Os sons deles estavam em toda parte, podia ouvi-los chiar, podia ouvi-los rir.
-Te peguei, sua malandrinha!
Felps guinchou de susto quando uma mão ossuda o agarrou pelo braço.
- Por favor...
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Não importava o quanto gritasse, ninguém veio socorrê-lo.
–A gente não pode deixar você se matar. – Falou Gong condoído. –Não chore, Mac só tá fazendo isso pro seu bem.
Felps, que já tinha se cansado de espernear e se deixou cair no chão coberto de palha do casebre escuro.
Gong se virou para acender um archote, iluminando o ambiente de poucos metros quadrados que dispunha de uma lareira apagada, uma cama estreita coberta de mantas marrons, ao lado de uma mesinha onde um jarro parecia recém colocado.
–Gong,por favor...
–Quando você ficar mais calmo, vai ver que quase fez uma burrice –Disse o gordo e paternal taberneiro rumando para a saída que parecia muito menor que ele, de modo que deixou penas brancas para trás quando saiu roçando a abertura– Aí a gente deixa você sair, está bem?– Ele sorriu tristemente e se foi travando a porta com um barulho de coisa rangendo pela madeira.
E no mesmo lugar onde Gong o tinha colocado, Felps permaneceu e chorou por toda a noite, odiando-se por ter sido tão burro. Por que não tinha simplesmente partido? Como poderia ter preferido ficar com Marion? O homem que o acorrentara numa tenda permitindo que um darf lhe arrancasse um pedaço do ombro?
–Ictar... – Soluçou apertando sua bela túnica de pele de panteras–Por que eu não fui com você? Por que eu não fui?
E quando o som de peso se arrastando repetiu-se, a porta se abriu e Felps recuou contra a parede oposta, mas era só Gorgoncor outra vez.
Ele entrou junto com a luz do dia, fazendo Felps erguer uma mão para proteger os olhos inchados. Um cheiro de pão fresco inundando o ambiente.
–Suco de guffis, você gosta? – Ele encostou a porta – E pão. Não se preocupe, é pão de puros. Siri que fez. – Ele fez uma pausa na qual lançou um olhar para cama, depois tornou a fitar Felps – Ah,pobrezinho, você passou a noite aí no chão, não foi? Pela Sícy, que tristeza.
Gong colocou sua bandeja na pequena mesa ao lado da cama, empurrando perigosamente o jarro de água.
–Mac disse que pode mandar vir seus vestidos se você quiser.
–Eu não quero nada.
–Escuta, o Mac só tá cuidando de você...
–Gong, me deixe sair!
–Eu não posso, garoto, fiz uma promessa.
–Por favor... – Implorou, mas sabia que não adiantaria muito. "Ictar tem Ivela", pensou consigo, "Marion tem Gong. Ele jamais o trairia".
–Escuta direito o que eu vou te falar, está bem? – Gong afagou sua cabeça– as coisas são assim por aqui, Mac nos ajuda e nós o ajudamos, é assim que funciona. Eu e Siri moramos aqui graças a ele. O Caçador teria enfiado a gente em comboios diferentes, mas Mac não. Ele se preocupa conosco, garoto. Ele é só um humano, mas cuida de nós de verdade, sabia? Ah, não chore... Ele não vai mandar você para o meio dos darfs em Belvereth porque ele sabe o absurdo que isso seria, e... Aquelas coisas que ele falou...Eu ouvi, mas...Não foi sério. Ele só tava bêbado e muito triste. Ele não vai deixar você viajar sozinho porque sabe que qualquer um roubaria o seu cavalo e faria coisas terríveis com você. Terríveis mesmo.
–Então ele vai me manter aqui para sempre?
–Eu não sei – Gong encolheu os ombros – Talvez você entenda o absurdo que estava quase fazendo e desista de fazer no fim das contas. Você deve ser um garoto inteligente. – Sorriu-lhe –Agora levanta daí e come, vai! Anda! Depois tente dormir e... Tem um penico debaixo da cama se precisar. Eu venho depois pra ver como estão as coisas.
