Capitulo 3: Aurora

68 10 18
                                    

Se tu vens a qualquer momento, nunca
saberei a hora de preparar o coração

- O pequeno príncipe

O céu se torna mais azul conforme as horas passam, o que antes eram nuvens acinzentadas se tornam apenas parte de alguns raios desenhados pelo Sol, enquanto dentro de mim, o que antes eram sentimentos perdidos dentro do pequeno universo que é a minha mente, se tornam paredes que me sufocam fazendo com que a única forma de expressão seja os sorrisos jogados aleatoriamente durante as aulas.

Summer está voltando para a mesa em que estamos passando o intervalo, ela ocupa suas mãos com dois copos de suco, e sorri quando percebe que estou a olhando. Chegando na mesa me entrega um dos copos e animada diz:

— Você não vai acreditar no que aconteceu na aula de história — me entregando alguns saches de açúcar.

— O professor te pediu pra que saísse de novo? — pergunto sorrindo

— Não, isso não acontece mais. O Vincent nos quer na festa que vai acontecer na sexta

— Outra festa? Em menos de uma semana, jura?

— Claro, temos que comemorar

— Comemorar o que?

— Sei lá, a juventude — ela responde, dando de ombros — Você jurou que iria dessa vez, lembra ?

Tento desviar os meus olhos do dela, uma péssima ideia, já que eles trombam com os de Kyle do outro lado do refeitório. Ele agora sem casaco, deixa amostra algumas tatuagens espalhadas em seus braços. Não desviamos o olhar, e ele sem tirar os braços da mesa, levanta um pouco a mão em forma de cumprimento.

— Aurie, eu estou falando com você — Summer diz me cutucando

— Oi? Ah, claro que eu lembro... Só não gosto muito de festas

— Só dessa vez, por favor — ela diz juntando as mãos, em forma de suplica.

— Ok, mas eu vou embora antes das 01:00 - digo mexendo no suco.

— Tá doida? A festa começa às 01:00 — ela me olha como se eu fosse uma espécie rara de ET

— Que tipo de festa começa esse horário? Tudo bem eu vou, mas volto quando perceber que foi um erro ter ido.

Ela concorda e segura minha mão agradecendo.

Após um tempo conversando, sinal soa mais alto e quando percebo já estamos caminhando para lados opostos, a fim de encontrar nossas próprias salas

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Após um tempo conversando, sinal soa mais alto e quando percebo já estamos caminhando para lados opostos, a fim de encontrar nossas próprias salas.

A aula agora é de Literatura, quando passo pela porta vejo duplas por todas as partes, inclusive Kyle com Malia, a menina que carrega consigo o céu nas pontas dos cabelos e que aparece todos os dias com maquiagens que ressaltam os seus olhos. Kyle conversa com ela sem demonstrar grande interesse, sem tirar os olhos do celular.

Me sento perto da janela, sozinha, pensando em como queria Summer aqui comigo.

Em uma sintonia quase ensaiada o professor entra na sala, fechando atrás de si a porta, e Kyle se senta na cadeira ao meu lado.

— Você sempre aparecendo sem avisar — digo o olhando. Ele sorri.

— Você nunca tem coragem de me chamar, então eu venho.

O olho por um tempo, é inacreditável como ele costuma agir como um perfeito poema clichê ambulante.

Alec Herdon, o professor, vai de um lado para outro explicando a matéria, sua paixão está expressa a cada palavra sobre o assunto, isso encanta a mim e aos demais alunos, nos fazendo ficar em completo silencio para que a voz dele ocupe sozinha o espaço inteiro.

No meio da aula, Herdon diz que nossas duplas serão fixas dali pra frente, e nos pede para ler uma obra de uma das irmãs Bronte, para um debate. Sinto minha dupla encostar sua mão no meu braço, o olho e ele sussurra:

— Parece que teremos que trabalhar juntos agora, com isso, precisa parar de me ignorar

— Eu não te ignoro, só não respondo as suas provocações — digo o olhando

— Aurora Harper, eu prometo pela nossa boa convivência, parar de te provocar, na maior parte do tempo pelo menos

— Isso é quase impossível, mas eu vou tentar acreditar em você

— Por que é "quase impossível"? — ele pergunta, colocando a mão no peito, fingindo estar ofendido.

— Porque esse é quem você é, Kyle Hart.

Um novo barulho do sinal nos faz levantar. Malia vem até onde estamos, com seu material nas mãos e seu cabelo sendo preso por ele mesmo, um caos de fios azuis e amarelos ficam espalhados pelo seu rosto.

— Estava pensando se você gostaria de vir comigo depois da escola, para tomarmos alguma coisa — Ela diz ficando de frente para ele, fingindo minha inexistência.

— Sinto muito, prometi levar Harper para casa, talvez em outro momento

Malia me olha por alguns segundos e sem mostrar nenhum resquício de desconforto ou arrependimento diz "ok" e se retira.

— Por que eu não sabia dessa promessa de me levar pra casa?

— Agora você sabe, te espero na saída. Até mais — ele diz indo embora.

[...]

As duas ultimas aulas passaram voando, mas deixaram um rastro de cansaço em mim, afinal quando as pautas são prótons e nêutrons, por duas aulas seguidas, é difícil uma sobrevivência sem consequências.

Ao atravessar as portas de saída vi de longe Kyle, ele conversava com algumas pessoas, mas se virou rápido o bastante para me ver quase fugir. Se despediu das pessoas com quem estava e veio até mim.

— Você não precisa mesmo me levar pra casa — Digo passando a mão no cabelo

— Lógico que preciso, eu falei que o faria. Vamos ? — ele percebe meu desconforto e se prontifica — Deixa de besteira, é só uma carona

— Tudo bem

Caminhamos juntos até o estacionamento, em completo silencio. O carro dele poderia ser visto de longe já que era um dos poucos que ainda estavam lá.

Kyle fica atrás do volante, colocando o sinto e pegando o celular, para em seguida me olhar e dizer:

— Podemos ir tomar um café antes de eu te deixar em casa, o que acha?

Amar-teOnde histórias criam vida. Descubra agora