Até Agora {Degustação}

03 - Marcelle

Marcelle

Enquanto Rodrigo narra como anda Lex, Laura sentou-se a minha frente e exigiu que eu passasse protetor solar em suas costas. Continuo massageando o creme com cheiro característico que sempre me remete a este ambiente. Acho quase impossível senti-lo e não lembrar dos dias de sol, inclusive quando éramos crianças. 

Laura está segurando os cabelos no topo da cabeça e me sinto num comercial de televisão. 

Sorrio para o pensamento, minha mente apenas se fechou, mas quando Laura faz uma pergunta para Rodrigo, forço a volta para o ambiente.

― Tem vários meses que fui a casa da minha mãe ― Ela confessa, o olha por segundos, depois volta para frente ― Ela até comentou você sempre estava por lá. Mas como Mariana e eu moramos aqui, é mais fácil minha mãe vim, então evito viajar. Espero que não me ache uma péssima amiga por nunca ter tentado falar com você.

Se fosse eu, acharia. Muito. Que especie de amigo não procura o outro?

Para de tentar projetar sua dor nos outros!

― Acho que somos bem culpados quanto a isso ― ele tem uma voz relaxada ― Fomos vizinhos por anos, não tem problema sumir um da vida do outro por um tempo. Na verdade, precisei mesmo de um tempo de você.

Sua resposta me faz olhá-lo. O quê?

― Mas quando mudou para cá, poderia ter me ligado ― parece mesmo ofendida ― Sabia que estava aqui. Estávamos apenas em universidades diferentes. E jurei que não iria fazer direito, até me assustei quando minha mãe me disse. Achei que fosse, não sei, algo mais...

― Maia, não sou aquele garoto há muitos anos ― ela se vira para ele, ambos sorriem, como se aquele garoto há anos tivesse uma imensidão de significados ― Eu passei em outros cursos, mas optei por direito. Aquele ponto da minha vida já tinha planejado fazer um concurso, foi apenas mais fácil fazer direito.

Algo em comum. Fazer direito foi mais fácil.

― Por causa de Vinicius? ― Rodrigo assente ― Entendo, ele estaria orgulhoso de quem se tornou. Aliás, eu estou orgulhosa do que se tornou.

Seu rosto cora, é um elogio genuíno. Ela realmente o conhece, eles têm aquela energia de amigos para sempre é o que seremos. Apesar da troca intima de palavras. Algo que se assemelhava bastante com o que tinha com Henrique, antes de ele pedir para namorar comigo. Um passado, quando eu tinha metade da minha idade atual.

― Ah, meu Deus. O que ele se tornou? ― Ju ironiza, fingindo curiosidade.

Não sei o motivo, mas acredito fielmente que Laura compartilhou informação com Jéssica e Julia que não dividiu comigo. É um pouco cansativo parecer perdida na própria história.

― Bem, hoje eu trabalho na policia civil ― Ei, isso eu não sabia. Droga! E toda a minha história de assassinato em série? ― Meu irmão foi policial militar. Acho que fazia sentido, entende?

Assentimos. Bem, no meu caso, eu fiz porque era o mais perto do que iria me sentir plenamente feliz, longe da minha mãe. Mas em fato, eu gosto de ter escapado e feito direito.

― Entendo ― Laura muda de posição, amarra o cabelo no topo da cabeça e sorri para mim ― Precisa que eu aplique em você?

― Muito gentil da sua parte ― respondo sorrindo ― Se não for muito incomodo.