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CAPÍTULO VINTE

Sempre acreditei de olhos vendados na filosofia indiana e no karma com sua lei universal de causa e efeito, contudo, após os acontecimentos de ontem, talvez eu tenha que reconsiderar os meus conceitos.

Depois de passar a noite fazendo diversas demonstrações de paixão avassaladora pelo meu noivo de mentira, posso garantir que cumpri muito bem o meu papel quando sequer tive a ousadia de tocar no assunto do beijo.

Elliot também não mostrou nenhum indício de preocupação quanto à isso.
Talvez por não significar absolutamente nada e ser mais um dos seus truques para acelerar o processo na presidência da empresa ou simplesmente timidez — o que eu considero a opção menos provável.

Mas, para todos os efeitos colaterais, a noite de ontem nunca aconteceu. E, eu realmente espero que a parte de toda ação tem consequências futuras suma igualmente.

Após o almoço, Elliot me trouxe para um dos cômodos no terceiro andar da mansão, que é como um mini-cinema privado. Tem um telão gigante, máquina de pipoca e agora estamos deitados em uma espécie sofá-cama mais fofo que um chow chow peludo.

Elliot colocou um filme que não faço a mínima ideia do nome. Só estou vendo assassinatos e fazendo comentários como nossa, não acredito ou uau, isso foi cruel para que ele não perceba minha falta de interesse.

— Presta atenção, Kate. É agora. — ele me chama com animação, pegando o pote de pipoca das minhas mãos. — Olha só o que ele vai fazer com o braço. — apontou para o loiro com uma faca na mão.

— Isso vai ser... Céus! — fecho os olhos ao visualizar o homem decepar o próprio braço, jorrando sangue por todo lado. — Acho que vou vomitar.

— Não seja tão molenga, isso aí não foi nada. — jogou pipoca em mim e voltou sua atenção para o filme.

Nos momentos seguintes, resolvo virar para o lado oposto ao telão, me negando a ver mais cenas como àquela.

Isso é sangue e violência demais para o meu estômago.

×××

Não sei ao certo quanto tempo passou e muito menos imagino qual foi o final do filme, mas suponho que em algum segundo fechei os olhos e acabei descansando excessivamente, pegando no sono.

Só despertei quando senti a irritação de algo mexendo no meu nariz.

— Ei, o filme já acabou. — Elliot sussurrou, roçando o seu nariz no meu, simultaneamente.

Pisco algumas vezes para tentar compreender o que diabos estava acontecendo ali e, mesmo assim, ainda parecia confuso.

— E como foi o final? — toco o seu ombro em uma falha tentativa de afastamento, mas aparentemente estava presa embaixo daquele monte de massa muscular.

— Um belo massacre, digamos. — brincou dando beijinhos no meu pescoço.

— Você sabe que esse comentário foi no mínimo, psicopatológico, não sabe?

— Então acredito que não foi tão inteligente da sua parte ficar noiva um  futuro serial killer. — sorriu, se aproximando mais que o necessário.

Eu sei que não deveria me iludir assim, porém, eu também sei que nunca cansaria de fazer qualquer divertimento indireto só para ter o prazer de ouvir a sua risada enrouquecida ou, simplesmente, suas respostas afiadas e repletas de escárnio.
Àquilo era como levar um eletrochoque carregado em todo meu corpo. E por algum motivo, costumo me dar mal sempre que isso acontece.

— Por que nunca me falou sobre a Belinda? — perguntei por impulso.

A expressão de Elliot muda de relance. Não era raiva, nem chateação, ele só aparentava estar surpreso.

— Belinda, sério? — debochou. — Eu tento te beijar e você pergunta sobre ela?

— Tudo bem, não precisa responder.

— O quê? — sorriu sem humor algum. — Não achei necessário falar sobre o meu histórico de relacionamentos passados. Não foi sobre a Belinda em especial.

O observo se afastar, indo em direção ao projetor que estava rodando o filme há horas atrás.

Diferente do que esperava, ele não parecia abatido ou até mesmo chateado com o assunto, pelo contrário, Elliot estava indiferente, como se ela não passasse de uma qualquer.

— Me desculpa. Fui muito indiscreta por querer bisbilhotar o seu passado, não? — balbuciei em um fio de voz.

— Um pouco. — ele diz e automaticamente um sorriso perpassa nos seus lábios. — Mas, pra esclarecer, eu não estava pensando em outra pessoa enquanto te beijava, se esse for o motivo do seu ciúme.

Minha boca abre em descrença e cômputo àquilo, completamente espantada.
Apesar daquela hipótese jamais ter passado na minha mente, me enfurece saber que Elliot chegue a imaginar ter todo esse poder sob mim.

— Isso foi uma piada, certo? — pergunto casualmente. — Ela tem o mesmo nome que a vaquinha de estimação dos 7 monstrinhos, caramba! Tem como sentir algo que não seja pena de alguém que se chama assim?

Vejo no seu maxilar a falha tentativa de segurar o riso, mas foi quase impossível.
Saí da sala validando toda antipatia que pude conduzir, o deixando sozinho com seu ego inflado.

Procura-se uma Noiva [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora