Capítulo 2

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Peguei a mão que Ben me ofereceu para andarmos juntos pelo caminho de pedras até a porta. Segui-o, passando pela porta verde de madeira e percebendo, com espanto, que a casa não era muito diferente do meu apartamento. A escassez de móveis e a ausência de qualquer decoração sofisticada me deu a sensação de estar em casa, o que me fez sorrir e baixar um pouco a tensão.

Havia uma escada carpetada, com um corrimão dourado que já tinha sido brilhante um dia. Talvez na década de 20. Havia um lustre enorme no teto, com apenas uma lâmpada acesa em um dos cinco bocais, os outros quatro estavam vazios. Exatamente como seria se aquela casa fosse habitada por mim.

Nada de estátuas de Vênus de Milo ou algum quadro de Monet. Nenhum piano de cauda ou tapetes caros no chão. Só uma casa simples e limpa, sem exageros caros ou banais.

Ben tirou meu casaco e o pendurou em um cabide pequeno de madeira. Haviam vários casacos ali e isso fez meu estômago congelar por um instante. Quantas pessoas eu iria conhecer naquela noite? Quantas delas me avaliariam?

—Não repare a bagunça, ok? Ainda estamos ajeitando as coisas por aqui. —Ele sorriu, pegando minha mão e me puxando para a sala de estar.

Uma música vinha de algum lugar da casa, e logo reconheci it must have been love de Roxette. Na sala de estar haviam dois sofás simples de couro sintético marrom e uma mesinha de centro de frente para uma televisão de 42 polegadas que estava desligada.

—Boa música —sorri para o Ben, que foi me puxando para o interior da casa.

—Minha mãe gosta de cozinhar ouvindo clássicos. —Ele continuou me puxando, passando pela sala de jantar pequena e indo para a cozinha.

—Mais uma coisa sobre a sua mãe. — observei.

—Olá, mãe do Ben, como vai? Você gosta de Roxette! — ele imitou minha voz, enquanto me puxava para outro cômodo. —É, pode dar certo. —Ponderou.

Haviam algumas fotos espalhadas em quadros na parede da sala de jantar e uma cortina de renda na janela, além de uma mesa de vidro grande, mas não tinha nada mais do que isso.

—Toc, toc? —Ben disse um pouco mais alto.

—Você sabe onde eu estou, Ben! —A mãe dele gritou e logo a vi, vestindo um conjunto de moletom cinza e um avental vermelho por cima.

Eu não podia acreditar que, depois de ter imaginado algo bem próximo ao elenco de Desperate Housewifes, não havia considerado um tipo menos estereotipado de mãe. Estava meio decepcionada comigo mesma e meus preconceitos.

Aquela mulher podia muito bem ter sido amiga de Courtney Love ou Rita Lee, em algum momento da juventude. Tinha o cabelo bem curto tingido de um rosa choque único, usava as unhas pintadas de preto e suas orelhas eram repletas de argolas e pequenos brincos de prata. Ela era tão jovem! Como eu podia nunca ter considerado essa possibilidade?

—Era para você ter dito "Quem bate"! —Ben protestou.

—Eu odeio essas piadas idiotas — ela revirou os olhos e bebeu um gole de vinho.

—Mãe, essa é Lissie — ele me puxou para seu abraço.

—Muito prazer, sou Barbra. Você é uma garota linda! —Ela sorriu, dando-me um beijo na bochecha e um abraço. —Ben não me contou nada a seu respeito. Eu achei que ele estava inventando uma garota para...

—Mãe, tem cerveja? — perguntou ele, constrangido, abrindo a geladeira.

—Claro que tem. Você não me deixou esquecer um segundo dessas bebidas — ela franziu o cenho e depois voltou a me olhar. —Você é latina, não é?

A canção que te escreviOnde histórias criam vida. Descubra agora