14 - Rodrigo

35 11 5
                                    


Rodrigo

A conversa que tive com Marcelle volta a mente, deveria ter ficado calado. Não tenho como exigir nada partindo dela, muito menos dar ultimatos idiotas. Apenas vê-la em conflito por alguém que sabemos que não a merece, me deixa furioso. Que é claramente aonde está o problema, não tenho permissão para estar furioso. Nós dois não temos nada, não posso chegar e tentar inventar regras.

Complicado quando vemos pessoas afundando em situações que são melhores ficarem longe. Outra vez, não é da minha conta. Entretanto, quando a ouvi chorar ontem, foi como se ele tivesse me dado um soco. E ninguém deveria mesmo provocar isso, sou uma pessoa que revida.

Talvez foi isso, o ultimato foi exatamente minha forma de revidar. Somente estou cansando de ver pessoas sendo passageiras em minha vida. Ter tido várias namoradas não significa que viveria eternamente com alguma, mas simplesmente deixava para lá. Em partes porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria me machucar, aqui apenas adiantamos o processo para bem mais cedo. Tão cedo que é bizarro esse tipo pensamento.

Marcelle não me machucou. Esse é o problema. Pois sua vida estava acontecendo bem antes de mim. Mas quem não queria ser o cara que ela prometeria esperar? O que me faz odiar Henrique com mais intensidade e nem mesmo sei qual a cara do indivíduo. É estranho odiar alguém se rosto.

A merda está feita. Não tem como voltar atrás. Espero que ela simplesmente ignore o fato que pareci um cara totalmente assustador.

― Eu queria ler seus pensamentos ― Agora sei o motivo de parecer tão assustador, fui criado assim ― Fica tão lindo pensando.

― Mãe, a ultima coisa que quer ver é minha mente ― ela senta ao meu lado no sofá e pega o controle remoto ― Um lugar terrível para se viver.

― Nada, aposto que só existem unicórnios e arco-íris passando por sua mente ― Sorrio, minha mãe é cheio dessas coisas loucas ― O que tem nessa mente, filho? Por que está encarando a TV desligada?

Podia jurar que estava ligada.

― Depois que perdi o celular, não consegui falar com a Marcelle ― ela se inclina para me ver melhor ― A última vez que conversamos, foi horrível. Perdi um pouco a paciência e falei algo que não deveria.

― O que exatamente você falou? ― A olho, odeio saber que a minha mãe é basicamente a única pessoa no mundo na qual eu confio ― Meu amor, ela...

― Ela estava chorando... ― Até pronunciar em voz alta é estranho ― Algo sobre o ex. Não importa, apenas disse para ela que precisava pensar. E que se ela não viesse ao aniversário de Lex, eu entenderia como um adeus.

Ela fecha os olhos.

― Por que tenho a impressão que gosta mesmo dessa garota? ― sua voz é um sussurro.

― Ela é uma mulher ― consigo dizer, mas sem olhá-la ― Eu não sei. Mas desde que a vi na praia, era como se ela pudesse... Quando olho para uma pessoa, sempre sei quando devo insistir ou não. E quando eu a vi pela primeira vez, era como estivesse vendo meu próprio reflexo. Não é amor à primeira vista ou sei lá no que acredita quando vê filmes.

― Claramente ― desdenha ― O que pode fazer para corrigir esse erro?

― Talvez seja irreparável ― Lex entra correndo e se joga sobre mim ― Estava aonde?

― Fazendo a atividade ― ela aponta para a mãe que está nos olhando com cara de poucos amigos ― Vou lanchar agora.

― Vá sim ― ela beija meu rosto e sai em direção a cozinha.

Vanessa caminha em direção ao outro sofá, sentando, leva uns segundos e nos olha.

― O que fez que talvez seja irreparável? ― Tem um sorriso exposto, mas não parece felicidade.

Não gosto quando Vanessa acha que tenho o dever de compartilhar todos os aspectos da minha vida com ela. Desde ontem venho refletindo sobre cada coisa que aconteceu, cada vez que insinuou que não estou fazendo meu melhor como pai, sendo que tudo que deixo para trás, é por acreditar que não vale a pena ficar entre nós. Mas agora é diferente. Quando voltar no domingo, eu irei até Marcelle, pedirei perdão. Mesmo que ela esteja com Henrique, é o que preciso fazer. Foi uma puta falta de respeito exigir ter direitos.

Só posso estar perdendo a droga da cabeça.

― Coisas do coração ― Minha mãe provoca.

― Achei que depois do último fracasso, tinha abandonado essa vida ― Não faço ideia do que está alegando.

― Vanessa, como um homem de vinte e sete anos vai abandonar a vida de namorar? ― Minha mãe tem um tom ríspido, Vanessa não a olha ― Querida, é exatamente o que digo para você. Está viva. Ele sabe que fracassou, mas ocorreu a chance de acontecer de novo.

Ela toca meu ombro, Vanessa a olha e engole em seco.

― Fico feliz, filho ― Parece que está falando apenas para provocar a nora a sua frente ― Preciso dizer que confie em seus instintos. Além de ser uma mulher linda. Com um ótimo gosto para filmes. Queria conhecê-la. É estranho dizer isso?

― Muito estranho ― Respondo, vendo algum desenho passar na TV ― Parece aqueles filmes de comédia com amor à primeira vista.

― Então chegamos a um consenso ― Touché.

Até amanhã saberemos o quanto pode ter sido assustador o que eu disse. O prazo final para uma reação. Preciso consertar a droga do meu número. É o que irei fazer.

**

Se gostou, deixe seu estrelinha aqui!

Comente o que está achando <3 Beijos e até a próxima!

Até Agora {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora