muito para mim.
***
O Jogo da Esquerda/Direita [RASCUNHO 1] 12/02/2017
O silêncio costumava ser pleno.
Isso é algo que faz falta para mim.
De volta ao mundo real, seria evidente que, um grupo de pessoas que não fala absolutamente nada, por definição, não poderia estar falando menos. Talvez as coisas sejam diferentes na estrada, talvez seja algo com que eu nunca tinha me deparado antes, mas ficou claro para mim agora que existem níveis além do silêncio. Um reino penetrante de um silêncio ensurdecedor que, depois de perdermos Eve e Apollo, nosso grupo abraçou sem contestar. Construído fora do nosso trauma coletivo, cimentado com uma mistura cruel de luto, culpa e uma insegurança angustiante, rapidamente fica aparente que esse silêncio é mais forte do que todos nós. O desafio de quebrá-lo permaneceu não atendido pelo resto da jornada.
Passamos as próximas horas nos esgueirando por um corredor dentro de um milharal sem muito o que se ver. As espigas se elevam bem além da altura do Wrangler, deixando apenas uma fina faixa de céu claro visível, como o teto uma igreja renascentista bem pintado. Me vejo olhando intermitentemente para o transmissor, meio esperando, meio que desejando, que a voz de Apollo fale pelo alto-falante, trazendo palavras de conforto, ou uma tentativa muito necessária de tranquilizar todos.
Depois de me pegar olhando para o transmissor pela quinta vez, decido que a melhor coisa é trabalhar. Coloquei meus fones de ouvido no notebook, revisando os arquivos de áudio que gravei até agora, e comecei a recortar grossamente as gravações do nosso primeiro dia na estrada.
APOLLO (VOZ): Todo mundo conhece Rob, Rob é o deus! [risos]
Ouvi a primeira entrevista de Apollo, fazendo anotações sobre o paragrafo de fechamento que serei forçada a fazer sobre ele. Quando tinha tudo que precisava, ouvi a entrevista de novo, e depois mais uma vez. Eu sei que só queria ouvir a sua voz, me perder naquele eco digital prazeroso, bem distantes dos gritos frenéticos que se seguiram enquanto era engolido pelo asfalto.
Em seguida, ouvi a entrevista de Eve. Se eriça de tão animada enquanto fala sobre a viagem que faria para Roswell, tentando me recrutar para o passeio. Ela não tinha ideia de onde estava se metendo quando estacionou na frente da casa de Rob. Mas nenhum de nós sabíamos.
O céu já estava em entonações alaranjadas quando comecei a ver nosso material sobre o caroneiro. É arrepiante ouvir a voz dele depois do fato, revisitar as amabilidades coniventes e veladas que empregou contra nós. Eu me encolho quando ouço Rob agarrar meu braço, envergonhada de quase me deixar cair na armadilha do caroneiro.
ROB (VOZ): Você foi bem, sinto muito por ter te segurado. Eu só não queria que você fizesse algo que fosse se arrepender.
AS (VOZ): Não, tá tudo bem. Você sabe o que acontece se falarmos com ele?
ROB (VOZ): Não tenho certeza. Cheguei perto uma vez, alguns anos atrás. O jeito que ele olha para você quando acha que conseguiu? Não sei se quero saber o que acontece.
AS (VOZ): Rob, eu-
Pausei o áudio, voltando dez segundos antes de apertar para tocar novamente.
AS (VOZ): Não, tá tudo bem. Você sabe o que acontece se falarmos com ele?
ROB (VOZ): Não tenho certeza. Cheguei perto uma vez, alguns anos atrás. O jeito que ele olha para você quando acha que-
Certamente não notei isso naquele momento. Estava tão abalada pelo meu encontro com o caroneiro, e tão curiosa por causa do carro abandonada que estava completamente cega e surda para outras coisas. Talvez Rob tinha se expressado errado, talvez quisesse ter dito dias ou semanas. Mas se não falou errado, foi um grande descuido, e Rob teria que se explicar.
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