Capítulo 17

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Ao sentar-me no chão fechei meus olhos. Mesmo que eu não visse Lauren ou Ana preferiria fazer isso de olhos fechados, não enxergava as mais mesmo assim a vergonha de ter que contar essa história mexia com meus sentidos.

_ Se vocês querem saber o que aconteceu comigo e Zola eu vou contar primeiro.- Respirei fundo e comecei.

Isso não é uma história de achar com facetas complicadas e toda a enrolação

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Isso não é uma história de achar com facetas complicadas e toda a enrolação. Me envolvia sendo uma garota tímida que aos 12 anos estava com receio do seu primeiro beijo, que nem verdadeiro seria. Foi na época em que participei por um mês dos episódios de uma série juvenil. Era era Megan, que na história se apaixonava por Sean, que foi recíproco na série.

Eu fiquei sabendo duas semanas antes que o fim da minha participação seria em uma cena de beijo. Eu lembro que ao ler aquilo lágrimas caíram do meu rosto por que a ideia de qualquer contato com uma pessoa dessa forma, mesmo sendo falso era recluso em mim. Eu tinha medo e receio de qualquer contato. Eu não queria me apegar e me tornar igual a minha verdadeira  mãe, ou pior, meu pai, alguém refém de um sentimento cruel.

Recordo-me de entrar no closet do quarto e passar a tarde chorando dentro de um dos armários. Passei tanto tempo naquele closet que horas depois Zola me encontrou e o jeito como falava que as pessoas estavam preocupadas com meu sumiço fazia sua voz entoar com aflição.

_ Porque você tá aqui dentro chorando?- Ele me perguntou depois de algum tempo.

_ Não quero falar sobre isso.

_ Achei que já tivéssemos passado dessa fase de segredos.

Seria inútil eu continuar rebatendo Zola, então eu resolvi entregar o script que nesse momento já estava encharcado de lágrimas.

_ Leia o final da página.- Eu disse, Zola que também tinha aprendido braille segundo a regra que os irmãos sempre aprenderam as mesmas coisas nessa casa passou seus dedos por entre as linhas do texto.

_ O que está te preocupando é a cena...do beijo?- Ele diz rindo um pouco.

_ Não é pra ter graça!- Digo irritada tomando os papéis dele.

_ Me desculpa Alana, eu não sabia que isso era um problema tão grande pra você...

_ Não é só o beijo...é o que ele representa, eu não sei se estou preparada para isso.

_ É uma cena, não vai durar mais que 5 segundos.

_ É fácil para você falar, aos 14 anos nossos pais já foram chamados quantas vezes no colégio por causa de encontrarem você com garotas atrás da escola?!

Ele solta um fino riso.

_ Eu também ando treinando cenas.

_ Pare de ser idiota, eu não consigo. Você sabe que eu tenho problemas de contato e aproximação.

_ Eu sei bem, você só deixou Bridget te abraçar depois de dois anos com ela.

_ Eu acho que vou pedir pra sair desse programa antes...

_ Nada disso! É uma grande oportunidade para você, não pode deixar ela assim.

_ E o que você propõe então?

_ Treino.

_ Eu não vou beijar laranjas e essas coisas.

Ele ri e dessa vez soa alto como se realmente dissesse algo hilário.

_Não é esse treino. Na verdade...também é esse treino, mas estou falando que você tem problemas não só com isso, você não consegue se manter calma perto das pessoas muito próximas ou abraça-las por muito tempo e eu vejo quando você começa a tremer quando isso acontece por muito tempo.

_ E o que você quer que eu faça?

_ Temos duas semanas, eu vou ajudar. Você me conhece então deve ser mais fácil, vamos com coisas simples e depois você resolve seu beijo no programa.

Eu recordo de termos discutido muito aquela ideia no dia, porém eu acabei cedendo. Não era nada muito estranho na época, coisas do tipo eu ter que ficar abraçada com Zola por 3, 5, 10 minutos... algo fácil para ele, porém sempre lembro da sensação do meu corpo tremendo quando ficava abraçada. Com o tempo se facilitou e nós também avançamos as atividades, coisas que eu mesma pedia como dar as mãos para ver quanto tempo eu aguentava. 

Era agradável ficar com ele, no fim das semanas eu me achava preparada para a cena e, por fim eu pedi que ele me beijasse.

Nós estávamos no quarto dele e ele estava no computador jogando algo sobre fazer cestas de basquete e eu estava lendo meu script. Memorizei o nervosismo na minha mente e até hoje nunca me senti tão nervosa quanto aquele dia. Eu cortei até 5 internamente e soltei um forte ''você pode me beijar?!''

O som das teclas do computador cessaram na mesma hora e por alguns segundos o quarto permaneceu em um completo silêncio. Ouvi a cadeira dele se virar.

_ O que você disse?- Ele pergunta com um tom baixo.

_ Eu quero que você me beije.- Eu digo em um tom firme.

_ E por que você tá me pedindo isso?!

_ Se eu vou fazer isso, eu quero que primeiro seja com alguém que eu conheça e confie, não com um estranho.

Ele ri e não sei se é por graça ou algo do tipo.

_ Não sei se deveríamos fazer isso.

 _ Nós não deveríamos- Eu digo amaçando os papeis nas minhas mãos-...mas eu preciso saber disso antes.

Ele se levanta e senta comigo na cama dele. 

_Ok, nos vamos fazer isso.- Ele diz por fim.

Meu coração acelera, eu sei que o pedido foi meio, porém parte de mim achava isso uma loucura e algo que ele jamais concordaria.

_Ent...então-eu digo ao perceber que estou gaguejando-_ Então vamos fazer isso, mas como um beijo técnico, sem língua e sem atrevimentos!- Eu digo firme e ouço ele rindo.

_ Ok maninha, minha mãos estão amarradas em mim.

Eu me ajeito na cama de uma forma que sei que estou de frente para ele. Mantenho meu rosto sempre firme a frente dele e um longo silêncio permanece entre a gente. Sua mão vai até uns fios de cabelo que estavam na frente do meu rosto e ele cuidadosamente coloca eles atrás da minha orelha. 

Logo após um toque suave em meus lábios. Um beijo técnico, sem língua mas eu fico impressionada como ele é bom nisso, agora sabia por que ele sempre estava com garotas atrás da escola. Em um minuto eu estou pensando nisso, em outro, eu já não penso em mais nada. Minha língua atreve-se a mergulhar nos lábios dele e ele aceita. Suas mãos tocam meu rosto e o beijo torna-se intenso, o abraço ou suas mãos não são estranhas para mim.

E foi assim que começou essa loucura. Com os meses passando, o toque dele cada vez mais comum em mim. As nossas fugidas pela casa e nossos ocasionais encontros. Foram dois anos entre períodos que estávamos próximos ou afastados. Eu gostava de Zola, mas não como ele gostava de mim, e apesar de tudo, ele gostava menos de mim do que Ana gostava dele e isso me afetava, então um dia ele apareceu no meu quarto falando que já estava cansado de termos que nos esconder e que devíamos revelar nossos sentimentos. Nós brigamos por que eu não queria que as pessoas soubessem, que Ana soubesse daquilo, eu lembro de Zola falar que se nós nos amávamos devíamos contar a verdade. Senti como se fosse muda aquele dia e quando a voz finalmente saiu eu pronunciei: ''Mas eu não te amo''. 

E eu estava sendo verdadeira.

Num piscar de olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora