13 - Marcelle

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Marcelle

A terça voou por entre minhas mãos. Continuamos sem fazer, apenas mudando de posição no sofá. As vezes a TV no mudo, ou canal de fofoca. Quem diria que ficar sem fazer nada era complicado?

Ao menos sabemos que Laura está feliz. Seu celular toca, ela sorri, mesmo depois da brica com Mariana, parece tudo certo em sua vida. Sabemos que ela está conversando com Caio, suspiros denuncia tudo. Eu gosto de vê-la feliz de verdade. Querendo apenas uma pessoa. Apesar que Caio é grande o suficiente para ser dois. Acho que ela adoraria esse comentário se eu fizesse, mas não, estou imensa na onde de preguiça que se alojou em meu quarto.

Estou confortavelmente embaixo do meu edredom. A chuva bate com força na janela, tem alguns segundos que deitei, mas o teto parece mais emocionante do que realmente fechar os olhos. Não tive coragem de enviar uma mensagem para Rodrigo, o dia todo ponderando o quanto seria invasiva fazer isso. Esperei que ele tivesse mais coragem e falasse comigo. Ou talvez, ele apenas não quer falar comigo. Não sei o que pensar exatamente. Sinto a confusão instalada dentro de mim.

É normal ficar confusa por que alguém que você conhece há alguns dias não dá sinal de vida? Isso soa ridículo até em minha mente. Mas sempre juro que há algo errado, odeio não saber as coisas.

Ou eu poderia mandar uma mensagem casualmente perguntando se ele está vivo. Obvio que ele está vivo. Preciso de uma desculpa melhor. Talvez perguntar por Lex? Não, não sou a louca das crianças. Aqui está chovendo, poderia perguntar para ele se lá também está chovendo. Certo, Marcelle. Você tem um problema nas mãos.

Será que se eu continuar pensando nele, o fará me enviar mensagem?

Seria uma espécie de bruxaria. Preciso desistir. Melhor ir dormir.

A luz do meu celular inunda o quarto, meu coração bate descompassado. Espero que seja Rodrigo, mas não é. Meu coração dói de uma forma diferente quando leio o nome.

Henrique: Eu não quero que você me odeie.

Tarde demais!

Henrique: Preciso que fale comigo. Hoje encontrei todas as fotos que tiremos no ensino médio. Queria poder voltar a trás. Até lá, segurar seu rosto entre minhas mãos mais uma vez. Dizer para aquele garoto que ele vai estragar uma das melhores coisas que lhe aconteceu. Foi o que fiz, Celle. Foi o que fiz quando não voltei para você.

Sinto a lágrima quente descendo pela lateral no meu rosto. Não a seco, como faria se estivesse em público, apenas deixo encontrar seu lugar para minha fronha.

As pontas dos meus dedos estão geladas. Resolvo responde, vai doer, mas não muito.

Eu: Não pode mudar o passado. E também não pode interferir no presente.

Henrique: Eu sei que tem namorado. Não é sobre isso que estou falando. Estou falando da garota que dividia o fone de ouvido comigo. Segurava minha mão e as vezes afundava os dedos em meus cabelos. Isso me fazia dormir.

Fecho olhos, porque a memória volta. Eu sinto exatamente a sensação que era tocar seus cabelos. E como ele sempre tinha um sorriso encantador nos lábios.

Henrique: O mundo não é o mesmo sem você. Não levei uma década para notar, apenas tomei coragem para dizer agora. Todos esses anos, criando coragem...

Eu: Você casou.

Henrique: Mas também me divorciei.

Quero socar minha cara.

Até Agora {Degustação}Onde histórias criam vida. Descubra agora