Capítulo 01

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Era noite. Madrugada para ser mais exato. Ela subia pelo muro, achava as falhas entre os blocos de pedras irregulares e avança para cima. Quando chegou no topo se sentou no muro, olhando para a mansão. Estava completamente coberta por sua capa azul escuro, quase preta. Olhou para o chão. Dois guardas. Com suas lanças em mãos, pareciam vigiar a área, prontos para latir e chamar mais guardas caso vissem um intruso. Pulou no solo com leveza e enfiou as adagas na garganta de cada um. Eles nem tiveram tempo de rosnar.

Começou a caminhar pelo jardim indo em direção a casa. Era como uma sombra na noite. Parou em baixo de uma janela, pulou como um gato. Entrou silenciosamente no quarto. Um homem gordo, dormia ruidosamente, roncando. Sozinho. Deu passos sem imitir som. Com a lâmina já em mãos. Colocou a mão na boca dele para impedir de gritar ou fazer qualquer barulho, de olhos arregalados ele a encarou, sem perder tempo fez um sorriso vermelho na garganta do sujeito, viu o brilho escapar dos orbes da sua vítima, se virando para cima sem vida, sem nem mesmo ter a chance de pedir ajuda. Morreu engasgando-se em seu próprio sangue.

O capuz fazia sombra sobre o rosto do assassino, mas era possível ver um sorriso se formando em seus lábios. Escutou passos do lado de fora. Virou as costas rapidamente, pulando pela janela saindo do quarto. O serviço estava feito. Hora de ir embora.

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O dia mal tinha amanhecido e o rei estava de pé andando de um lado para o outro em sua sala do trono. Seus olhos faiscavam de raiva. O comandante da guarda real, Triakyo, e cavaleiro juramentado ao rei, apenas assistia de longe enquanto os dois conselheiros do rei, tentavam lhe dizer qual seria a melhor decisão em se tomar nessa situação.

- NÃO! - ele gritou - Esses vermes acham que podem me roubar, e sair impune. Roubar o rei! Quero a cabeça de todos eles. Quero todos mortos! Coloque suas cabeças a prêmio!

Triakyo ficou em seu canto, observando o seu rei. Um soberano tirânico. Mas seu rei. Aquele que jurou lealdade em vida.

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A sombra encapuzada marchava pelas ruelas da cidade, repletas de gente. As lojas já estavam abertas. Foi quando viu em um dos becos um homem, que a encarou de volta. Ela se dirigiu até o sujeito. Entrou no beco, perguntando sem hesitar.

- Trouxe o que é devido? - sua voz saiu rouca.

- Aqui - ele tirou de dentro do casaco um saco. A sombra tirou o capuz, revelando uma mulher de cabelos pretos, olhos negros e pele branca, pegou o saco o abrindo, e mostrado várias moedas de ouro.

- Ótimo! - sorriu olhando para o sujeito, enquanto guardava as moedas em sua própria roupa - Então Tariz, tem mais alguma coisa para mim?

- Sempre tem - ele começou a caminhar - Vamos tomar um café da manhã!? - falou olhando sobre o ombro.

- Você paga! - não era uma pergunta. Ela o seguiu.

- É claro - disse o mais velho sorrindo como se já esperasse isso.

Estavam em um restaurante, o lugar servia as refeições normalmente durante o dia, e caso fosse solicitado é claro que servia bebidas alcoólicas, embora durante o dia o público matinha certo decoro, pelos menos o que não queriam enfurecer o dono atoa, mas a noite era oficialmente uma taberna, o lugar era muito famoso por sua cerveja temperada e pelas bebedeiras regadas de brigas e pelas belas atendentes. Tinha algumas mesas vazias. Tariz se sentou em uma e a morena o seguiu.

- Então o que tem pra mim?! – perguntou tirando a capa e a jogando em uma das cadeiras vazias, cruzou os braços e pernas encarando o homem a sua frente com um cenho franzindo e um sorriso lupino.

- Espere um momento Vidrian - ele falou levantando a mão a sua frente enquanto olhava para uma das atendentes, uma moça com um vestindo de cor laranja e um avental branco na frente que se aproximava da mesa.

- O que vão querer? - falou com o seu sorriso alegre e cordial, emanando juventude.

- Uma torta e duas canecas da sua melhor cerveja, estou certo? - falou sem nem mesmo olhar para a morena, essa que apenas acenou com a cabeça em concordância para a jovem em pé - É isso meu bem - falou ele com um sorriso galanteador. Ela apenas deu um sorriso divertido, como se achasse graça do senhor tentando paquera-la.

- Até parece que você tem alguma chance – ela falou balançando umas das mãos em negação – Impossível.

- Ela já é minha! - ele se voltou para a outra ainda sorrindo

- Iludido - ela suspirou - então o que está acontecendo?

- Como assim? - perguntou inclinando a cabeça para o lado, com uma confusão fingida, uma encenação fingida, se não fosse pelos cabelos brancos já a mostra e sua altura, diria que era uma criança de cinco anos

- Pare. Você sabe do que estou falando – as vezes falar o mais venho lhe parecia um teste de paciência - Antes de encontrar você, vi vários cartazes de procurados que ontem não estavam – indicou com o queixo um desses cartazes que se encontram dentro do restaurante.

- O que acha? – um sorriso felino se desenhava na boca dele.

- Que o rei cansou de fingir que não está sendo roubado, por um grupo bem perspicaz e mais inteligente que nosso soberano eu diria, e enfim depois de perceber que não conseguiria para-los ou pega-los, está recorrendo a outros meios para os ter morto - falou sorrindo com deboche

- Cuidado com o que diz! - ele olhou para o lado e depois a encarou sorrindo - É mais ou menos isso. A única coisa que realmente está a prêmio é cabeça dos Líderes Rebeldes.

- Líderes... Rebeldes? – suas sobrancelhas se levantaram em confusão

- Você não sabe de tudo querida Vidrian – ele riu antes de se aproximou e falar quase em um sussurro – O rei os chamas de ladrão, mas eles se intitulam de Força Rebelde, dizem que roubam o que o rei tira do seu povo, e o que é roubando vem sendo distribuindo pelos bairros marginalizados, e por isso nosso soberano não consegue os pegar, pois o povo os vem ajudando a escapar de suas armadilhas.

- Seria interessante conhecer quem está por trás de tudo isso – um sorriso bricalhão se formou em seus lábios

- Talvez você tenha a chance – ela já estava recostado em sua cadeira – Como eu disse apenas a cabeça dos "Líderes" está a prêmio - ele sorriu com os olhos brilhando

- Que são no total?-

- Seus pedidos! – a atendente de antes a cortou colocando a torta no centro da mesa redonda e a cerveja. Então saiu rebolando e chamando toda a atenção do lobo mais velho.

- Tariz! - chamou a morena com a voz firme. Ele se virou com um sorriso bobo – Pare de babar e concentre-se.

- Desculpa – ele passou o braço pela boca limpando a baba imaginaria, a morena suspirou e começou a beber sua cerveja - Respondendo a sua pergunta. Eles são Dez - Vidrian engasgou

- Dez?! - matar um já chamaria atenção. Dois e eles saberiam o que estava acontecendo. Matar dez daria muito trabalho - São muitos!! – falou colocando a caneca na mesa pronta pra protestar

- Eu sei, eu sei. O rei quer que os mais influentes dos rebeldes sejam mortos. Mas... - tirou os dez cartazes do seu casaco e os colocou na mesa - ... você deve se importar apenas com esses dois. Os prêmios mais altos. Licaf o braço direito do líder rebelde - apontou para um cartaz. Um homem loiro, de feições duras - E é claro o líder rebelde. Emília - uma mulher de cabelos castanhos e olhos dourados, cor de mel. Vidrian passou um tempo a encarando - o resto deixe para os outros - a morena piscou voltando a si.

- Outros? - falou franzino o cenho.

- Você mesmo disse que a cidade está cheia de cartazes deles. Todos com pelo menos um mínimo de confiança em sua lamina vai tentar a sorte. E não vamos esquecer dos assassinos profissionais, como você – apontou o dedo para a mulher a sua frente com um sorriso convencido - a recompensa vale o risco.

- Tem razão - falou com seu sorriso sanguinário no rosto. Pegaria os prêmios mais altos e deixaria os peixes pequenos de lado.

Minha Luz - Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora