. Toda minha vida começou a parecer mentira e então desejei a morte. — Nunca vou te perdoar, Joshua.

— Mais alguma pergunta? — Leonardo levantou e se aproximou de mim, tão perto que conseguia sentir seu hálito quente e fedido no meu rosto. — Ou já posso pular para a parte que aperto sua garganta de forma que vai se ver morrendo?

— Faça o que quiser, Leonardo. Não faz sentido lutar pela minha vida. — levantei as mãos em forma de rendimento. — Está certo, você venceu! — foi a última coisa que disse antes de sentir as mãos pesadas apertarem minha garganta e seu joelho pressionar minha barriga. A sensação era de estar dentro de uma caixa trancada com cadeado e ser arremessada ao mar. Eu não sentia dor, apenas meus pulmões arderem, mas não lutei... eu não queria.

E de repente, como se tivessem me transportado para outro mundo, senti meu corpo leve e pude respirar sem dificuldade, mesmo tossindo muito. Me permiti fechar os olhos e ao abri-los novamente, Leonardo estava caído no chão, ao seu lado Daniela estava parada e segurava uma arma.

Um Bebê Entre Nós - Segunda Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora