Branco e Preto

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O vento bagunçava seus cabelos e os fazia cair em seus olhos castanhos claro. Esperava sentada no banco de madeira podre em frente à lagoa pois adorava a vista, o céu alaranjado com leves tons de rosa, o sol se expandindo sobre a água e se escondendo bem ali, para voltar apenas no outro dia. Poucas nuvens, mas o vento fazia dançar as folhas que jaziam no chão elevando-as quase na altura de seus olhos.

Usava seus tênis prediletos de corrida, a única coisa que fazia para não parar de vez no sedentarismo e engordar dez quilos em apenas uma semana por comer, ler e dormir o dia todo.

Esperou até as primeiras estrelas aparecerem, era seu momento predileto, depois de correr uma hora, sentar no velho banco e ver o sol se por todos os dias.

Deixou, então, o local para trás com uma leve despedida, e caminhou pelas ruas, sem rumo, sem destino.

Foi o vento frio que a fez voltar para casa. Depois de quase meia hora caminhando, abriu a porta da sala com a chave reserva e entrou.

Não era grande coisa, mas podia chamar de seu. Viu o sofá azul com espumas brancas escapando nos lugares rasgados, sua estante onde estava equilibrado precariamente os portas retratos da família, o balcão com meia duzia de maçãs e logo a frente a cozinha.

Encontrou o corredor que a levava ao quarto completamente escuro, como deveria estar, e acendeu a luz do quarto para se fascinar com sua absoluta bagunça, os tênis jogados no chão, livros em cima da cama, o guarda roupa aberto e a escrivaninha abarrotada de cadernos.

Suspirou ao lembrar do cesto no banheiro, que provavelmente estaria transbordando de roupa suja.

Só teria mais uma semana até recomeçar as aulas na faculdade, e se preocupar com isso agora não adiantaria, estava atrasada com algumas leituras e precisava devolver os livros na biblioteca.

Tomou um banho quente, colocou pantufas de coelhos nos pés e sentou no ultimo dos três degraus da porta da frente, uma xícara de café fervendo ao lado, uma agenda para rascunhos e um livro no colo.

Seu marca texto laranja estava ali mesmo sem poder usa-lo. Seu nariz ficando vermelho pelo frio. Os lábios quentes pelo café.

Limpou os óculos para começar, mas a cena no fim da rua chamou sua atenção.

Um casal discutia enquanto caminhava rápido na sua direção. A mulher gesticulava e seus cabelos brancos como a neve, que deveria cair na madrugada, balançavam junto. O homem, alto de cabelos pretos, como a noite fria, olhava bravo para ela.

Passaram direto, Liv pensou que deveriam estar discutindo algo no relacionamento ou coisa assim, não entendia muito bem esse tipo de problema.

Passado vinte minutos, o homem voltou, aborrecido, tremia de frio.

- está tudo bem? - perguntou Liv, sentindo-se mau pelo garoto, usava apenas uma jaqueta para se distanciar do vento gelado.

Ele bufou, cruzou a rua e sentou no degrau abaixo dela.

- Lis! Sempre querendo saber de tudo! Nunca inicie um diálogo dissertativo com aquela garota.

- talvez vocês só não conseguem chegar em um acordo.

- eu sabia que não daria certo morarmos juntos. Tinha certeza!

Seus cabelos ruivos se soltaram do gorro vermelho que usava. Ela colocou uma mexa atrás da orelha. Os olhos do garoto acompanharam o movimento.

- sou Terry - disse, admirando seus olhos.

- Liv - respondeu, mesmo constrangida.

Que diabos ele estava fazendo olhando para ela daquele jeito? E a namorada?

- acho melhor voltar, acabamos de nos mudar para a rua de trás, ainda não conhecemos nada por aqui.

- e o que trouxe vocês para um dia ameno e uma noite fria?

- faculdade - respondeu, simplesmente.

Se despediu, disse que precisavam se encontrar de novo e subiu a rua novamente.

Liv terminou o café e foi se deitar sem dar tanta importância ao acontecimento.

Xícara de CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora