O Jogo Da Esquerda e da Direta pt5

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Na manhã seguinte, tudo estava igual.

É estranho. Geralmente somos tão cegos em relação a consistência de nossas vidas cotidianas, só prestamos atenção quando alguma coisa muda. Ainda assim, enquanto coloco uma espiral de mel em meu mingau de aveia, é a falta notável que se destaca.

Desde a noite anterior, a atmosfera que cobria o comboio, e cada um de seus membros, não parece ter se alterado nem um pouco. A noite tinha falhado em seu papel de ser um grande meridiano, falhando em dividir o passado e o futuro, sem trazer perspectivas ou um fechamento. Como se o ontem tivesse sido derramado, como uma lata de tinta, na manhã seguinte; colorindo tudo com os mesmos temperamentos, medos e divisões.

Lilith e Eve estavam sentadas uma de frente para a outra, as pernas cruzadas em cima da toalha de plástico. Nenhuma delas falou muita coisa, por diversas razões. Lilith ainda está preocupada com sua própria indignação, enquanto Eve parece estar cheia de um assombro sútil mas penetrante. Nenhuma delas comeu da comida de Rob, uma decisão que creio ter sido feita por Lilith para ambas.

Apollo, Bonnie e Clyde estavam na minha frente. Apollo tentava conversar, tentando reviver seu famigerado bom humor. Bonnie e Clyde o ajudam, rindo de suas piadas, e sorrindo com as histórias.

Bluejay não saiu do carro durante nenhum momento da manhã, comendo de seu próprio racionamento e assim manteve uma boa distância do resto do grupo. Meus olhos se encontraram com os dela enquanto a examino, e sou dispensada com uma expressão sarcástica.

E Rob? Rob estava fazendo suas praticidades de viagem; servindo café da manhã, depois enchendo o tanque do Wrangler com seus galões gigantescos. Fica claro que essas rotinas são reconfortantes para ele. Posso até imaginar que é assim que lida com a maioria de seus problemas. Compartimentalização. Colocar-se em um novo papel, como um instrumento sem corte, que realiza milhares de processos necessários. Se fez ocupado demais para ficar de luto, e provavelmente ficará nesse estado até que o sentimento se dissipe.

Como qualquer mecanismo de defesa, não é nada saudável. Eu que sei. Estava fazendo basicamente a mesma coisa.

AS: Clyde, posso ter uma palavrinha com você?

Clyde levantou seu olhar da comida para mim, um pouco surpreso.

CLYDE: Você quer falar comigo?

AS: Hm, sim... se não for incomodar.

CLYDE: Não, não, incomodo algum. Quer conversar agora? Não estou com muita fome.

AS: Também não estou. Se importa se nos afastarmos do fogão?

Clyde assentiu profundamente. Deixando minha tigela de lado, me dirijo junto dele até um pé de macieira. Ninguém olha para nós.

CLYDE: Como está se sentindo, Bristol?

AS: Melhorando. E você?

CLYDE: Eu... bem, estou indo.

AS: Então, queria perguntar... por que escolheram Bonnie e Clyde como seus codinomes?

CLYDE: [risos] Foi uma decisão fácil. A gente costumava brincar de foras da lei quando crianças, uma vez Bonnie assaltou um banco.

AS: É mesmo?

CLYDE: Bem, não, era um caminhão de sorvete. Mas Bonnie estava fingindo que era um banco e então correu para longe, com seus dedos apontados como armas. Falou para o Sr. Giford que era um assalto.

AS: Uau, isso não parece algo que ela faria.

CLYDE: Ah, ela era uma criança rebelde. Sempre vivendo em um personagem. Bem, ganhamos sundaes de graça e apelidos na cidade. Quando Rob disse para arranjarmos codinomes, não foi preciso pensar muito.

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