11- Rodrigo

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Rodrigo

Todo ano minha mãe promete que "no próximo ano não precisa fazer nada". Hoje é próximo ano, estou aqui olhando para um infinito de ornamentos de festa infantil. Se não fosse por Lex, não faria. Meus próximos filhos não farei nada remotamente parecido, a não ser que sua mãe não me envolva em nada.

Só que me faltava mesmo está pensando em próximos filhos, sendo que nem criei uma, direito. Fora de cogitação. Sou apenas um, esse malabarismo não é tão bom na pratica, quanto soa na teoria. É exaustivo ter que dirigir por mais de duas horas, em engarrafamento que transforma tudo em na droga de um caos insuportável.

― Vai ficar apenas admirando a beleza de sua mãe? ― Não me movimento, ela não vai me obrigar a ajudar ― Eu sei, filho. Mas é por Lex.

― Oi, Rodrigo ― Vanessa adentra o quarto da minha mãe e me abraça ― Como está?

A abraço de volta, então Lex se envolve em minha cintura.

― Pai! Você chegou ― Me agacho para ficar na altura dos seus olhos ― Está tuuuudo lindo.

― Está sim! ― ela deposita um beijo em meu rosto e corre até a avó ― Estou bem, Vanessa. E você?

Ela pressiona as têmporas, como se sua cabeça estivesse doendo. Lex continua ao lado da minha mãe, separando alguma coisa que não consegui identificar.

― Cansada, apenas cansada ― assinto. Não há outro modo na vida dela, apenas cansada ― Recebeu as mensagens que enviei sobre a reunião na escola ― Ela me olha ― Lex está com dificuldade, ela não quer obedecer nem a mim, nem a sua mãe. Será que pode... Quer saber, deixar para lá.

Ela vira as costas saindo do quarto. Tudo que preciso mesmo é lidar com uma Vanessa estressada. A acompanho até a cozinha aonde ela está segurando um comprimido e um copo de água. Sigo até onde se encontra. Melhor não ter esse tipo de conversa na frente de Alexia.

― Você quer que eu converse com ela? ― Ofereço. As vezes Lex pode dar trabalho. Acredito que isso já vem pré-definido no código genético.

― Ela está cada dia mais confusa ― Confusa? ― As vezes parece que não conseguirei fazer isso sozinha.

Sozinha? Tenho mesmo que sorrir. Se está alegando que está fazendo tudo sozinha, o que significa largar tudo várias vezes no mês para estar aqui?

― Achei que estávamos fazendo isso juntos ― ela encara os próprios pés, e sorri com desdém ― Vanessa, estou me esforçando, o máximo que posso.

― Eu sei que está ― Então qual o motivo dessa conversa? ― Lex somente precisa de mais.

― Mais o que? ― Lex tem tudo que uma criança pode ter. Tem avó, mãe, pai. Não entendo que está faltando para Lex nesse cenário.

― Foi um erro tentar conversar ― ela vai andando, mas a seguro pelos ombros ― Não posso pedir mais do que se esforça. Sei que não é o pai dela...

― Claro que sou ― ela deixa os ombros caírem um pouco, então a abraço ― Vamos melhorar isso, está bem? O que acredita que Alexia precisa?

Ela passa os braços em volta do meu corpo e solta o ar. Beijo seus cabelos, ela parece mesmo derrotada.

― Primeiro, preciso que converse com ela ― Sua voz está abafada, seu rosto está em meu peito ― Ela sente sua falta quando não está aqui.

Encerro o abraço e dou um passo para trás.

― Eu também sinto ― O que é verdade ― Mas Vanessa, minha vida nos últimos sete anos se resumiu a viagens, a cuidar de Lex. Não tenho como parar de trabalhar ou me mudar para cá. Os planos sempre foram vocês irem, mas se recusa. Lá eu estaria vinte quatro horas disponível para Lex. E sabe que tudo que faço é pensando no bem-estar dela, como criança.

― As vezes eu apenas desejava que as coisas fossem diferentes ― ele toca meu braço, e com a outra mão seca a lágrima que escorreu por seu rosto ― Menos complicadas.

Ela deixa a cozinha, no momento em que minha mãe entra. Seus olhos curiosos me encontram. Não digo nada inicialmente, estou tentando montar esse quebra-cabeça que Vanessa acha que existe. Faço que posso, quando posso. Eu não saio, todas as namoradas que eu arranjei nos últimos sete anos, me deixaram. O que mais posso fazer por elas, que já não fiz?

Caio declarou abertamente que não faria metade das coisas que fiz. Entre estudar enquanto viajava, ser modelo, uma das coisas que mais odiei fazer, mas fiz, tudo por ela. Todo suporte emocional, as conversas, os momentos que esteve doente. Estive em todos os lugares que me mandaram. Reuniões de pais na escola. Apresentação do folclore. Se não está sendo o suficiente, o que mais posso fazer? Sinceramente não sei o que Vanessa espera de mim. Nem tenho como adivinhar.

― O que aconteceu, filho? ― puxa uma das cadeiras que fica na mesa da cozinha.

― Vanessa acha que é pouco o que faço por Lex ― Ouço minha mãe soltar o ar ― O que acha? Não estou me esforçando o suficiente? Algo está acontecendo e eu não sei sobre isso?

― Esqueça o que Vanessa disse ― impõe, rispidamente ― Você faz o que está ao seu alcance. Não pode parar sua vida, porque Vanessa acredita que não está fazendo o suficiente. A escolha de não ir embora partiu dela. Uma escolha que fez consciente.

― Mãe... ― ela joga o pano de prato na mesa.

― Ela sabe que Lex é seu ponto fraco ― O quê? ― Filho, eu amo você. E acho maravilhoso o que faz pela filha do seu irmão, mas não pode viver em função das decisões de Vanessa. Quando se trata das duas, você é cego.

― Mãe, do que está falando? ― ela olha para o teto por uns segundos, depois para mim.

― Diga a Marcelle que amei o filme ― Assinto ― Espero que tenha coragem para convidá-la. Agora vamos almoçar. Estou morrendo de fome.

Não contesto. Apenas vou avisar a Lex que o almoço está pronto. Bem, de estou ela está perfeitamente bem. 

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Até Agora {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora