Livro 4: Capítulo 4

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O mundo estava rodando, rondando e rodando.
― Me solta! – Epimeteu havia gritado para o irmão Menécio que não parava de gargalhar maldosamente enquanto lhe girava pelos calcanhares.
O problema não era um de seus irmãos mais velhos usá-lo como forma de distração, o problema era seu outro irmão sua mãe e seu pai acharem que ele estava certo.
― Pare com isso Menécio, já chega – Prometeu se intrometeu.
Por um milagre ele ouviu o mais velho, e soltou o mais novo que se chocou com tanta foça em uma montanha que a repartiu ao meio.
Epimeteu voltou correndo irado.
― Vai me pagar por isso Menécio – ameaçou.
― Cale essa boca Epimeteu, você perde até para uma rocha – Atlas disse enfiando sua cabeça na água enquanto o outro ria.
― Deixem ele em paz – Prometeu fez com que eles o soltassem.
― Me deixe pegar eles Prometeu! – ele esperneou enquanto o irmão o segurava.
― Pare você também eles te deixaram falando sozinho – ele apontou.
O titã ficou revoltado quando viu que os irmãos haviam ido embora.
― Desgraçados! – gritou e olhou para o irmão mais velho – por que Prometeu, por que ninguém me respeita?
O mais velho respirou fundo.
― Admita que você não parece muito responsável – apontou para criança magrela, de cabelos ruivos rebeldes – se você assumisse a forma de adulto talvez parecesse mais imponente.
― Você acha? – perguntou esperançoso.
― Sinceramente não, mas pode ser um começo.
O garoto deixou os ombros caírem.
― Não gosto de adultos – falou.
― Não precisa ser um adulto maduro, também acho que não combinaria com você, um adulto jovem seria mais adequado, aí pode ser que lhe levem a sério.
Prometeu lhe deu um tapa nos ombros que quase o fez cair. Então teve certeza que deveria escutar o concelho do seu irmão respirou fundo e se concentrou, um adulto jovem.

A aparência não mudou como o encaravam a não ser pelo sexo oposto por um tempo, infelizmente só no começo pois logo foi realmente como se ainda fosse um garotinho e agora sentado encarando o mar ele tinha certeza que nunca ninguém o levaria a sério.
― Isso é confortável?
Epimeteu olhou para o lado e viu uma garotinha de dez ou doze anos não tinha certeza.
― O que? – perguntou estranhando.
― A pedra – ela apontou.
― É mais confortável do que parece – murmurou sem encara-la direito.
Quem sabe ela voltaria de onde veio, não estava com paciência para crianças mal educadas agora, mas ela não pareceu desistir.
― Se importa se eu me sentar com você? – perguntou.
O titã poderia gritar com ela se fingir de devorador de criancinhas, mas não sabia se tinha coragem de fazer isso com uma menina.
Ela se sentou com as penas esticadas seus pés estavam descalços e ela não pareceu se importar em sujar seu chiton de seda azul.
Seda não era um tecido comum para nenhuma moça daquelas aldeias perto da praia que dirá para uma menininha, finalmente ele a olhou de esguelha. A pele branca e rosada contrastava perfeitamente com seu cabelo negro e ondulado, sua boca estava contorcida em bico de insatisfação enquanto seus olhos violetas brilhantes encaravam o horizonte.
Ela não era uma criança qualquer, ele observou, mas por que ela estava ali? Não parecia estar com medo ou perdida, e não acreditava que ela havia vindo especialmente para conversar com ele.
Ela era provavelmente a humana mais bonita que ele já havia visto. Pena que era uma criança.
― Qual é o seu nome? – ela quebrou o silêncio pendendo a cabeça do lado.
Ela parecia estar se sentimento melhor por falar. Ele sorriu sem querer.
― Epimeteu – disse para a garotinha que também lhe sorriu docemente fazendo com que e ele sentisse a necessidade de perguntar também ― E o seu nome, qual é?
― Pandora – ela disse abrindo mais o sorriso mostrando os dentes branquinhos e alinhados.
Se perguntou intrigado quem haviam sido os humanos que haviam gerado aquela criaturinha tão encantadora.
Logo se repreendeu não podia abrir a guarda.
― Hum, o que faz sozinho neste lugar? – ela puxou assunto.
― Não estou mais sozinho – apontou tentando manter um certo tom de frieza na voz, o que não pareceu desencorajá-la pois ela se curvou em sua direção e perguntou muito casualmente:
― Mas, antes. Por que estava sozinho?
Aquela menina, foi feita para encantar pensou, aqueles olhinhos grandes e ternos.
Suspirou. Talvez seria uma boa ideia dizer que a jogaria na boca de um monstro.
― Não tenho muitos amigos – falou em vez disso olhando para o mar.
― Por que não? – ela quis saber.
― Talvez porque eu não seja muito agradável – disse sugestivamente para ver se ela se resignava.
― Isso não pode ser verdade – ela disse o surpreendendo – acho você pode ser agradável se quiser.
Ele bufou.
A menina não pareceu se abalar. Pior, parecia totalmente certa e sincera no que havia dito, mas afinal o que ela sabia? Era só uma criança falastrona que não parecia se dar conta de que estava falando com um titã.
― Por que não toma o caminho de casa criança?
― Por que estou te fazendo companhia – ela abriu os braços para enfatizar mais o que dizia.
― Você deve ter algo melhor para fazer – insistiu.
― Aqui tem uma boa vista – ela admirou o ignorando – eu não sabia que o mar era tão lindo.
Ela se levantou e caminhou na direção da extremidade do penhasco. Arregalou os olhos quando percebeu o que ela faria e a segurou antes que ela pula-se.
― Perdeu o juízo?! – a recriminou, não deixando de reparar na suave fragrância de lavanda que exalava de seus cabelos.
Ele a soltou imediatamente.
― Qual é o problema? – ela perguntou confusa.
Ele respirou fundo, por isso que detestava crianças, elas não tinham qualquer senso de perigo.
― Menina... Se você pula, morre. Além de água há muitas pedras lá em baixo – explicou.
― Oh morte - ela murmurou – o fim de tudo.
Seus olhos se voltaram para ele.
― Ninguém havia me dito antes.
― Você – fez uma pausa para se acalmar – Você é diferente.
― Obrigada – ela agradeceu como se ele houvesse à elogiado, mas não foi nada disso.
Epimeteu apenas queria uma maneira de se livrar dela antes que ela começa-se a lhe dar trabalho.
Se curvou na direção dela e balançou a cabeça negativamente era muito perigoso deixar uma menininha tão ingênua andando por aí sozinha.
― Me diga onde mora eu a levarei para casa, aproveito e dou alguns concelhos aos seus pais.
Ela não respondeu simplesmente encarou o chão e dessa vez pareceu realmente triste.
― Não se preocupe, eu posso ir sozinha - ela saiu correndo.
Por essa ele não esperava. Imaginou que era isso que ela queria, que ele a levasse para casa, como aquele outro pequeno covarde que a essa altura já deveria ser um rapazinho. Devia ter percebido que ela não era assim. Ela não estava com medo, não estava chorando e tão pouco pediu ajuda.
Seus olhos a acompanharam enquanto ela descia graciosamente o penhasco e logo seguindo para praia em direção a floresta.
Quando viu um sátiro entrar atrás dela entre as árvores  se decidiu.

Contos de Pandora [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora