Capítulo 8

47 3 2
                                        


 Na quinta-feira da mesma semana do meu encontro desastroso com Fábio, voltando à rotina, Celso apareceu sem aviso prévio no final da tarde, mas só sua aparição inesperada foi rotina, porque desta vez nós estávamos muito mais íntimos, desde o nosso encontro no almoço de comemoração por ter conseguido um título para o seu livro passamos a conversar quase que diariamente através de ligações ou mensagens.

- Celso, que bom que apareceu! Tenho uma boa notícia para você. – anunciei enquanto puxava uma cadeira para que se sentasse ao meu lado.

- Acabou a correção do meu livro! – afirmou animado, ajeitando-se na cadeira.

Fiz uma careta desanimada e retruquei: - Eu disse que tinha uma boa notícia, não uma ótima notícia.

- Então me conte: boa notícia já me satisfaz.

- Estou quase terminando a correção, faltam apenas 42 páginas! – revelei sorrindo abertamente.

Celso bateu palmas e com o sorriso malicioso sentenciou: - Daqui a pouco estará livre de mim definitivamente.

- Só se você quiser, pois é você quem deve estar farto de gente louca, mal resolvida e depressiva em busca de orientação.

Ele me deu um beijo na testa e continuou: - Lina, já tá quase no final do expediente. Vamos tomar um chope gelado, pois eu também tenho novidades.

Arregalei os olhos, levantando as sobrancelhas e esboçando um sorriso, enquanto abaixava a tela do computador: - Oba!

Havia muitos bares, botecos e restaurantes perto do escritório, mas Celso cismou que deveríamos ir a um bar de um outro amigo no centro da cidade. Reclamei, protestei, resmunguei, mas nada adiantou, assim levamos mais de uma hora para chegar ao tal bar, que era um local até que bastante agradável, todo decorado com mesas e cadeiras de madeira escura, azulejos azuis claros até a metade das paredes e fotos antigas da cidade penduradas por todas as paredes.

Nos sentamos e antes do primeiro brinde perguntei: - E então a que vamos brindar? Você me disse que tinha uma notícia boa para me contar...

Ele sorriu e piscou os olhos: - A boa notícia, aliás ótima, está chegando...

Segui o olhar de Celso em direção a uma das entradas e vi um homem lindo, uma versão mais nova e arrumada do próprio Celso, então não precisei que ele dissesse mais nada: - Seu filho chegou! – constatei emocionada por ver os olhos do pai brilhando de tanta felicidade.

Pierre, o filho, entrou sorrindo em nossa direção e eu, além de embasbacada por existir um filho tão diferente e parecido com o pai ao mesmo tempo, ainda me peguei pensando em como cumprimentá-lo, pois não me lembrava de nenhuma palavra em francês.

Celso gargalhou e não me poupou: - Lina, você é muito transparente, sabia? Esta sua cara nos diz que você está com alguma dúvida bastante contundente.

Me ajeitei na cadeira, tentando parecer menos boba: - Só estava aqui pensando que não sei falar francês...

Pierre sorriu enquanto se sentava: - Lina, eu falo português. – anunciou levantando o braço para pedir que o garçom lhe servisse um chope também.

Depois de passado o vexame inicial percebi que Pierre não era só parecido fisicamente com Celso, ele também mantinha o mesmo bom humor e o jeitão bacana de quem não possui olhar crítico sobre os outros, então em total clima de descontração ficamos conversando e bebendo mesmo depois do bar ter sido fechado com o aval e companhia do dono do local que dispensou os garçons e como era mesmo um amigo de Celso, se juntou a nós na bebedeira em dia errado.

Não ResistoOnde histórias criam vida. Descubra agora