Capítulo 6

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             Eu andava de um lado para o outro esperando Carmelo

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             Eu andava de um lado para o outro esperando Carmelo. Ele havia me dito que viria para brincar e estava atrasado. Ouvi sons de passos e olhei para trás. Ele vinha correndo com aquele jeito todo desengonçado dele.

Eu sorri ao vê-lo, mas meu sorriso logo murchou ao ver o seu rosto.

Seu olho estava roxo e inchado como uma laranja e seus lábios também.

— O que aconteceu com você?

— Eu caí – ele disse sem me olhar nos olhos.

— Por que você cai sempre?

Ele não respondeu.

Carmelo sempre respondia a mesma coisa quando aparecia machucado. Uma vez eu havia falado para meu pai e ele disse que era normal. Crianças correm, crianças caem, eu sabia disso. Eu sempre estava caindo me machucando, mas não daquela maneira.

— Me diz a verdade Carmelo – pedi.

Seu rosto ficou mais pálido, nas últimas semanas ele havia ganhado peso, estava mais corado meu pai realmente o compensou por ter me salvo a vida, então ele não passava mais fome.

— Eu não quero falar sobre isso – ele desviou os olhos – é doloroso.

As palavras dele vieram tão carregadas de dor que eu senti um nó se formar em minha garganta.

— Não acha que doeria menos se dividisse sua dor comigo? – sugeri.

Ele me olhou angustiado. Relutou antes de falar, mas disse.

— Meu pai não gosta muito de mim – confessou – todos os dias ele me culpa por minha mãe ter morrido e ele ter ficado com um monstrinho feio como eu.

Senti que o chão faltava nos meus pés. Como alguém tinha coragem de tratar o filho daquela maneira? Mas eu não deveria estar surpresa. Se eu estava ali conversando com ele era por que um dia meus próprios pais haviam me abandonado.

Aquilo era tão injusto, Carmelo era bom, era doce. Como alguém tinha coragem de trata-lo mau?

— O que ele diz não importa – falei.

— Importa porque ele tem razão. É o que todo mundo diz as crianças jogam pedras em mim os adultos me ignoram graças aos deuses, mas você – ele me olhou bem dando um sorriso sem humor – Você é uma em um milhão.

Tentei entender o que ele estava falando, definitivamente nós dois éramos diferentes, mas sentia que essas diferenças estavam além da sorte e do azar, ninguém nunca desviou os olhos de mim, tão pouco me evitavam onde ia. Todos me adulavam e diziam: "Que criança bonita.", mas aquilo era apenas uma casca. Os sentimentos das pessoas não valiam?

— Ele não tem razão Carmelo, eles não tem razão – segurei sua mão – você não é feio, é diferente, eu também sou diferente, e ser diferente não é ser melhor ou pior que ninguém, eu nunca me senti melhor que ninguém, você não deveria se sentir o pior.

Contos de Pandora [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora