Meu filho sempre dormiu mal. Várias noites por semana saía aos tropeços de seu quarto, esfregando os olhos e lutando contra as lágrimas. Eu estava sempre acordado, geralmente assistindo TV bem tarde da noite, enquanto minha esposa cochilava ao meu lado. Não é como se eu não quisesse dormir. Claro que queria. Mas eu era um policial de patrulha e também tinha insônia. Não ter sono, afinal, me serviu para alguma coisa. Mas aqueles anos não estavam nem perto dos melhores da minha vida.
"Você está bem, papai?"
“Sim, amigão. Estou bem."
"Eu vi algo assustador."
Eu entrava no quarto dele e fazia uma verificação profunda em seu armário, debaixo da cama e na janela. Era a janela que tinha o assustado. "Tem um cara mau lá fora", sempre dizia. "Eu vou ajudar você a pegá-lo."
Noah queria sempre pegar os caras malvados. Era de se esperar; Eu já era policial desde antes de ele nascer. Me dizia o tempo todo que quando crescer também iria pegar bandidos.
Eu parei de verificar seu quarto por volta do seu quarto aniversário. Ele ainda saía, com os lábios trêmulos, e fazia a mesma pergunta: "Você está bem, papai?"
"Sim, amigão. Estou bem."
"Eu vi algo assustador."
"Foi só um pesadelo, querido. Volte a dormir."
Noah piscou os olhos, sonolento. Um dos olhos estava sempre apertado; nunca conseguia abri-lo até que estivesse acordado por uns bons dez minutos. Então ele olhou para mim, um dos olhos fechado como um pequeno pirata, assentiu e voltou para a cama.
Era o mesmo roteiro, noite após noite. Talvez eu tenha lidado com isso de forma errada. Sempre me perguntei se seria melhor ignorá-lo, ou até ficar com raiva. Mas além desse ritual frequente tarde da noite, ele dormia sozinho. Na maioria das vezes, ele nem lembrava de ter acordado.
Essas noites se fundem calorosamente umas com as outras. Era egoísta da minha parte, mas eu ansiava por esses momentos. Eu trabalhava no terceiro turno com uma dispersão justa de horas extras da madrugada. Devido ao sono e ao trabalho, raramente via Noah. Isso é o que fez nosso ritual noturno ser tão precioso. Era o único momentos que realmente tínhamos só para nós.
Minha esposa estava sempre dormindo quand Noah aparecia. Entre sua doença, cuidar de Noah e o estresse geral, ela não tinha muita energia. Então, na maioria das noites, eu ficava acordado até altas horas, assistindo TV em uma tentativa inútil de suprimir a escuridão que estava me comendo vivo.
Noah afastava um pouco dessa escuridão. Não muito, mas o suficiente para que eu não me jogasse no abismo.
Seguiu-se assim por mais dois anos, noite após noite. Na última vez que teve um pesadelo, o ritual finalmente mudou.
Noah saiu aos tropeços do quarto, esfregando os olhos. Estava meio choroso, e seu rosto levemente inchado. "Papai, você está bem de verdade?"
"Sim, amigão. Estou bem." Essas palavras - quase um cântico - o acalmava visivelmente.
"Eu vi um cara malvado na janela."
"Foi só um pesadelo, querido."
Ao meu lado, minha esposa se remexeu.
"Eu quero pegar os caras malvados."
"Você vai, quando crescer. Até lá, eu estou aqui."
Ele soltou um último suspiro. "Eu te amo."
"Eu também te amo. Agora vá para a cama e volte a dormir."
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Contos Sobrenaturais
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