Capítulo 2

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Ânimo, Lina! Ânimo! Saia já desta cama! Já passa do meio dia e você precisa tomar um banho rápido, comer alguma coisa e sair com o dever de achar um lindo vestido para a festa desta noite!!!!!

Ah, mande uma mensagem explicando que está muito gripada, com muita febre e que parece ser o tipo de gripe grave e que você gostaria muito de comparecer, mas decidiu ficar em casa e assegurar que todos que estarão por lá fiquem a salvos deste vírus.

Pare de ser egoísta, Lina! Hoje é a festa de noivado da sua melhor amiga! Deixe esta maldita autopiedade e saia imediatamente em busca de algo decente para vestir esta noite!

Levante! Não levante! Vá tomar um banho! Vá tomar um calmantee, durma tranquila a tarde toda!

Depois de muita briga interna, deixei o desânimo de lado, tomei um banho quente e relaxante, preparei um macarrão instantâneo (tipo de alimento mais frequente em minha cozinha depois da separação) e parti decidida rumo ao shopping para comprar um vestido.

Por mais que eu estivesse sofrendo muito e que a dor da separação ainda não tivesse dado uma trégua em meu peito, eu não podia deixar de arranjar um espaço dentro de mim e me sentir muito alegre por poder estar perto de minha linda, amada e querida amiga Diana, que junto com seu noivo Mário ficaram meses organizando com amor e carinho uma festa para oficializar junto aos amigos e parentes o noivado.

Diana e eu somos amigas desde a época da faculdade. Meu amor por ela veio até mesmo antes que por Fábio. No primeiro dia na faculdade, no meio da algazarra dos trotes me vi encarando uma menina maravilhosa, alta, de pele morena, cabelos ondulados até o meio das costas e uma boca grande e carnuda. Não só eu estava embasbacada por sua beleza, percebi que muitas outras garotas e, praticamente, todos os representantes do sexo masculino também a estavam observando. Ela parecia totalmente ciente do efeito hipinotizador que causava nas pessoas e sorria como se já dominasse aquele ambiente. Assim que seu olhar parou em mim, sem graça por ela poder pensar que talvez eu a estivesse paquerando, abaixei depressa o olhos e quando o levantei novamente Diana já estava ao meu lado, segurando minha mão e falando com entusiasmo: - Nós vamos nos divertir muito nestes próximos quatro anos, garota! – e com os olhos sorridentes e arregalados completou – Já parou para pensar que não teremos mais que estudar matemática?

Eu sorri e balancei a cabeça confirmando que tal pensamento também já havia passado por minha mente algumas vezes. E depois disso não nos desgrudamos mais. Ainda no primeiro ano de faculdade começamos a fazer correções textuais em trabalhos para outros alunos. Nossa fama foi crescendo e nosso bico foi se transformando, rapidamente, em algo bastante lucrativo. Em pouco tempo passamos a corrigir teses de alunos e até mesmo apostilas de professores e, no final do curso, já havíamos montado a nossa pequena empresa de correção textual, a Ponto final.

Com tudo caminhando bem no trabalho, pouco a pouco fomos abandonando a ideia inicial de nos tornarmos professoras de Língua Portuguesa e não chegamos a ministrar uma única aulinha sequer, porque até mesmo as aulas de estágio foram prontamente assinadas por professores que não tinham paciência e nem boa vontade em nos ceder suas turmas. Não que isso nos importasse, pois no final da faculdade já estávamos cientes que ganharíamos mais dinheiro levando adiante nossa empresa de correção.

Bom, mas voltando ao assunto do noivado, esta festa, além de uma importante celebração, é a confirmação de que a vida realmente é feita de revezes loucos e surpreendentes. Se numa dessas reviravoltas a vida havia me surpreendido de forma negativa com Fábio me pedindo a separação e ainda se dizendo apaixonado por outra mulher, nesta ocasião a surpresa veio com a boa notícia de que Diana havia decidido dividir sua vida com alguém, algo que eu realmente nunca achei que pudesse acontecer, pois minha amiga sempre foi o tipo de solteira convicta e bem resolvida que repudiava com veemência a ideia de casamento, afirmando entre caretas que não suportaria dividir a casa com outra pessoa e, muito menos, compartilhar a triste monotonia de outras mulheres de estar ao lado do mesmo homem todos os dias. Para meu espanto e de todos que a conhecem depois de apenas um ano de namoro com Mário ela estava feliz por ter abandonado todas as antigas convicções sobre a vida a dois e prestes a comemorar o noivado.

Não ResistoOnde histórias criam vida. Descubra agora