Capítulo 2 - O Código

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- Ele é bonito - afirma Ana Flor - Beeem bonito

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- Ele é bonito - afirma Ana Flor - Beeem bonito.

- Não é nada. Ele é estranho, isso sim - nega Cler contorcendo o rosto.

- O que você acha, Sophia? - pergunta Ana com um sorriso malicioso.

- Eu acho ele gostoso. Agora, bonito, bonito mesmo, não acho, não. Pelo o contrário, ele é ultra estranho - digo, um tanto quanto desinteressada - Pra ser sincera, eu estou mais focada na desgraça desse código.

- Tu ainda nessa? - pergunta Cler intrigada e sem reparar no seu pequeno erro gramatical.

- O certo é "tá" - corrige Ana Flor.

Confusa e não entendendo a falha, a francesa Cler, esforçando-se para compreender a situação, pergunta com um dos poucos pronomes que conhece:

- Que?

- Você errou de novo - ri Ana Flor - O correto seria: "Tu ainda nessa?".

- Ah, verdade. Abreviações sempre foram muito difíceis pra mim - responde Cler com um forte sotaque francês, agora compreendendo toda a situação.

Zombando desse pequeno equívoco, respondo sua pergunta:

- Sim, eu ainda nessa...

Imóvel, a francesa me olha com perspicácia, analisando cada palavra, som e intenção presente na minha fala, procurando um indício qualquer de sarcasmo e torcendo para encontrar o que, para ela, depois de tantos momentos de zombaria que passaram-se despercebidos, significa muito. Ao encontrar, um sorriso resplandecente se forma em seu rosto:

- Para! Você está tirando onda com a minha cara - rindo, Cler me dá um leve tapa no ombro e diz - Isso não é nada legal.

- Óbvio que é! E a melhor parte é que na maioria das vezes você não entende nada - digo, com um leve deboche, virando-me para copiar as informações presentes no quadro.

Para falar a verdade, eu nunca consegui entender a real necessidade de precisar aprender vanguardas, artistas, estilos e blá-blá-blá. Quer dizer, quando eu estiver passando na rua, quem vai perguntar: "Quais são as características do abstracionismo de Kandisnky"? Ninguém. Se duvidar, nem 40% da população mundial sabe quem foi esse cara e, sinceramente, não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe e decapitarei o ser que abrir  a boca para falar comigo sobre. Tudo bem, eu sei, pode ser necessário algum dia, mas olha, não dá pra negar que essa matéria é um porre. Não, um porre, não, triplo-porre.

Batendo forte com um pincel na lousa, o professor de Artes grita:

- Silêncio, pessoal! - olha atentamente para o novato e dá um sorriso de canto de boca - Nem para receber o nosso colega, Carlos, direito... Deviam calar a boca e copiar, porque eu só recebo isso aqui até hoje.

A sala fica em silêncio. Não por medo mas, sim, por precaução. Eu é que não quero ficar com menos um ponto  na média em Artes. Muito menos agora que o Tomás é o nosso professor e não deixa ninguém em paz com toda sua rigorosidade extrema, além da arrogância, claro, essa é sua marca característica. Definir Tomás Ribeiro sem, pelo menos, uma boa dose de arrogância é a mesma coisa que descrever um gato que não mia.

Crônicas De Um Amor ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora