Sombras do Passado

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Imagina que você está de boa: sucesso na entrevista; ônibus chegando rapidinho e ainda vazio, um dia de Sol não muito quente... Coloca o fone e põe no aleatório para ouvir. E aí, a primeira música a tocar é uma da Riley.

"Uma piscadinha

Um beijinho

E você já é meu

Todo meu

Porque eu sei conquistar

Ah ah ah

Porque eu sei encantar

Ah ah ah"

Você vai ouvindo essa voz e música sem defeitos até chegar em casa, porque seu gosto musical é bom. O motorista acha que está numa corrida de fórmula um, então rapidinho você está na porta da sua casa. Chegando lá, desliga o som. Mas continua escutando a Riley cantar. Alguém deve ter colocado uma música dela no som alto. Tudo tranquilo e bonito até pisar na cozinha e perceber que a melodia estava saindo da boca da Rita.

Pausa para o surto. A RITA ROUBOU A VOZ DA RILEY?! Ou então a Riley roubou a voz da Rita?! Quem roubou a voz de quem? Eis a questão, um problema digno para estudar entre filósofos. Porém, eu ainda achei que conseguia resolver sozinho, pois eu tinha certeza que se alguém tivesse roubado a voz de alguém, essa pessoa seria a Riley, porque nos últimos meses descobri que a Rita é um ser humano incrível! A outra, enquanto isso, parando para pensar fez a gente esperar horas debaixo do sol quente para no final, só os privilegiados conseguirem enxergar a sujeita. Mas depois eu falo mais sobre isso. Vamos voltar ao surto que eu dei que foi acalmado, duplicou, triplicou quadruplicou e não lembro mais o resto quando ela me contou todas as memórias do passado que vieram em sua cabeça.

Me senti péssimo por tudo que ela passou. Ela é uma pessoa tão maravilhosa com tudo e todo mundo! O pouco que lembrou comprova que ela não merecia passar por aquelas críticas, desgastes e abandono. Eu não fazia ideia de como ajudar ela, por isso acabei indo para o quarto pensar. Quando estava na cama, meus pensamentos me levaram ao único show que fui da Riley.

Era de tarde, mas o calor estava um absurdo, ninguém mais aguentava esperar naquela fila que eu não conseguia ver o início, nem o fim. Fomos eu, Kaio e mais uns três amigos da escola. A gente estava tão cansado que até pensava que ir para aula que matamos seria mil vezes melhor que estar ali. Minha mãe não parava de me ligar para perguntar se o show já tinha começado e reclamar que tinha gastado muito dinheiro para uma bonita já super bem de vida atrasar. Enfim, depois de horas, abriram os portões e eu lembro até hoje da cena.

— Anda, passa por cima, filhote de boi!

— Não tem como, tá engarrafado! Não tá vendo, animal?!

— Dane-se, cria asa e voa, radiação!

— Olha aí, a gente já tá quase chegando. Não tem paciência, né? Eu hein, parece um pincher, só falta tremer, porque o ódio já tem.

Após esse diálogo cheio de carinho e amor, entramos para perceber que já tinha uma multidão na frente e só dava para enxergar a parte de cima do palco. A decepção aumentou ainda mais quando o amor da minha vida na época demorou mais muito tempo para começar o show. No momento, eu amei tudo o que ela fez, mas agora lembrando, percebo que a gente mais cantou que ela — o que não me deixou achar a conexão menos linda na hora—porque ela basicamente só dançava. E eu e meus amigos não conseguimos ver nada. O máximo que enxerguei foi na hora que ela passou o microfone para um burguês safado lá da frente cantar com uma voz de quebrar os tímpanos uma letra nada a ver. Sem ironia, ainda achei aquele show mágico.

Só naquele momento comecei a pensar que talvez ela fosse obrigada a dançar, sendo que amava mesmo compor e cantar. Naquele dia mal soltou a voz, talvez fosse porque ela estava exausta dos tantos shows que faz por mês. O atraso pode ter sido por isso também, se o único descanso era em um banco de ônibus das viagens entre uma cidade e outra mesmo. Droga, que vida horrível!

Estrelas PerdidasOnde histórias criam vida. Descubra agora