Capítulo 3

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Caminhei, vigilante, pelos corredores do hotel, tentando passar despercebida. Se tivesse sorte ninguém me veria ou talvez não reconheceria. Assim meu emprego ainda estaria seguro. Mas, como o karma é infinito, quando as portas eletrônicas do elevador se abriram, dei de cara com a gerente do hotel.

— Alissie — ela me lançou um olhar de triunfo, olhando para minhas roupas e depois para meus cabelos bagunçados.

— Mariana — disse sem emoção, entrando no elevador.

— O que está fazendo aqui a essa hora, sem o uniforme?

— Eu perdi a hora.

— Eu estava indo justamente procurar por você.

— É mesmo? — eu sorri, fingindo surpresa.

— É. No quarto de um dos hóspedes.

— Você não poderia fazer isso.

— Por que não?

— Porque seria invasão de privacidade.

— Você entrou aqui ontem, bêbada, acompanhada de um dos hóspedes — ela sussurrou, bem perto de mim agora. — Você feriu o nosso regulamento.

— Eu sei. Desculpe.

— Desculpas não vão adiantar.

— Então o que quer que eu faça?

— Por hora você vai ter uma conversa com o gerente geral.

— Isso é inaceitável! — dez minutos depois, o gerente geral dizia, bem na minha frente, com fogo nos olhos. — Você violou todas as regras do hotel! Não foi só uma ou duas, foram todas!

— Eu sinto muito — eu disse, sem conseguir olhar para ele.

— O que disse?

— Que eu sinto muito.

Ele pareceu assustado porque, milagrosamente, eu não revidara ou tentara me justificar. Isso pareceu desarmá-lo e ele abaixou o tom de voz.

— Você não pode sair com um hóspede e sabe disso!

— Eu sei, mas... aconteceu! — ergui os olhos, dignamente, sem demonstrar um pingo de arrependimento. Tudo o que eu não estava agora era arrependida.

— Dessa vez passa, Alissie, mas...

— Não! Dessa vez não passa nada! Vocês vão me demitir, não vão? — cruzei os braços, ameaçadora.

— Estamos te dando outra chance para...

— Obrigada, mas eu não quero. Eu violei as regras, não violei?

— Sim, mas...

— Passo aqui na segunda para assinar os papéis! — levantei-me da cadeira e fui até a porta.

Eles não disseram nada e nem poderiam porque eu estava certa, afinal. Odiava que me dessem carta branca pelas coisas. Eu sempre fazia coisas erradas, mas nunca aceitava não pagar por essas coisas. Se ninguém me punisse, eu mesma o fazia.

Por isso me demiti naquele dia e por isso estava fugindo do cara mais legal que conhecera na vida, exatamente como fugi da minha cidade natal sem dizer para onde ia. Porque eu não merecia nada de bom. Porque o que eu fizera não tinha perdão. E eu me puniria para sempre.

Cheguei à minha casa amparada pela garoa e pela névoa que caía sobre a cidade naquela manhã. Eu morava em um conjunto de prédios feitos para universitários, no centro e, quase sempre, me deparava com alguns garotos voltando para casa de manhã, quando eu ia para o trabalho. Mas, naquele dia, era eu quem estava voltando. Suspirei ao pensar no sermão que ouviria pelas próximas quatro horas.

A canção que te escreviOnde histórias criam vida. Descubra agora