As serpentes gêmeas

A escolhida

-Uma criança que nasce com o coração corrompido pelo desejo de ter as graças céus,jamais encontrará a paz carregada nas linhas do destino e sim,o desespero encontrado nas chamas do purgatório.

Elizabeth abriu os olhos lentamente.
Esperava encontrar uma prisão com o guarda lendo aquele poema horripilante antes de levá-la para a execução.
Mas na verdade se deparou com uma grama macia e úmida,um lago cristalino,árvores gigantes e belas,um céu noturno estrelado com uma linda lua cheia e...uma linda mulher!

Ela usava um vestido longo e perfeitamente branco,seus braços e pescoço eram adornados por delicadas jóias feitas de pérolas,seu cabelo ia até as costas como uma cachoeira encaracolada e branca e sua cabeça estava enfeitada por uma coroa de flores azuis.
Em seu rosto estava um par de grandes e brilhantes olhos azuis,cílios longos,um nariz fino e perfeito,sardas delicadas,uma boca pequena com dentes brancos e brilhantes e um queixo fino.
Elizabeth piscou várias vezes para se convencer de que aquele ser sentado a sua frente era real.

-U-Um anjo?-perguntou sonolenta

O ser deu uma risadinha e se virou de volta para a jovem.

-Não eu sou uma ninfa-e afastou um pouco o cabelo,revelando orelhas delicadas porém pontudas.

-Ah-ficou deitada mais um pouco aproveitando aquela sensação relaxante até que se lembrou de seu sonho-O-onde eu estou?!C-cade as criaturas?!Eu vou voltar pra casa?!

A ninfa fechou o livro e se levantou,estendendo a mão para que Elizabeth pudesse se levantar também.

-Você está no meu jardim,e não se preocupe,isso é um sonho mas você se lembrará de todos os detalhes quando acordar em sua cama como sempre.E quanto às criaturas,bem...digamos que elas ficaram presas no seu pesadelo e não possam nos alcançar aqui.

-E você quem é?

-Como eu já disse eu sou uma ninfa mas não uma qualquer.Sou uma ninfa com poderes de realizar o desejo das pessoas.

-E foi por isso que você me salvou?!Para realizar meu desejo?!-Elizabeth perguntou com os olhos brilhando de esperança.

-Não exatamente-sua expressão mudou de esperançosa para desapontamento.-mas não fique assim.Eu te salvei por que preciso de você para realizar um desejo.

-De mim?E-eu não sei o que dizer!De tantas pessoas no mundo eu fui a escolhida para ajudar uma ninfa a realizar um desejo!-sua voz estava com um tom alegre e surpresa-Mas...por que exatamente eu?

A ninfa se abaixou para segurar a mão e acariciar a cabeça da jovem.

-Tenho certeza que eu li um poema para você que dizia que crianças que tem o coração corrompido pela vontade de ter tudo só encontraram o desespero contido nas chamas do purgatório.

-S-sim mas,meu desejo é ser livre.Não é parecido com querer algo muito valioso apenas para si?-a ninfa fechou os olhos e lançou um sorriso de compaixão para a garota.

-Eu acho que não tem nada de errado um passarinho desejar abrir as asas de vez em quando.Então você vai me ajudar minha criança?-Elizabeth corou e sorrio.

-Sim!-a ninfa sorrio e se levantou novamente.

-Ok então vamos fazer uma pequena viagem no tempo.Você vai precisar segurar minha mão ok?-Elizabeth assentiu e se aproximou segurando a mão da ninfa

A mesma fechou os olhos por um tempo e então,de repente,gritou:

-KURU!!!

Do nada,as águas do rio começaram a se aproximar da ninfa lentamente,mas logo começaram a girar em uma velocidade surprendente.
Quando as águas pararam,Elizabeth abriu os olhos mas,não encontrou nada diferente só o mesmo jardim de antes.

-Ah,senhorita ninfa,nós estamos no lugar certo?-perguntou Elizabeth timidamente-É que nada mudou.

A ninfa deu mais um de seus sorrisos encantadores para a jovem.

-É claro que não mudou minha criança.Isso aconteceu a uma semana atrás.Agora,preste atenção,nossa prejudicada chegará daqui a pouco.-Elizabeth assentiu novamente.

De repente,ouviu-se um barulho nas árvores e arbustos perto do lago.
Delas saíram uma mulher encapuzada de preto da cabeça aos pés.

-É ela a pessoa prejudicada?Mas ela não parece nenhum pouco com alguém que precisa de ajuda e sim com alguém que fugiu de casa sem ninguém saber.

-Olhe com atenção.-então o olhar de Elizabeth se dirigiu para a boca da moça.

Estava cheia de sangue.
Não apenas a boca,suas mãos também estavam com aquele líquido vermelho que manchava o jardim.
Elizabeth recuou para trás.
Não se recordava da última vez em que vira sangue então aquela visão a deixou surpresa e desconfortável.

-Não se preocupe ela não fará nada com nós porque não pode nos ver.Apenas preste atenção nas palavras Dela ok?-engolindo em seco,Elizabeth assentiu e voltou sua atenção relutante para a moça.

Ela se abaixou na grama e,com o máximo de cuidado,repousou as mãos sobre a capa preta para não manchar aquele chão tão glorioso e perfeito.
Ela ficou alguns minutos em silêncio,e então,finalmente falou:

-Bem,eu sei que um monstro como eu não tem direito de pedir muita coisa,sei também que venho aqui desde criança e sempre peço pela mesma coisa e ela nunca se realiza,mas...-lágrimas brotaram dos olhos da moça e sem conseguir se controlar,ela começou a chorar-Por favor,eu só quero ser amada novamente!-depois de algum tempo limpando as lágrimas (sem revelar o rosto) e soluçando,a moça se acalmou e foi embora com o vento soprando atrás dela.

-Nem eu sei muito sobre ela.-disse a ninfa após um tempo de silencio-Como ela disse,desde criança ela vem até o meu lago fazer o mesmo pedido.Mesmo após as pessoas tendo perdido sua fé em mim,ela continuou vindo aqui.Eu só realizo desejos quando vejo pureza ou arrependimento naqueles que me procuram e por isso,só agora,eu resolvi fazê-la feliz.-sem perceber,Elizabeth estava chorando.

-Eu não sei por que exatamente eu tenho que ajudar essa moça mas,eu não quero ver ela assim!-disse limpando as lágrimas.

A ninfa sorriu mais uma vez para ela.

-Então está decidido você vai me ajudar.Bem,já está na hora de você voltar para o seu mundo.Fique atenta pois mandarei um sinal quando for sua vez de agir ok?

-Ok!

A ninfa entendeu a mão na direção de Elizabeth e falou:

-Tsuihō Suru!

As águas começaram a se aproximar de Elizabeth novamente e quando ela voltou a si,estava na sua cama em seu quarto.
O relógio marcava 05:00.
Ao invés de tentar dormir pelo cansaço ou pegar seu livro para ler,Elizabeth abraçou o travesseiro e com Felicidade,sussurrou:

-Eu sou a escolhida!