2006

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Então! Nova história. 

É daquelas com muita treta, cheia de maldade, mas sem mortes!

Espero que aproveitem a jornada.

**

Marcelle

Nós sabíamos que esse dia chegaria, durante os três anos que ficamos juntos, tinha tanta certeza que esse fato era inevitável como o céu é azul. Henrique queria ir para melhor universidade federal de Engenharia do país. E não era perto da universidade que escolhi, nem remotamente, ele estava mais preocupado com sua carreira, porém isso não me incomodava, também queria a mesma coisa. Fui aceita nos três vestibulares que prestei, minha professora dizia que tinha que manter as opções abertas.

Escolhi a universidade mais distante de casa por motivos óbvios. Era longe o suficiente para não ver minha mãe todo dia.

O olhar dele está distante. Prometemos não fazer grande coisa da despedida, mas eis que estamos calados, coração retumbante no peito, a vibração ecoando pelas cordas do meu sistema nervoso, tão imponente que poderia fazer um solo de guitarra para a musica mais pesada de Metal.

Permito que meus olhos contemple cada traço, ansiosa para guardar na memória, seus olhos castanho-claros brilha com o reflexo do sol, seu rosto ainda não cresce barba volumosa, por esse motivo sempre mantém bem feita, seu cabelo sempre no lugar, castanho com reflexos dourados, Henrique foi o garoto que aprendi amar de todas as formas nos últimos anos, não que sejamos iguais, nós somos extremamente opostos, mas ele me entende, respeita tudo que gosto, mas não dividimos os mesmos costumes, mas acredito que é sobre isso amizade, duas pessoas opostas tentando dar certo, tentando ser o que o outro precisa, mesmo quando não concorda plenamente.

― Quer assistir terror em Silent Hill mais uma vez? ― sua voz corta o silêncio.

― Acreditei que seria o suficiente apenas uma única vez ― nossas mãos estão frias, unidas e grudentas ― Vai passar cinco anos sem ser torturados por meus filmes. Está feliz, não está?

― Preferia ver todos os filmes de terror no mundo do que ter que participar desse momento ― Nossas matriculas estão feitas. Cada um vai para um lugar distante, muito por sinal ― Marcelle, eu amo você...

― Eu sei ― interrompo, deixando as lagrimas caírem ― Eu também te amo, mas vai passar rápido, não vai?

― Vai ― não parece ter tanta certeza ― Irei sentir falta de você todos os dias. Saiba que partir para mim, significa perder algo meu, algo que não está mim, porém sinto que me pertence. Lembra das regras?

As regras. As odeio, mas eu as lembro.

― Estamos solteiros ― ele assente ― Qualquer coisa que acontecer nesses anos, ficará lá. Apesar que eu não...

― São regras, Celle ― seu sorriso é nervoso ― O que acontecer nesses cinco anos, precisa permanecer lá quando nos encontrarmos está bem? Não importa se ficará com outra pessoa, não somos tão idiotas assim, não transforme isso naquelas peças de drama aonde pessoas morrem no final. Somos apenas dois jovens adultos, em algum momento os hormônios vão cobrar alguma recompensa.

― Isso não significa que não nos amamos ― assente, foi o que decidimos ― Isso significa que estamos vivos. Está bem. Está tudo bem.

Toco seu rosto, passo meu polegar sobre seus lábios, então me jogo em seus braços, sufocada pelo grito de terror crescendo dentro de mim. Não queria terminar com ele, queria permanecer em seus braços, no seu corpo, queria seus beijos. Sua voz me dizendo coisas idiotas o tempo todo. Nós somos melhores amigos, nos entendemos como o olhar. Nós... isso aqui não deveria estar acontecendo.

― Será como sobreviver ― seu rosto está em meus longos cabelos ― Sem você, garota. Será como apenas sobreviver.

Deixo as lágrimas escorrerem por meu rosto, molhando sua camisa, e desta vez, sinto algumas caírem em meu ombro.

Transbordamos nosso inconformismo pelos olhos. Molhando um ao outro, diante da escolha que tivemos que fazer para nos tornar adultos. O garoto que amei, nós nos amamos por três longos anos, fomos a primeira transa um do outro, foi o primeiro rapaz que vi exatamente como veio ao mundo, e quando esse momento chegou, nós caímos em gargalhadas profundas. Era estranho, vê-lo sem roupa. Mas, logo não era mais. Sempre estive confortável sobre sua pele nua, ele sempre parecia conhecer o mapa da minha. Até mesmo o caminho da minha tristeza, quando alcançava lá, ele segurava minha mão. Fazia-me atravessar a rua, comprava chocolate e provocava alegria.

― Eu te amo, garota ― sua voz ecoou uma última vez por corpo ― Como nunca amarei outra pessoa no mundo. E sinto que preciso pedir perdão, pelos próximos cinco anos que virá.

Eu também.

Preciso pedir perdão a mim, pelos últimos doze anos.

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Como amo trilha sonora, vou deixar aqui a playlist em construção!

  https://open.spotify.com/user/hgl0kjqdc0zij0dygof3777mj/playlist/15PBnfCGlEC6ldXP8QNcQZ?si=Wk1OsZT4RUO56RhtWW-JMw  

Beijos e até a próxima!

Até Agora {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora