Capítulo 4 - Lobo ferido

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Lua Branca acordou, mas não queria se levantar. Estava com vontade de ficar na cama o dia inteiro, mas ela tinha seus afazeres de casa e precisava cuidar de Pintado. Ela se virou na cama e abraçou o travesseiro. Abriu os olhos e olhou sobre o criado-mudo.

– O celular! Ainda tenho que buscá-lo. – falou ela para si mesma.

Espreguiçou-se e levantou lentamente. Calçou seus chinelos, pegou uma toalha e foi para o banheiro.

Já no chuveiro, deixou a água escorrer por seu corpo na tentativa de espantar a preguiça. Ela se lembrou dos acontecimentos do dia anterior e lágrimas rolaram em sua face. Ela se sentou no chão, abraçou as pernas e chorou compulsivamente enquanto a água caia em seu corpo. Estava se sentindo confusa. Ficou ali meio perdida em seus pensamentos e sentimentos. Mas, batidas na porta lhe trouxeram de volta à realidade.

– Lua Branca, é você que está ai? – perguntou Noite Estrelada.

– Sou eu sim, vovó. Eu já vou sair. – respondeu Lua Branca com a voz meio embargada.

– Está tudo bem?

– Está sim, vovó. Não se preocupe.

– Estarei na cozinha se precisar de mim.

Lua Branca levantou a cabeça e deixou a água correr em seu rosto. A dor de mentir novamente deixava o seu coração destroçado. Sua família não merecia isso, mas ela não podia contar o que acontecera porque seu pai ia querer transferi-la para Sinte Gleska. Se ela sofria discriminação na SDSM&T, em Sinte Gleska seria bem pior.

Ela se levantou, desligou o chuveiro, se enrolou na toalha e foi para seu quarto. Lá, vestiu um short jeans e uma blusa regata verde água justa na região dos seios e mais solta na região da barriga. No decote em V e abaixo dos seios, havia detalhes em forma de corrente em um tom mais escuro. Penteou os cabelos e deixou-os molhados, para que secassem naturalmente.

Lua Branca seguiu para a cozinha para ajudar a avó com o café da manhã. Ela comeu somente uma fatia de pão com manteiga e um copo de suco de laranja, pois não se sentia muito bem. Estava um pouco enjoada.

Saiu de casa e foi para o estábulo. Escovou os pelos de Pintado e resolveu cavalgar para que ele se exercitasse. Já havia algum tempo que eles não passeavam.

Lua Branca ganhara Pintado de seus pais quando pequena. Ela adorava cavalgá-lo e sentir o vento em sua pele. Estavam tão acostumados um com o outro que Lua Branca não usava sela.

Lua Branca montou, segurou na crina de Pintado e atiçou-o com o calcanhar. Pintado andou um pouco e logo estava trotando. Lua Branca cavalgou com Pintado até a floresta e seguiu pelo caminho que levava à cachoeira. Ela guiou Pintado por entre as árvores, dando diversas voltas antes de entrar na clareira próxima à cachoeira. Ela queria se certificar de que o lobo não estava por perto.

Lua Branca desmontou e deixou Pintado pastando enquanto procurava seu celular. Ela o encontrou no mesmo local onde havia estendido o xale no dia anterior. Ao lado dele, encontrou um lobo entalhado em madeira com um arame que o atravessava. Este arame estava preso em uma ponta em um cordão preto e, na outra ponta, pendia uma pena de metal. Alguém estivera ali. Mas quem?

Lua Branca guardou o celular no bolso do shorts e prendeu o cordão em seu pulso, dando algumas voltas.

De repente, um disparo de arma de fogo é ouvido não muito longe dali e seu eco se espalha pela floresta fazendo com que várias aves voassem. Pintado se assusta e empina, ficando apenas nas patas de trás. Lua Branca corre até ele, segura as rédeas e o acalma. Em seguida, outro disparo é ouvido. Pintado se assusta novamente, mas logo Lua Branca consegue acalmá-lo. Ela resolve ir em direção de onde vieram os disparos para ver o que acontecia, pois sabia que deveria ser algum invasor. Ninguém de seu povo caçaria dentro da floresta, pois a respeitavam. Lua Branca amarra as rédeas de Pintado em uma árvore para que ele não fuja.

A Xamã e o Lobo [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora