E hoje é o grande dia!
É hoje que todos ficarão bêbados e loucos e...
Au...
- Foi mal! - grita, minha mãe, após jogar, sem querer, o casaco em cima do meu rosto.
- Tanto faz...
Enfim, hoje será um dia especial! Especial não, além de especial: hoje será incrível! A melhor festa do ano está para começar em poucas horas. Todos estão animados, se preparando para o melhor evento de todos que, lógico, ajudei a organizar, afinal, se não tivesse um mísero dedo meu nisso, não ficaria tão bom. Cada detalhe da decoração, do buffet, das músicas, de tudo, passou por mim e nunca estive tão orgulhoso. Desde o princípio, a ideia não só era deixar as pessoas mais relaxadas por conta da pressão do segundo ano, como também marcar mente e coração de cada um que estiver dentro da casa da Bella. Impossível? Não para mim.
Tudo está devidamente pensado. Em hipótese alguma vai existir um ser que, ao sair festa, irá se arrepender de ter ido. Pode até se arrepender de ter beijado alguém ou de ter ligado pro ex, mas se arrepender de ter entrado naquela casa, jamais. Essa noite será a noite dos sonhos, qualquer um poderá ser o que quiser, realizar os seus mais profundos desejos, por mais sórdidos que sejam, fazer qualquer coisa e não ser descoberto. Hoje, esta noite, todos viverão no mais profundo paraíso.
Fantasias, máscaras e escuridão preencherão a noite e o mais legal: ninguém precisa se identificar. Sim, isso mesmo, todos poderão ficar no anonimato, adotar um pseudônimo, fazer o que bem entenderem sem se preocuparem com o fato de serem descobertos. Será épico! Eu, por exemplo, vou de Zorro. Claro, algumas pessoas sabem quem eu sou, mas só as que importam, como a Sophia (óbvio) e a Bella. Fora esses, ninguém mais sabe, portanto, eu também poderei curtir a festa.
Na verdade, será que a Sophia ainda vai? Quer dizer, ontem ela disse que ia, mas acho que foi só por impulso. Ninguém muda de ideia tão rápido assim, muito menos ela. Alguma coisa deve ter acontecido, só não sei o que.
Tudo bem, isso não importa agora. Vou mandar uma mensagem tanto para ela quanto para o Carlos.
João Paulo [6:13 am]: Sophiaaa, tu vai hoje?
João Paulo [6:13 am]: Ei, você vai aparecer na casa da Bella mais tarde?É, agora só me resta esperar...
Ao que tudo indica, eles vão. O problema é que a Sophia é a Sophia, ou seja, quando ela diz não é não. Isso me preocupa porque eu quero muito que ela vá. Eu sei, esses dias ela não anda muito bem, mas poxa, talvez essa seja oportunidade perfeita para esquecer tudo que a aflige. Porém, se ela ainda insistir que não quer ir, eu também não vou pressionar, a escolha é dela.
Prii... Priii...
Olho a notificação e comemoro:
Carlos [6:15 am]: Vou vou
Carlos [6:15 am]: Mas eu não faço ideia de que fantasia usarIsso!
João Paulo [6:15 am]: Eu arranjo alguma coisa pra ti, relaaaxa
João Paulo [6:16 am]: Gosta de pirata?
Carlos [6:16 am]: Gosto
João Paulo [6:16 am]: Então chega uns 30 minutos mais cedo do horário combinado pra eu te dar a roupa, blz?
Carlos [6:16 am]: Tá, valeuAgora só falta a Sophia.
João Paulo [6:17 am]: Me responde logoooo
João Paulo [6:17 am]: Tu vai ou não?
João Paulo [6:17 am]: Heeeein?!Cristo, eu odeio quando ela me dá vácuo. É ridículo! O dedo dela não vai cair se ela digitar uma mísera letra. Porra! É só uma letra! Qual a dificuldade em fazer isso?
João Paulo [6:18 am]: Acabei de chegar na sala
João Paulo [6:18 am]: Tô te esperandoPrii... Priii...
Glória ao Pai! Finalmente a Sophia decidiu me responder.
Sophia [6:19 am]: Calma que acabei de chegar na escola
Sophia [6:20 am]: Guarda meu lugar
Sophia [6:20 am]: bjssCom passos pesados e muito ódio no coração, levanto-me com um caderno e um estojo na mão para guardar o lugar da Sophia. O mesmo lugar de sempre. Nem muito na frente, nem muito atrás. Calculadamente no centro, entre mim e as outras amigas dela. Desde que a conheço é assim, ela controladora demais para se quer mudar de lugar.
Com um movimento brusco, Sophia abre a porta, dizendo:
- O amor da sua vida acaba de chegar - sorri, sua voz ecoando por toda a sala, ainda vazia, como se ali vivessem outras mil Sophias diferentes.
- Você não é o amor da minha vida, porque o amor da minha vida nunca me daria vácuo - respondo com uma clara indiganção.
- Calma - ri - Veja pelo lado bom, eu decidi ir para a festa.
- Você vai de quê? - pergunto, entusiasmado.
- Segredo. Você só vai poder descobrir mais tarde...
Após colocar a bolsa no seu lugar, Sophia se dirige até mim com um sorriso malicioso na face. Eu adoro quando ela faz isso porque sempre é sinônimo de um beijo ou alguma novidade. Mas agora, com a sala vazia, as chances de ser um beijo são muito maiores que de uma novidade qualquer. Apesar disso, ainda estou com raiva. Odeio vácuo! Isso não nada legal, muito menos, vindo dela.
Interrompendo seus planos, digo:
- Certo, chega.
Nunca tivemos um relacionamento, na verdade, nunca tivemos algo constante. Somos amigos e nos divertimos. Como? Aí depende do dia. Acho que não dá para chamar, seja lá o temos, de "amizade colorida", porque vai bem além disso. Não é só sexo, gostamos mesmo um do outro, mas não o suficiente para ter, de fato, um relacionamento.
- Porque? - pergunta, cruzando os braços e arqueando uma das sobrancelhas, provavelmente se perguntando por quem estou trocando-a.
- Simples, porque estou com raiva.
- Porque eu não te respondi na hora? Ah, qual é, não foi por mal. Eu estava ocupada, sério. E sabe, você é o melhor ficamigo que esse mundo já viu - sorri.
Se aproximando ainda mais, Sophia passa seus dedos pela minha nuca, fazendo cada centímetro de pele se arrepiar e meu coração palpitar ainda mais forte. Nossos narizes se tocam e, sem conseguir resistir aquilo, apenas puxo sua cintura para que nossos corpos se encontrem. Seu cheiro doce, sua pele macia e seu toque despertam uma necessidade extrema de tê-la só para mim.
Segurando-a firme, desejando que aquele momento nunca vá embora, a beijo como se fosse a última vez, porque a possibilidade existe. A Sophia é a Sophia. Qualquer um gostaria de ter a sorte que tenho de beija-la tão intensamente como agora o faço.
Dando um último beijo em seus lábios, a envolvo em meu braços e ali ficamos, em pé, sozinhos, acariciando um ao outro e, naquele momento, sentindo o calor da sua pele, percebo: todos esse anos eu a amei, mas só agora sou capaz de admitir a existência desse sentimento tão perigoso, mesmo que somente para mim.
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Crônicas De Um Amor Proibido
RomansaApós se meter numa briga no Colégio Militar, Carlos, expulso, decide ir para uma nova escola e, logo no primeiro dia, conhece alguém que foi capaz de mexer com os alicerces do seu coração: Tomás Ribeiro, professor enigmático de Artes, PhD em deboch...