Capítulo 5: Aurora

52 9 12
                                    

Seu All Star azul combina com o meu de cano alto.
- Nando Reis

Eu sou uma confusão e sempre soube disso, mas agora posso compartilhar essa não-novidade com os vizinhos, já que perdi minhas chaves e enquanto o porteiro tenta achar as reservas, bato à porta com desespero, na esperança de que alguém esteja em casa e a abra pra mim. Atlas se pudesse já teria o feito, é perceptível, já que ele não para de arranhar a madeira na tentativa de me ajudar. 

Após longos 20 minutos tentando, me sento no chão ao lado da porta e espero até que Felipo volte. Nos meus fones de ouvido, Alex Turner de maneira doce canta 505 em um looping eterno e eu o acompanho, com a cabeça entre os joelhos e a mochila jogada ao meu lado.

O elevador se abre e eu de maneira involuntária olho quem passa pelas portas. Ao contrário do que eu esperava, é um jovem, dispensando a possibilidade de ser Felipo com as chaves, suspiro frustrada.

Eu o olho de novo e percebo que o rapaz é alto, de maneira que até eu com meus 1,67 teria de levantar o pé para o abraçar, ele tem a pele bronzeada, como se toda tarde corresse pela praia de Brighton e seus cabelos, uma confusão de tons castanhos que faziam pequenas ondas. Ele tentava equilibrar o celular com a cabeça e o ombro, enquanto arrastava duas malas.

— Sim... Eu já cheguei... Vocês chegam amanhã?... Certo — Ele notou minha presença e sem emitir som me disse olá, que eu respondi com um aceno — Ok mãe, preciso desligar... Certo, prometo não tentar cozinhar... Um beijo e até mais.

Ele guardou o celular no bolso e caminhou até o apartamento em frente ao meu, para então voltar a me olhar.

— Precisa de ajuda? Está machucada?

— Os únicos que podem me ajudar são o porteiro, o chaveiro, ou, Deus caso ele tenha misericórdia e me deixe ser o menos "eu" possível.

— Certo — ele disse sorrindo — Eu te ofereceria abrigo, mas me disseram para tomar cuidado com as vizinhas, meninas que ficam esparramadas no chão em frente aos apartamentos.

— Eu não aceitaria de qualquer forma... Meus pais pediram para tomar cuidado com os novos moradores, meninos que oferecem abrigo. — Eu respondi da mesma maneira, o fazendo sorrir novamente, dessa vez abaixando a cabeça.

Quando ele ia responder o elevador se abriu e Felipo veio em minha direção rapidamente, com um molho de chaves em uma das mãos.

— Senhorita Harper, encontrei as chaves. Foi difícil, começarei a deixá-las na minha gaveta, para os futuros casos. — ele disse enquanto girava a chave na porta — É a terceira vez em 2 meses.

— Muito obrigada, eu não sei o que faria sem você.

Felipo entrou no elevador ainda falando sobre a minha falta de atenção com as coisas. O novo morador, que estava encostado em sua porta, riu com uma das mãos na boca, para abafar o som.

— Então a senhorita Harper fica quase toda semana esparramada no chão esperando sua próxima vítima?

— Droga, você realmente descobriu minha técnica — disse abrindo a porta e assustando Atlas que me esperava na parte de dentro.

— Ei, não vai me dizer seu nome? — ele disse agora mais perto de onde eu estava.

— Não na verdade — ele me olhou franzindo a testa e eu ri — Aurora Harper.

— Aurora Harper — ele repetiu em voz baixa — Certo Aurora Harper, eu, Ethan Dexter, espero te ver mais vezes, mesmo você sendo um risco para os novos moradores do prédio e eu estando nessa categoria.

Amar-teOnde histórias criam vida. Descubra agora