A chegada dos caras-pálidas, ao que eles chamaram de "Mundo Novo", trouxe muita destruição e morte ao nosso povo. Eles ocuparam as terras próximas ao Oceano Atlântico, além das margens do Rio Mississipi. Trouxeram suas carroças, montarias e os cavalos de ferro (que hoje chamamos de locomotivas) tomando posse de toda a terra que encontravam. Muitos caras-pálidas chegaram com vestimentas azuis e empunhando armas que cuspiam fogo. Eles se organizavam em verdadeiras fortificações de madeira.
Antes de sua chegada, as diversas tribos de nosso povo dividiam a terra e os frutos que ela nos dava pacificamente. Eles invadiram nosso território, exterminaram aldeias e profanaram terras sagradas. Por isso, tentamos fazer um acordo com eles para dividirmos a terra, mas eles nos traíram, desrespeitando o tratado feito. Perceberam que os búfalos são muito importantes para a nossa sobrevivência e tentaram exterminá-los para nos enfraquecer.
Muitos membros de nosso povo resolveram defender nosso território em uma tentativa de resistência: atacaram caravanas, fazendas e até enfrentaram os homens armados e os cavalos de ferro. Alguns mais violentos mataram caras-pálidas, arrancando seus escalpos e os exibindo em rituais festivos. Outros foram contaminados pela ganância: vislumbraram-se com as armas e riquezas por nós desconhecidas que os caras-pálidas possuíam e passaram a entregar a localização de nossas aldeias e de riquezas escondidas.
As diversas aldeias de nossa tribo, os Sioux, se uniram às aldeias da tribo dos Cheyenne, sob o comando dos chefes Touro Sentado e Cavalo Louco. Entramos em guerra, confrontando os caras-pálidas. Tivemos grandes vitórias, mas também derrotas. Nosso povo foi massacrado, mas conseguimos um Tratado de Paz e os caras-pálidas se retiraram do nosso reduzido território. Seus fortes foram queimados em uma espécie de festividade por membros de nosso povo.
Mas, eles retornaram. Invadiram nossas terras em busca de ouro. Tentaram comprá-las, mas o que eles nos ofereceram não tinha o mesmo valor que tudo o que poderíamos desfrutar da terra.
Em uma das aldeias dos Cheyenne, vivia o jovem Lobo Cinzento, filho de um membro importante de sua tribo. Um dia ele entrou na floresta para caçar e não retornou. Cão Bravo, da tribo dos Pawnee, que sempre foram nossos inimigos, procurou os Cheyenne e contou-lhes que foram os membros de nossa aldeia Sioux que sequestraram Lobo Cinzento para que ele falasse onde ficava a mina de ouro que se localizava no território Cheyenne. Isso desestabilizou nossa amizade e foi quebrada a união que nos fortalecia contra os caras-pálidas.
Os caras-pálidas enviaram suas tropas de casacos azuis fortemente armadas com canhões, morteiros, metralhadoras e bananas de dinamite. Frente à brutalidade de suas armas, fomos obrigados a nos render. Eles delimitaram nossa terra, criando pequenas reservas para morarmos. Os principais chefes de nosso povo foram mortos e os que moravam nas reservas foram tratados como prisioneiros de guerra.
Éramos mais de 25 milhões de indígenas e tínhamos em torno de dois mil idiomas diferentes. Após as guerras, nosso povo foi reduzido a dois milhões e as reservas foram divididas entre as tribos. Nós, os Sioux, ficamos na reserva indígena Pine Ridge (cume coberto de pinheiros) no estado que eles chamam de Dakota do Sul, Estados Unidos. Nossa aldeia ficou na cidade chamada Porcupine (porco-espinho) e por causa do ocorrido com o jovem Cheyenne, até hoje somos tratados como traidores de nosso povo.
- Essa é a história de como nossa aldeia veio parar nesta cidade e porque nossos irmãos nos ignoram, minha filha. - falou Noite Estrelada.
- Vovó, o jovem da história, o Lobo Cinzento, morreu? - perguntou Lua Branca.
- Não sabemos, querida. Seu corpo nunca foi encontrado. Nossa tribo foi acusada injustamente, pois os Cheyenne sempre foram nossos amigos e não tínhamos interesse em suas riquezas. Encontraram alguns de seus pertences na cachoeira Lágrimas do Céu, que fica dentro de nosso território. Mas não acreditaram em nossa palavra porque não tínhamos como provar que não fora nenhum membro de nossa aldeia que sumira com o rapaz.
- E podemos fazer alguma coisa para limpar a honra de nosso povo?
- Não há nada que possamos fazer, pequena. Isso foi há muito tempo. Agora durma, que já está tarde e crianças de nove anos não devem ficar acordadas até essa hora.
- Boa noite, vovó.
- Boa noite, Lua Branca. - falou Noite Estrelada depositando um beijo na cabeça da neta.
Noite Estrelada apagou a luz e fechou a porta do quarto.
- Não deveria ficar contando essas histórias para ela, mamãe. - falou Pequena Raposa.
- Minha filha, Lua Branca precisa saber da história de nosso povo. Não podemos prendê-la na reserva para sempre e, caso ela encontre com algum membro de nossa tribo, deverá saber por que vão ignorá-la.
Pequena Raposa concordou com a mãe e recolheu-se para seu quarto.
Lua Branca ouvira tudo o que a mãe e a avó conversaram. Ela não acreditava que não podia fazer nada para trazer de volta a honra de sua aldeia. Ficou olhando a luz da lua cheia que iluminava seu quarto e a enchia de esperanças. Cansada, adormeceu.
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A Xamã e o Lobo [AMOSTRA]
FantasyLua Branca mora em uma reserva Sioux nos Estados Unidos. Ela será a futura xamã de sua tribo e possui um grande poder de cura ainda não descoberto. Ela enfrenta os conselheiros de sua tribo para conseguir permissão de estudar medicina fora da reserv...