Efeito Gravitacional

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Enquanto que na minha última narração, terminei contando que Rita estava radiante, nesta começo afirmando que toda aquela energia que brilhava, apagou-se. Tudo começou quando já era fim do meu expediente e eu fui encontrar com ela no SAC para nós podermos ir embora: quando cheguei lá, nenhum sinal dela, o lugar estava mais vazio que de costume. Então, fiquei rodando pelo mercado até esvaziar, perguntando aos meus colegas que organizavam os produtos para fechar o dia se algum deles tinha visto a Rita. Foi aí que uma que carregava uma caixa de detergentes passou reclamando que uma menina magrinha e "meio machucada" trombou com ela indo pro banheiro e Pietra estava junto.

Sem pensar, fui indo na direção dos banheiros; aguardaria ali de fora até alguma outra notícia, mas logo as duas saíram andando devagar. Pietra segurava uma caixinha de remédio e Rita tinha um copo de água pela metade na mão, seu rosto estava pálido e sua testa franzida, os ombros encolhidos. Assim que abri a boca para perguntar o que ela tinha, Pietra me encarou firme e disse decidida.

— Só esse remédio não é o suficiente.

Rita precisava de um médico, urgente. Peguei as bolsas delas e um colega que já estava de saída e morava perto do hospital nos ofereceu carona. Parecia até que tinha surgido do céu, nem conhecia o rosto dele direito. Porém, havia ainda niterói e seu engarrafamento. Tenho certeza absoluta, que não só eu, mas todos naquele carro vermelho, compartilhavam de um ódio com todas as suas forças contra o fato de todo mundo acabar de trabalhar no mesmo horário e o sistema nos obrigar a trabalhar para não morrer de fome. Para quê nos impedir de ter mais ruas vazias e também um helicóptero para chegar mais rápido em qualquer lugar?

Rita, só sabia que sentia dores porque gemia de vez em quando, de resto, ninguém conseguia entender o que dizia.

Chegando no hospital, esperamos uns dez minutos até sermos atendidos. Assim, ela fez alguns exames e tomou alguns remédios na veia até dar meia noite, depois disso foi liberada. Meu irmão buscou a gente no hospital e deixou Pietra perto da casa dela. Não houve tempo para entender o que aconteceu. Só haviam plantonistas estressados no hospital e quando chegamos em casa, ela precisava dormir. Mais tarde quando fomos tomar o café da manhã, ela ainda parecia abatida, estava bem quieta.

— Está melhor? — Perguntei enquanto passava mais manteiga no pão. Ela assentiu, mas não me convenceu. — O que vai ser hoje? Correr uma maratona ou fazer a trilha do Corcovado de joelhos?

Isso era uma brincadeira com a resistência da criatura para todo pedido que eu fizesse no sentido de não fazer muito esforço. Mas ela apenas me encarou e negou com a cabeça. Dei uma mordida feroz no pão e tive um suspiro em resposta.

— Eu estou cansada, que horas chegamos em casa ontem? — Falava concentrada em misturar o açúcar ao café com a colherzinha.

— Uma e pouca. — Respondi com uma ligeira preocupação me assolando.

— O que? Por que? —Parou com a mexida e arregalou os olhos, alternando o foco entre Alex e mim.

— Porque meu carro não consegue andar mais que aquilo para que nós saíssemos do hospital meia noite e cinquenta e chegássemos aqui antes de uma hora. — Ele respondeu direto, mas sem soar grosseiro...

— Hospital? — Concordamos e ela continuou quieta por uns instantes. Então, olhou para a xícara de café na sua frente e depois para a tela do celular de Alex que mostrava as horas, sete e treze. — Não consigo lembrar do hospital...

— Lembra do resto do mercado? Do que lembra de lá? — Interroguei na pressa, sentia meu coração acelerado. Já não é bom uma pessoa não recordar do dia anterior, isso dobra quando a pessoa em questão nem lembra do resto da sua vida.

Estrelas PerdidasOnde histórias criam vida. Descubra agora