Bolo de Caneca

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Teria sido uma noite desastrosa, se não tivessem se divertido tanto. 

A noite tomara um rumo diferente do que Liv estava acostumada. Era a primeira vez que ela se divertia realmente naquela cidade. Desde que começara a faculdade, se tornou ainda mais centrada, séria e focada do que era. Pela primeira vez, sentia-se parte de algo, sentia-se confortável o suficiente para rir jogando os cabelos para trás, sem medo do som da sua risada, que achava estranhamente feia.

- A sua risada é muito fofa - Terry disse rindo.

A essa altura, já haviam conversado sobre tudo. Faculdade, ensino médio, família, amigos que ficaram para trás. Terry contou como conhecera cada uma das pessoas que lhe apresentou na festa, e muitas histórias eram tão engraçadas que faziam sua barriga doer.

Tentaram pedir pizza, porém o entregador não poderia sair enquanto a tempestade de neve não passasse. Estavam se virando com pipoca de leite ninho e Cheetos.

Mesmo com tanta risada, Terry estava preocupado com Lis. Ela tinha toda uma política muito séria contra bebidas alcoólicas, porém não impedia que bebessem em suas festas, estavam todos se embriagando, vomitando em seguida, e bebendo mais. 

A festa não acabaria enquanto a neve estivesse descendo do céu feito maná, e todos os convidados provavelmente estavam destruindo tudo o que encontravam pela frente. Terry torcia para que não tivessem encontrado seu quarto, sua coleção de livros de Sherlock Holmes, e suas camisetas dos Bleatles.

Naquele momento, ambos estavam olhando para duas canecas espumantes, que mergulhou o micro-ondas de Liv em misturas homogêneas de chocolate, algo que Terry dissera que sabia cozinhar.

-bolo de caneca, não é? - Liv disse, rindo, estavam com os olhos saltados de espanto - realmente fácil.

-eu juro que a Lis faz! Parecia ser tão simples! - ele reclamou.

Liv riu, vestia sua camiseta do Batman de todos os dias, e não se envergonhara de usa-la. Calças de moletom e meias listradas de vermelho e branco. Terry havia pegado meias emprestadas da garota, listradas em um degrade de azul, e ele lhe perguntou se só tinha meias listradas. Era coisa de colecionador, e ela se sentiu a vontade para contar tal segredo a ele.

O garoto caminhou até a janela, olhou para a espessa espuma branca que caía lá fora e suspirou. 

A menina caminhou até ele e encostou a mão em seu ombro, tentando acalma-lo. 

-vamos - ele disse, se virando com um meio sorriso, Liv encarou aqueles dentes retinhos que provavelmente em algum momento da vida tinham visto um aparelho - vamos terminar o filme. 

Deitados, cada um em uma ponta do sofá, dividiam um cobertor. Ele não parecia se importar com as espumas que escapavam, e Liv sorriu ao pensar no aconchego. As vezes seus pés se encontravam levemente. Era o suficiente para que Liv sentisse os pelos dos braços se arrepiarem.

Terry ainda vestia o jeans da festa, ela estava apreensiva, sentia que o tecido o estava incomodando. Precisava deixá-lo confortável, mesmo que as vezes, quando percebiam proximidade, o clima entre os dois deixava ambos sem jeito.

Buscou a maior calça de moletom que tinha e jogou em cima dele. 

-anda, pare de reclamar e vista... - ela já havia oferecido o moletom, mas por educação, acreditava ela, ele tinha recusado - Essa neve pode não parar... - Liv engoliu em seco ao dizer - e talvez precise passar a noite aqui, no meu sofá... - fechou os olhos e suspirou - precisa estar confortável. 

Levantando-se resmungando, Terry riu, mas obedeceu a garota ruiva de braços cruzados em sua frente. 

Ele demorou no banheiro. Liv sentia seus pulmões apertarem de preocupação. Caminhou no corredor vários minutos, até sentir a insegurança tomar conta de si.

-Terry? - chamou, batendo na porta.

-uhm? 

-está tudo ok? - sentia-se vulnerável ao perguntar. 

- me sinto um pouco... Envergonhado...

Esperou segundos silenciosos, e a porta se abriu.

Liv era razoavelmente menor que ele, e a barra da calça tocava-lhe as canelas. A garota riu tanto que se sentou no chão, sem ar. Mechas ruivas cobriram seu rosto, a gargalhada ecoava por todos os cômodos.

Ele riu também, levemente corado, porém depois de um momento só a observou. Seus olhos transparentes como gelo acompanhavam cada movimento da menina. 

Sentou-se de frente para ela, encostado na porta do banheiro, suas pernas chegavam ao outro lado, a largura do corredor era pequena. O chão de madeira falsa estava frio, mas nada torturante.

Pouco a pouco Liv se recuperou, e criou coragem para tocar a pele do garoto, onde a calça não cobria. Pousou a mão ali, e acariciou dentro da meia com o indicador, de um lado para o outro, indo e voltando, rodando em círculos.

-você já namorou antes Liv? 

A pergunta veio como fogo, queimando seus órgãos, rápido, subitamente, a fazendo corar. Estava pensando no que a palavra antes significara.

-ah... Não.

-mas já amou alguém? 

-eu... Não sei realmente... Acredito que o amor e todas as coisas derivadas desse sentimento são mais simples do que realmente acreditamos, e nós, como ótimos seres humanos, complicamos todas as situações. Tornamos tudo difícil e doloroso.

Terry se impulsiona para frente, aproximando seu corpo do dela. Sentiu seu coração disparar.

-então o amor é fácil para você?

-eu diria simples - Liv argumentara. 

O garoto levou seus dedos ao rosto dela, acariciou a bochecha, passou pelo queixo e colocou uma mecha de cabelo acobreado atrás da orelha.

- Eu diria fácil - revidou, voltando a acaricia-la, admirando o rosto angelical a sua frente.

-é? - ela perguntou vagarosamente. Havia fechado os olhos para sentir o toque por completo. Suspirando fundo, sentia leves tremores, lentamente via o espaço sumir e nada existia além de seu coração palpitando rapidamente.

-é - Terry afirma com firmeza, seus olhos insistiam em passear no rosto dela. 

-por que? - o polegar do menino de cabelos escuros tocou levemente seus lábios, e ela suspirou.

-porque é muito fácil amar você.

E quando percebeu, os lábios de Terry tocavam os seus, e ele tinha gosto de brisas novas, de facilidade. 

Xícara de CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora