A garota do refúgio

Eu estou inteiramente bem?

 Uma dor de cabeça intensa me impedia de abrir os olhos ou me mexer. Na verdade, eu não conseguia fazer nada. Ouvi uns múrmuros e tentei me concentrar nas vozes ao meu redor. Um tempo depois identifiquei a voz de Newt, doce e calma como sempre, mas um pouco preocupada. Relaxei na mesma hora ao perceber que ele estava ao meu lado e isso foi o suficiente para eu ter forças para abrir meus olhos.

Aos poucos identifiquei que estava no refúgio seguro. O teto da enfermaria era inconfundível para mim, já que fiquei vários dias acompanhando Newt quando ele estava aqui. Virei a cabeça e pude observar Newt. Ele não tinha reparado que eu estava acordada e conversava com um homem, que eu identifiquei como um dos socorristas.

Logo depois o olhar dele foi direto para mim e ele sorriu. Um sorriso que fez toda a situação ficar melhor. Ele se aproximou de mim e se ajoelhou ao lado da cama, se inclinando e dando um beijo em minha testa.

-Você está bem? – ele perguntou ainda sorrindo, mas me olhando preocupado.

Percebi que o socorrista estava logo atrás dele, pronto para me examinar.

-O que aconteceu? – eu perguntei tentando resgatar a memória do que tinha acontecido.

-Você bateu a cabeça quando estavam fugindo dos crancks – ele disse – Lembra? Ficou um dia desacordada.

Forcei a memória e tudo veio à tona. Os crancks, a corrida, Toby, a tontura...a gravidez.

Na mesma hora coloquei a mão em minha barriga.

-Eu estou bem? – eu perguntei quase gritando.

-Seus sinais vitais estão ótimos – o médico disse ainda me examinando. - Perdeu bastante sangue e a batida nos preocupou, mas parece que você está ótima.

Eu queria gritar naquele momento perguntando se meu bebe estava bem. Mas Newt não poderia saber daquele jeito. Teria que ser algo mais especial.

-Eu estou inteiramente bem? – eu perguntei olhando para o médico.

-Você está ótima meu amor – Newt disse.

-Precisa descansar – o socorrista disse – Mas acho que já pode ir para sua cabana. Mais tarde faremos mais uns exames.

Tentei me levantar na mesma hora. Eu tinha muita coisa para fazer. Queria ver se o resto do pessoal estava bem, como Toby estava, se Minho tinha contato para alguém...  e contar ao Newt.

Mas tudo isso só piorou minha tontura.

-Calma – Newt disse rindo – Vai com calma. Eu te ajudo.

Newt passou suas mãos ao redor de minha cintura e me levantou. Andamos devagar até nossa cabana. No caminho todos vieram falar comigo, dizendo que estavam preocupados. Thomas me abraçou tão forte que eu fiquei sem respirar por um tempo.

-Eu fiquei tão preocupado – Newt disse assim que chegamos – Eu sabia que você não devia ter ido.

-Eu que achei Toby com ajuda de Minho – eu disse me sentando na cama – Essa ida até a cidade mudou muito minha visão, Newt. Há pessoas lá fora que ainda precisam de ajuda. Eu nunca me senti tão egoísta por estar aqui dentro.

Newt olhou para o chão com minhas palavras. Porque ele sabia que eu tinha razão.

-Toby não estaria vivo se não fosse a gente – eu disse – E isso que importa.

-Você tem razão – ele finalmente respondeu – Mas eu espero que isso não signifique que você irá sair por aí todo dia.

-Na verdade, eu não vou – eu disse suspirando – Eu não posso mais sair.