Capítulo 3

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Domingo um pouco antes do meio-dia o interfone do meu apartamento tocou, era o porteiro avisando que havia um entregador com uma encomenda para mim. Pedi que o deixasse subir sem fazer a mínima ideia sobre o que se tratava a tal encomenda. Um rapaz de 19, 20 anos, no máximo, me entregou com um sorriso preguiçoso uma enorme cesta de café da manhã com um envelope verde no mesmo tom do vestido que eu usei na noite anterior. Um sorriso se instalou no meu rosto junto com um pequeno raio de ânimo que atingiu meu peito, afastando por um momento a tristeza chata e insistente que vinha sendo minha companhia constante nas últimas semanas. Eu não tinha certeza do mandante dos presentes, mas pela cor do envelope e as últimas palavras de Miguel ao nos despedirmos deduzi que era ele.

Fechei a porta e levei a cesta ainda com o envelope pregado junto ao plástico até a cozinha. Me deliciando com a expectativa do conteúdo do cartão fui mantendo o suspense para mim mesma e, só depois de preparar um café fresco, sentei calmamente e abri o envelope:

Lina, depois que você foi embora a festa perdeu toda graça... Foi frustrante não poder mais admirar aquele vestidinho verde passeando pelo salão...

Beijos,

Miguel

Desta vez me permiti ficar descompromissadamente feliz, desfrutar internamente o prazer de saber que alguém havia reparado em mim. Não criei nenhuma expectativa, apenas senti o que não sentia há muitos anos, me senti feliz por ter sido desejada. E foi ainda mais prazeroso saber que fui desejada por um tipo de homem (lindo que chega a constranger) que eu tinha a convicção que meu tipo sem graça não causava efeito algum.

Pensei em ligar para Miguel e agradecê-lo, mas temi que ele pensasse que eu havia cedido, então não fiz nada além de aproveitar o belo café da manhã.

***

Na segunda-feira antes de darmos início às nossas correções, eu, Diana, Martinha e Joana nos sentamos na cozinha do escritório e nos demoramos um pouco mais no café fofocando sobre a festa. Claro que no início a maior parte da conversa girou em torno de elogios sinceros sobre como tudo havia ficado impecavelmente lindo. Nos emocionamos mais uma vez relembrando o discurso de Mário e mais um tempo foi gasto com cada uma experimentando no próprio dedo a belíssima aliança que Diana exibia orgulhosa.

Quando enfim estávamos nos preparando para começar o trabalho Martinha tocou num assunto que eu não estava pensando em expor: - Lina, eu vi você e o Miguel conversando na escadaria do salão, não sabia que você o conhecia... – sentenciou com normalidade.

Fiz uma cara surpresa: - Você conhece ele?

- Todas nós o conhecemos, Lina. – respondeu Joana me deixando ainda mais surpresa.

- Só eu não o conhecia então... – concluí.

- Não tinha mesmo como conhecê-lo, Li, pois todas, digo TODAS as vezes que saímos com ele – disse apontando para Martinha e Joana – você não pôde comparecer porque o Fábio não estava afim de sair. – sentenciou Diana com uma alfinetada.

Não respondi, nem mesmo demonstrei descontentamento, ela estava certa: - Pois é, acabamos nos esbarrando na escada e ele se apresentou. – despistei.

- Que homem! – suspirou Martinha – Adoro quando ele sai com a gente, assim posso ficar admirando aquele pedaço de mau caminho...

- Que expressão mais ultrapassada, Marta! – debochei sorrindo e balançando a cabeça, constatando que não só eu estava inserida no patético mundo das tiazonas.

- Mas cá entre nós – confidenciou Joana – ele sabe que é gostoso pra caramba e sabe muito bem usar seu charme e manter uma postura de macho alfa...

Não ResistoOnde histórias criam vida. Descubra agora