Acordei com uma orquestra particular, não daquelas com violinos afinados, pianistas bem treinados e maestros preparados, na verdade era o oposto disso. O barulho vinha da cozinha, o som de liquidificador embaralhado em meio as palavras ditas em alto som pela televisão. Minha mãe era quem orquestrava, sem quaisquer maestria, toda essa confusão de sons.
— Bom dia querida, não queríamos te acordar. — Eu a olhei com a minha melhor expressão de ofensa.
— Claro que não, imagine se quisessem, teriam explodido meu quarto.
— Seu amigo e seu pai estão tomando café na mesa. Ele acordou bem cedo, mas pediu para não te acordar.
Só quando ela mencionou Kyle me lembrei que ele estava lá, pensei em correr, mas não o fiz, ao contrário disso, fui até a mesa, onde ele e meu pai conversavam animados sobre algo, que só notaram minha presença quando estava perto o bastante.
Os fios ruivos de Kyle estavam uma confusão, a luz do cômodo não era o suficiente para dar a cor costumeira, isso não me impedia de ver o quão laranja eles eram, mas nesse momento eles pareciam mais com as folhas caídas de outono, do que com o finzinho de tarde ensolarado. Ele estava com a aparência de quem acabara de acordar, seus olhos não abriam completamente, enquanto suas sardas pareciam mais vivas do que nunca. Eu o olhei, mas ele não pareceu se importar, já que estava concentrado demais passando geleia na torrada.
— Bom dia raio de sol, sente-se conosco. Eu estava contando para o Kyle sobre quando eu e sua mãe nos conhecemos. — Meu pai disse, se levantando e beijando o topo da minha cabeça.
Ele sorriu, sem mostrar os dentes, ao ouvir "raio de sol".
— Eu gostei muito de saber um pouco mais sobre a história de vocês. Ter um amor de verão que dura tanto tempo é realmente raro. - Kyle disse ainda com a torrada na mão.
Me juntei a eles, era raro eu não estar atrasada, então aproveitei o momento. Eu era a mais quieta na mesa, Kyle conversava com meus pais como se fizesse parte da família, enquanto eu ora ou outra fazia algum comentário.
— Eu e Beatrice precisamos ir, foi um prazer te conhecer Kyle. Espero que volte mais vezes. — Meu pai disse se levantando e erguendo a mão em forma de cumprimento à Kyle.
— O prazer foi meu sr. Harper. — Ele disse parecendo a pessoa mais simpática do mundo.
— Me chame só de Christopher. Aurora a dona Anne vem hoje arrumar a casa se precisar de algo deixe um bilhete para ela. — Disse novamente beijando o topo da minha cabeça e se afastando, acompanhado pela minha mãe.
— Eu gostei dos seus pais. — Kyle disse bebendo um pouco do próprio café.
— Eles parecem ter gostado de você, também.
— Acho que vou em casa, — disse pegando o celular que estava em seu bolso para olhar a hora — preciso trocar de roupa.
— Você consegue chegar a tempo? Sabe, sua casa é longe.
— Eu posso entrar na segunda aula. — Eu o olhei franzindo o cenho — O que foi?
— Você sabia que não tem problema repetir roupa só uma vez, não é?
— Eu sei disso, mas não é essa a questão. — Ele pareceu pensar um pouco, para continuar — Eu só não queria dar mais trabalho.
— Desculpa esfarrapada.
— Você é quem está arrumando desculpas para eu ficar mais tempo com você. — Nesse momento eu quase engasguei com o café que estava bebendo, e ele continuou — Relaxa, eu pedi para que trouxessem minhas roupas pela manhã.

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Amar-te
Storie d'amoreAurora sempre foi desastrada, do tipo que tropeça com cadarços desamarrados, se embola nos fones quando desconectados e colide com meninos planetas que a tiram de órbita. Kyle é o menino presunçoso de cabelos alaranjados, o menino Marte que com algu...