04 - Marcelle

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Marcelle

Nunca fiz nada parecido em minha vida. Sinceramente, nem esperei. Mas nesse momento estou segurando o volante com tanta força que poderia quebrá-lo. Minhas mãos estão derretendo e meu estomago parece vazio. Estou ansiosa e feliz. As palavras de Ju ressoam em minha mente, a cada segundo, num ciclo vicioso totalmente inesperado. É como tem que ser, Henrique seguiu em frente sem mim, nunca mais tive nenhuma noticia dele, o prazo acabou e apenas não voltou. Nunca fui investigar o que aconteceu, fiz minha paz com a situação, me xinguei em todos momentos, bebi quando foi necessário, transei com caras aleatórios e pronto. Tudo em prol de matar o sentimento.

Hoje não sei o que sinto. Talvez apenas desgosto.

Quando saí de casa, Laura estava chegando, impediu de Ju ir embora. Então ambas ficaram lá, provavelmente estão bebendo. Rodrigo respondeu minha mensagem avisando que já está descendo. Respiro fundo uma dezena de vezes até que meu celular volta a iluminar o interior do carro.

Vou confiante que é ele, talvez apenas para dizer que não estou em frente ao seu prédio ou cancelar o encontro. Não sei, mas quando abro a mensagem, levo um soco no estomago.

É uma mensagem de Laura.

Laura: Achamos Henrique. Deveria saber.

Uma onda de náusea me atinge em cheio e sinto o mundo girar tão rapidamente que poderia cair sentada, se estivesse em pé.

Eu: Por que procurou por ele?

Respondo imediatamente. Sentindo meu corpo todo doer. É estranho viver em um mundo que sei onde se encontra o Henrique. Gostava do mistério por trás. Talvez ele tivesse tragicamente perdido a memória.

Laura: Ele está solteiro, porém acredito que seja divorciado. Tem uma filha e mora na mesma cidade que seus pais.

Mesma cidade que seus pais.

Mesma cidade que seus pais.

Tento inalar o ar com força, para ter mais efeito e descongelar meu cérebro, mas não funciona. Ouço uma batida na janela do passageiro e dou um pulo súbito. Droga!

Mesma cidade que seus pais.

Ele está lá. No mesmo lugar que fez a maldita promessa e nunca ao menos teve a coragem de dizer: Oi, trouxa. Está vendo como se engana uma pessoa? Otária.

Destravo a porta para Rodrigo e sinto minhas mãos ficarem rígidas com a onda gelada que percorre meu corpo.

― A assustei? ― exibo um sorriso totalmente forçado e ele se inclina sobre mim ― O segundo encontro que concordou, será uma cópia deste atual. Então decidirá se ambos serão os melhores momentos da sua vida ou os piores momentos da sua vida.

Então ele deposita um beijo em meu rosto e volta para a seu banco. Não sei o que responder. Apenas decido que por hoje, só voltarei a meu celular quando estiver em casa. Não quero pensar sobre Henrique.

Meu sangue volta a circular normalmente e agora que estou recebendo a quantidade ideal de oxigênio no cérebro consigo manter uma conversa decente com ele. Está contando que nunca fez nada parecido, mas espera mesmo ser trato como se deve.

Não sei exatamente no que ele acredita, mas parece obstinado a ter o tratamento especial.

Outra pessoa que vive em contos de fadas. Não sei o que significa "ser tratado como deve". Mas sorrio, permito olhá-lo. Sua tatuagem não está mais totalmente exposta por conta da camisa que está usando. Uma camisa lisa, em um tom de cinza claro. Jeans é escuro, noto quando permito olhá-lo, suas mãos estão apoiadas sobre os joelhos, e involuntariamente ele seca de vez em quando. Posso afirmar, que está nervoso. E isso me deixa feliz.

Até Agora {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora