Bordô, JM

ㅡ madrugadas de domingo;

De todos os sussurros cautelosos, eu gostava de quando você me dizia que eu era o seu raio de sol.

Me recordo bem, Jimin, das madrugadas frias de domingo onde tu corria até mim e me usava como uma válvula de escape pra todo o mal que te consumia lá fora. O mundo te engolia dia após dias, mas você lutava com tudo de si apenas para contemplar meu sorriso outra vez.

Você dizia que eu era a sua luz no fim do túnel, mas me permita contar-te que na verdade foi tu que me iluminou.
Irradiando essa tua graça em cada canto desse quarto, impregnando teu cheiro em meus lençóis e consolidando nossas memórias entre quatro paredes.

Desastre, Jimin.

Éramos sincronia imperfeita, rostos pintados de desarmonia e corpos irregulares atuando impecabilidade.

Um belo desastre.

E mais uma vez encostei-me a janela aguardando tua chegada como uma dama casta enamorando o perigo. E quando tua imagem distorcida pela escuridão se formou em minha frente, desejei ajoelhar-me e agradecer aos céus por tamanha beleza criada. Arte em cada parte do teu corpo: o sorriso afável desabrochava aos poucos em tua boca, como descrito pelas mãos engenhosas de Van Gogh. No olhar havia uma mistura engraçada de alívio e encanto. Teus olhos brilharam e naquele momento eu tive certeza.

Me apaixonei mais uma vez.

"Talvez achasse que eu não estava o esperando" Pensei, mas perdi-me entre devaneios assim que me tomou em teus braços. As palavras estruturavam-se de maneira desconexa, acalentadas pelo desespero de uma fala ilógica.

Eu te amo, eu te amo. Era tão simples...

Entretanto, ali dentro eu esquecia de tudo, porque teu abraço tinha efeito semelhante ao de um entorpecente: me vi viciada, escrava do teu afago e nem notei.

Não importa, você me lia com ternura, as inúmeras declarações de amor refugiadas no silêncio fleumático de nossos corações.

Você sabia, e eu também. Não havia nada dizer. Teu beijo segredou-me tudo.