- Ele é bonito - afirma Ana Flor - Beeem bonito.
- Não é nada. Ele é estranho, isso sim - nega Cler contorcendo o rosto.
- O que você acha, Sophia? - pergunta Ana com um sorriso malicioso.
- Eu acho ele gostoso. Agora, bonito, bonito mesmo, não acho, não. Pelo o contrário, ele é ultra estranho - digo, um tanto quanto desinteressada - Pra ser sincera, eu estou mais focada na desgraça desse código.
- Tu ainda tô nessa? - pergunta Cler intrigada e sem reparar no seu pequeno erro gramatical.
- O certo é "tá" - corrige Ana Flor.
Confusa e não entendendo a falha, a francesa Cler, esforçando-se para compreender a situação, pergunta com um dos poucos pronomes que conhece:
- Que?
- Você errou de novo - ri Ana Flor - O correto seria: "Tu ainda tá nessa?".
- Ah, verdade. Abreviações sempre foram muito difíceis pra mim - responde Cler com um forte sotaque francês, agora compreendendo toda a situação.
Zombando desse pequeno equívoco, respondo sua pergunta:
- Sim, eu ainda tá nessa...
Imóvel, a francesa me olha com perspicácia, analisando cada palavra, som e intenção presente na minha fala, procurando um indício qualquer de sarcasmo e torcendo para encontrar o que, para ela, depois de tantos momentos de zombaria que passaram-se despercebidos, significa muito. Ao encontrar, um sorriso resplandecente se forma em seu rosto:
- Para! Você está tirando onda com a minha cara - rindo, Cler me dá um leve tapa no ombro e diz - Isso não é nada legal.
- Óbvio que é! E a melhor parte é que na maioria das vezes você não entende nada - digo, com um leve deboche, virando-me para copiar as informações presentes no quadro.
Para falar a verdade, eu nunca consegui entender a real necessidade de precisar aprender vanguardas, artistas, estilos e blá-blá-blá. Quer dizer, quando eu estiver passando na rua, quem vai perguntar: "Quais são as características do abstracionismo de Kandisnky"? Ninguém. Se duvidar, nem 40% da população mundial sabe quem foi esse cara e, sinceramente, não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe e decapitarei o ser que abrir a boca para falar comigo sobre. Tudo bem, eu sei, pode ser necessário algum dia, mas olha, não dá pra negar que essa matéria é um porre. Não, um porre, não, triplo-porre.
Batendo forte com um pincel na lousa, o professor de Artes grita:
- Silêncio, pessoal! - olha atentamente para o novato e dá um sorriso de canto de boca - Nem para receber o nosso colega, Carlos, direito... Deviam calar a boca e copiar, porque eu só recebo isso aqui até hoje.
A sala fica em silêncio. Não por medo mas, sim, por precaução. Eu é que não quero ficar com menos um ponto na média em Artes. Muito menos agora que o Tomás é o nosso professor e não deixa ninguém em paz com toda sua rigorosidade extrema, além da arrogância, claro, essa é sua marca característica. Definir Tomás Ribeiro sem, pelo menos, uma boa dose de arrogância é a mesma coisa que descrever um gato que não mia.
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Crônicas De Um Amor Proibido
RomanceApós se meter numa briga no Colégio Militar, Carlos, expulso, decide ir para uma nova escola e, logo no primeiro dia, conhece alguém que foi capaz de mexer com os alicerces do seu coração: Tomás Ribeiro, professor enigmático de Artes, PhD em deboch...