Radiação Solar

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Já haviam passado alguns dias desde que Rita saíra do hospital e nós estávamos morando no mesmo lugar. A rotina da casa ajustou-se de forma rápida e tranquila para acolhê- la. Toda manhã, acordava com um cheiro delicioso diferente; minha nova colega de residência era quem normalmente preparava o café da manhã agora, mesmo eu insistindo que ela precisava descansar, e não ficar nos mimando. Sempre me rebatia dizendo que o que mais queria era gastar energia, além de sentir que sua ajuda era mais que necessária. Não demorou para que eu desistisse de discutir, até porque a menina realmente ajudava; assim que chegou deu uma geral no meu quarto, que me deixou até um pouco envergonhado. Porém não posso negar que fiquei satisfeito, ainda mais que suas comidas só podiam ter sido receitas feitas por deuses das cozinhas. Ela levava jeito para isso, sei lá como.

No restante dos dias normais, a rotina seguia com eu indo trabalhar e meu irmão alternando entre a faculdade e passar um tempo com a Rita. Sim, eles estavam virando amigos. Confesso que fiquei bastante incomodando desde o início; ele estava sendo mais do que pedi. Tive medo dele magoar ela no futuro, de alguma maneira, ou estar lhe ajudando a conquistar alguma coisa que eu não estava sendo capaz de auxiliar. E claro, me irritava como eles pareciam cúmplices na hora de fazerem brincadeiras contra mim.

Quando a escuridão revestia o céu e meu turno acabava, encontrava com Rita no hospital nos dias de suas visitas do tratamento, e íamos juntos para casa. Geralmente, passávamos grande parte da noite conversando e zoando como fazíamos antes da alta; só que pior. Afinal, agora tínhamos um apartamento inteiro só para a gente fazer o que quiser, esquecendo muitas vezes do meu irmão que estudava e do incômodo que era o barulho alto para os vizinhos.

Chegando o primeiro final de semana, resolvi apresentar Rita para Kaio e Pietra. Marcamos numa praça de alimentação e quando chegamos, liguei para eles e descobri que os abusados ainda estavam saindo de casa. Desliguei sem me despedir igual alguns personagens da televisão quando estão irritados. Um item riscado da lista de coisas para fazer antes de morrer.

Mais ou menos uma hora depois, a "pipirada" apareceu. Usava uma calça jeans rasgada, uma camisa preta do Twenty One Pilots e os cabelos castanhos presos num rabo bagunçado de lado.

— Precisou se arrumar muito para usar a calça velh...? — Comecei a zoar, parando quando percebi o modo que ela me fuzilou com o olhar, me sentindo péssimo. Não lembrava da última vez que vi aquelas íris escuras direcionarem tanto veneno. Achei melhor mudar de assunto. — Rita...

— Sou Pietra, então você que é a amiga misteriosa do Benjamin? — Me cortou e abordou ela com um sorriso simpático e um abraço apertado.

Rita riu e a cumprimentou mais tímida. Acho que gostou de Pietra, porque depois que a segunda me excluiu da rodinha, as duas engataram numa conversa sobre aleatoriedades animadamente até Kaio chegar. O sem-vergonha havia cortado os cachos, usava uma bermuda marrom e uma camisa com estampa de skatista, o que era irônico pelo fato dele ter trauma de skates.

— E aí, Ben 10! E aí, Pipoca! — Me cumprimentou com um soquinho, depois fez o mesmo com Pietra.

— Não, cara. Pipoca não! Essa foi horrível. — Ela balançava a cabeça com o rosto franzido, enquanto o restante ria. Então, puxou Rita de leve pelo braço. — Essa é Rita, minha nova melhor amiga. — Comentou para zoar com nossa cara.

Ele ficou algum tempo a observando com uma expressão que não consegui decifrar e percebi que isso fez as bochechas dela ruborizarem. Senti o clima ali ficar sufocante, estava todo mundo desconfortável até ele voltar a abrir a boca.

— Sou Kaio, prazer! — Sorriu e apertou sua mão. Ela retribuiu sem sorrir e ele continuou. — Como está sendo morar num ringue?

Dessa vez, meu rosto que ficou quente. Ela me olhou em dúvida e eu dei a ideia da gente pedir logo algo para comer. Nós acabamos por pedir comida japonesa e batatas-fritas. Mais para o final do dia, Rita já estava mais solta, rindo, zoando e debatendo como até então fazia só quando estava comigo. Fiquei feliz que os três estavam virando amigos.

Estrelas PerdidasOnde histórias criam vida. Descubra agora